A posição adotada por Lula frente à chacina do Complexo da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, é um erro colossal. O governo, ao não se posicionar com firmeza contra mais um massacre promovido pelas forças de segurança, acaba contribuindo para o avanço de uma política genocida.
A chacina da Penha e do Alemão é o novo Carandiru. Um massacre planejado, executado pelas forças do Estado, com mais de 130 mortos e um claro objetivo de intimidação e controle das comunidades pobres. Não há qualquer justificativa possível. Não se trata de “combate ao crime”, mas de terrorismo de Estado.
Lula deveria ter, no mínimo, exigido uma investigação rigorosa, que servisse para punir todos os envolvidos neste crime contra o povo. Deveria ter ido à televisão nacional denunciar a barbárie e afirmar que sob seu governo não se admitirá a repetição de crimes como o do Carandiru. Mas não. Quando veio alguma palavra, foi tímida, genérica, protocolar – como se a chacina fosse uma fatalidade e não um ato deliberado do Estado policial.
A pressão da direita, da imprensa golpista e do aparato policial-militar sobre o governo é real, mas ceder a ela é suicídio. O governo está sendo levado a aceitar a repressão como moeda de troca eleitoral, como sinal de “moderação” para setores conservadores que jamais o aceitarão. É uma ilusão, uma armadilha, uma política de beco sem saída.
Se o objetivo é disputar espaço com figuras como Cláudio Castro, Tarcísio de Freitas ou Jair Bolsonaro na política repressiva, o resultado será desastroso. A esquerda jamais conseguirá convencer de que é mais eficiente na repressão que a extrema direita. Afinal, se é para matar pobre na favela, a direita já tem seus candidatos.
A realidade é que o crime é apenas um sintoma do drama social brasileiro. A repressão nunca resolveu e nunca resolverá esse problema. A única política eficaz de segurança pública é aquela que enfrenta a miséria. Enquanto a população for mantida na miséria, o tráfico vai continuar existindo. E a repressão apenas reforça esse ciclo.





