Programa de Índio

Programa de Índio traz balanço do Acampamento Terra Livre

ATL ocorre esvaziado e politicamente dominada pela forte burocracia identitária

Na última terça-feira (9), foi ao ar o Programa de Índio, transmitido ao vivo pelo canal Lives da COTV e pelo canal do Coletivo Terra Vermelha. Apresentado por Marcelo Batarce, o programa girou entorno da recém-ocorrida edição do Acampamento Terra Livre (ATL) em Brasília.

ATL: um evento esvaziado pela burocracia

Marcelo iniciou destacando que, apesar da tradicional mobilização em torno do ATL, a edição deste ano evidenciou o esvaziamento político do evento, que se tornou cada vez mais controlado por setores da burocracia identitária, ligados a partidos como o PSOL, PT, Rede e à própria Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), além de ONGs e do Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Segundo os relatos de companheiros do Coletivo Terra Vermelha e das lideranças Guarani Kaiowá presentes em Brasília, como a comitiva do Aty Guasu, o ATL não ofereceu espaço real para debates e ações concretas de organização da luta. “Fala-se contra a tutela, mas a tutela ideológica se mantém forte”, afirmou Batarce, denunciando o clima de cooptação e a ausência de voz para os indígenas ligados à luta real nos territórios.

Repressão e boicote à luta indígena

O programa exibiu vídeos e depoimentos como o do companheiro Magno de Souza, impedido de embarcar rumo ao ATL por supostos motivos burocráticos. Batarce destacou que esse tipo de manobra ocorreu em diversos estados: “índios combativos ficaram de fora do evento. A desculpa foi sempre a mesma: ‘não estavam na lista’”.

Ainda durante o ATL, uma manifestação pacífica em frente à Câmara dos Deputados foi violentamente reprimida pela polícia legislativa, com bombas de gás e outros instrumentos repressivos sendo usados contra os manifestantes. Logo após o encerramento do acampamento, a Polícia Militar do Distrito Federal realizou uma reintegração de posse contra o povo Munduruku, evidenciando o completo desrespeito das autoridades ao movimento dos direitos dos índios.

Intervenção do Aty Guasu na Câmara

Durante o programa foi transmitido o discurso de Daniel Lemes, representante do Aty Guasu, durante intervenção na Câmara dos Deputados. Ele denunciou a tentativa de negociação dos direitos dos Guarani Caiouá por meio da “mesa de conciliação” imposta pelo ministro Gilmar Mendes, classificando-a como uma armadilha genocida. “Fazer mesa com genocidas é como dar um tiro na própria cabeça”, afirmou.

Daniel entregou uma carta intitulada “Para além da bala e das bombas”, expressando a indignação contra a política de negociações que busca transformar direitos constitucionais em moeda de troca.

Avanço do latifúndio e abandono institucional

Batarce relatou ainda a precariedade extrema em que vivem os  índios, com falta d’água, repressão policial, prisões arbitrárias e assassinatos. Casos recentes citados incluem:

• Prisão de 25 índios Pataxó na Bahia;

• Decapitação de um indígena Guarani no Paraná;

• Ataques sistemáticos do latifúndio contra os Guarani Caiouá no Mato Grosso do Sul.

Batarce relatou como o governo federal se omite completamente, com o MPI e o Ministério da Justiça sem oferecer respostas concretas às demandas. “A situação só não é pior porque ainda há luta real na base”, afirmou.

Próximas mobilizações

O programa encerrou com o anúncio de novas atividades organizadas pelo Coletivo Terra Vermelha para o Dia do Índio (19 de abril), nas cidades de Dourados e Amambai, com foco em ações de denúncia e panfletagem, e não apenas celebrações folclóricas. Veja o programa completo aqui:

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