A morte do ex-presidente do 39º presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, no último domingo (29), o fez ser homenageado por uma série de chefes de Estado e, principalmente, pela imprensa capitalista. Alguns setores da própria esquerda decidiram elogiar o ex-presidente norte-americano, repetindo a falácia de que Carter seria um grande democrata.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou, nas suas redes sociais, uma homenagem póstuma ao ex-presidente dos EUA. “Jimmy Carter foi senador, governador da Geórgia e presidente dos Estados Unidos. Foi, acima de tudo, um amante da democracia e defensor da paz”, escreveu Lula.
O presidente brasileiro, portanto, repetiu a mentira de que Carter foi “um amante da democracia e defensor da paz”. Isso, porém, não condiz com o histórico verdadeiro do presidente norte-americano, que financiou as milícias religiosas mujahidin no Afeganistão, iniciando uma guerra por procuração contra a antiga União Soviética.
Esses grupos afegãos, em seguida, fundariam, com Osama Bin Laden, a famosa Al Qaeda, cujo braço sírio, com apoio dos EUA, recentemente deu um golpe de Estado na Síria, derrubando o governo nacionalista de Bachar al-Assad.
O “amante da democracia e da paz” também foi responsável pelos criminosos acordos de Camp David, quando, pela primeira vez, um governo árabe, na ocasião o Egito pró-imperialista de Anuar al-Sadat, reconheceu a legitimidade do governo colonial e racista de “Israel” — facilitando, assim, a política da entidade sionista de limpeza étnica dos palestinos.
Segundo Lula, porém, Carter seria um democrata porque “no fim dos anos 70, pressionou a ditadura brasileira pela libertação de presos políticos. Depois, como ex-presidente, continuou militando pela promoção dos direitos humanos, pela paz e pela erradicação de doenças na África e na América Latina”.
Essa “pressão”, no entanto, não ocorreu em amor à “democracia”, mas diante da situação calamitosa do imperialismo norte-americano na década de 1970. A crise de estagflação que marcou a década de 1970, além de importantes derrotas do imperialismo no Vietnã, na Revolução dos Cravos de 1975, nos movimentos de libertação da África e nos levantes operários ao redor do mundo, obrigou os EUA a, no final da década de 1970, através da presidência de Carter, iniciar uma détente.
Isto é, para salvar seu domínio mundial, o imperialismo teve de aliviar a pressão mundial para que não houvesse prejuízos maiores, diante da gigantesca crise política que existia no mundo. Por isso, os EUA passaram da fase de promover ditaduras militares ao redor do mundo para o momento das democracias — estas também, como se vê no caso da África, estabelecidas através de uma série de golpes de Estado.
Carter, portanto, era um representante dos bandidos imperialistas e apenas cumpria seu papel no cenário internacional. Como qualquer político imperialista, não passou de um criminoso a serviço dos grandes bancos monopolistas. Lula, no entanto, seguiu elogiando:
“Carter conseguiu a façanha de ter um trabalho como ex-presidente, ao longo de décadas, tão ou mais importante que o seu mandato na Casa Branca. Criticou ações militares unilaterais de superpotências e o uso de drones assassinos. Trabalhou junto com o Brasil na mediação de conflitos na Venezuela e na ajuda ao Haiti. Criou o Centro Carter, uma referência mundial em democracia, direitos humanos e diálogo. Será lembrado para sempre como um nome que defendeu que a paz é a mais importante condição para o desenvolvimento”.
Por detrás de toda essa fachada de humanitarismo, na verdade, Carter e seu centro atuaram como garantidores dos interesses do imperialismo nos países pobres. Na África e na América Latina, eles atuaram como braço auxiliar da política externa dos EUA e por isso, em 2002, ele foi agraciado com o prêmio dado aos criminosos imperialistas, o Nobel da Paz.