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Síria

‘Resistência síria’ ou ‘resistência’ sionista?

Vergonha para a esquerda não é o apoio aos esforços de Assad para resistir à agressão estrangeira, mas sim a capitulação diante das mentiras imperialistas

No artigo A queda de Al Assad é uma vitória para o povo sírio e para os oprimidos do mundo!, o órgão do PSTU Opinião Socialista se presta a “denunciar” as forças políticas que apoiaram o governo sírio como suposta força anti-imperialista revela uma confusão política profunda e, mais ainda, uma subordinação evidente à propaganda do imperialismo. Diz o artigo do partido morenista:

“3. Denunciamos os partidos “socialistas”, “comunistas” e bolivarianos que apoiaram a ditadura de Assad como uma suposta “força anti-imperialista”, e que agora lamentam a sua queda. Espalharam calúnias contra a queda de Al Assad, alegando ridiculamente que teria sido uma conspiração entre os Estados Unidos e Israel. Estes amigos do imperialismo Russo e dos seus aliados “esquecem-se” que o regime de Assad nunca disparou um único tiro contra o Estado sionista de Israel durante mais de meio século. E se Israel tivesse orquestrado a queda do regime, porque é que o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel denuncia os novos governantes de Damasco como um “gangue terrorista”? E se os sionistas dariam a bem vinda ao novo governo, por que é que a sua força aérea está lançando centenas de ataques contra alvos civis e militares na Síria para desarmar as forças revolucionárias? Na verdade, o Estado israelita do apartheid teria nitidamente favorecido a continuação da existência do regime de Assad. Não é segredo que ele manteve laços estreitos com o aparelho de inteligência de Assad, como vários meios de comunicação, como o Middle East Eye e até mesmo o reacionário sionista Israel Hayom, relataram recentemente. Será sempre uma vergonha para o estalinismo que os dois partidos ‘comunistas’ sírios tenham feito parte do regime de Assad até ao amargo fim e apoiaram a sua guerra contrarrevolucionária contra o povo sírio desde 2011.”

Primeiro, é preciso expor a distorção central. A guerra contra a Síria não foi um levante popular espontâneo. Desde o início, os chamados “rebeldes” eram financiados e armados por potências imperialistas, incluindo os Estados Unidos, “Israel”, Turquia e monarquias do Golfo, como Arábia Saudita e Catar.

Esses países não têm qualquer compromisso com a liberdade ou os direitos do povo sírio. O objetivo real sempre foi desestabilizar um governo que, independentemente de suas contradições, manteve uma política de soberania nacional na região.

Quando Opinião Socialista afirma que a queda de Assad não foi uma conspiração entre os EUA e “Israel”, ignora convenientemente o histórico de intervenções imperialistas em todo o Oriente Médio. A mesma política foi usada para justificar a destruição do Iraque, da Líbia e de outros países. Alegar que “Israel” preferiria a manutenção de Assad no poder é ignorar o fato de que a desestabilização de Estados nacionais na região é uma estratégia histórica do sionismo e do imperialismo.

A fragmentação da Síria em pequenos enclaves enfraquecidos e controlados por forças pró-ocidentais é claramente mais vantajosa para “Israel” do que lidar com um governo centralizado que, mesmo sem disparar contra o sionismo, mantém apoio a forças como o Hesbolá.

A acusação de que os comunistas sírios teriam participado de uma “guerra contrarrevolucionária” contra o povo é uma inversão da realidade. O que ocorreu na Síria desde 2011 foi uma guerra de agressão promovida por mercenários e grupos terroristas, como o Estado Islâmico e a Frente al-Nusra, financiados por potências imperialistas e seus aliados regionais. O governo sírio, apoiado por aliados como o Irã, o Hesbolá e, sim, a Rússia, resistiu a essa ofensiva para preservar a soberania do País.

A suposta legitimidade das “forças revolucionárias” cai por terra quando analisamos suas ações no terreno. Elas não lutavam por democracia ou direitos populares, mas por uma agenda de desestabilização que favorecia os interesses de potências estrangeiras. A presença constante de ataques aéreos de “Israel” contra a Síria é prova de que o objetivo era enfraquecer o Estado sírio e, com isso, facilitar a dominação imperialista na região.

Por fim, a crítica aos comunistas sírios e a outros partidos de esquerda que apoiaram Assad ignora que a política de alianças no Oriente Médio nunca é simples. Defender o regime sírio contra uma agressão imperialista não é o mesmo que endossar incondicionalmente suas políticas internas. O apoio ao governo sírio foi, acima de tudo, um ato de resistência à dominação estrangeira e ao avanço do imperialismo.

A posição da Opinião Socialista, ao invés de ajudar o povo sírio, acaba legitimando a política imperialista. A verdadeira vergonha para a esquerda não é o apoio aos esforços de Assad para resistir à agressão estrangeira, mas sim a capitulação diante das mentiras imperialistas e a adesão ao coro daqueles que trabalham para destruir os poucos Estados nacionais que ainda tentam manter alguma soberania no Oriente Médio.

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