No último sábado (11), forças ucranianas lançaram um ataque com nove veículos aéreos não tripulados (VANTs) kamikaze contra a estação compressora de gás Russkaya, situada na região de Krasnodar, na Rússia. Segundo o Ministério da Defesa em Moscou, o atentado visava interromper o transporte de gás natural pelo gasoduto TurkStream, que conecta a Rússia à Turquia e, por meio deste, abastece diversos países do sul da Europa.
De acordo com o exército russo, o ataque foi completamente repelido. Um dos drones, no entanto, conseguiu causar pequenos danos em um medidor de gás, prontamente reparados pela equipe da instalação. Não houve interrupção no fornecimento do combustível fóssil.
O Crêmlin classificou o ataque como parte de uma política ucraniana de “terrorismo energético”, reforçando as denúncias de tentativas de sabotagem por Quieve contra a infraestrutura energética russa. Dmitry Peskov, porta-voz do governo russo, afirmou que “Quieve segue essa linha de terrorismo energético” e destacou a importância do TurkStream no abastecimento de gás natural a países como Hungria, Sérvia, Bulgária e Grécia.
Inaugurado em janeiro de 2020, o gasoduto TurkStream possui uma capacidade anual de 31,5 bilhões de metros cúbicos. A sua extensão submarina, que cruza o Mar Negro, totaliza cerca de 930 km, conectando a Rússia à Turquia. A estação Russkaya desempenha um papel central, atuando como ponto de saída em solo russo. O gasoduto possui duas linhas principais: uma que atende diretamente o mercado turco e outra que transporta gás para países da União Europeia e dos Bálcãs.
O TurkStream tem sido utilizado como uma alternativa à rota tradicional que passava pelo território ucraniano. Em janeiro deste ano, o governo do ditador Vladimir Zelenski se recusou a renovar um contrato de trânsito que permitia a passagem de gás russo para a Europa, piorando a crise energética no continente. A decisão foi duramente criticada por países como Hungria e Eslováquia, que acusaram a Ucrânia de agravar deliberadamente a escassez de energia por razões políticas.
Reações internacionais
O ministro das Relações Exteriores da Hungria, Peter Szijjarto, considerou o ataque um ato de agressão contra a soberania energética de seu país. “Esperamos que todos respeitem a segurança e a operabilidade dessa rota de transporte essencial”, afirmou Szijjarto em uma publicação nas redes sociais.
O governo húngaro tem se tornado cada vez mais hostil à política do imperialismo de agressões à Rússia. Budapeste argumenta que as sanções contra a Rússia e o envio contínuo de armas para a Ucrânia têm causado mais prejuízos econômicos ao bloco europeu do que ao próprio Crêmlin, sem alterar o conflito. Além disso, a Hungria tem reiterado que o TurkStream é indispensável para sua segurança energética, sendo uma das poucas rotas de abastecimento confiáveis em meio às tensões na região.
Na União Europeia, o ataque fracassado também gerou preocupação. Anna-Kaisa Itkonen, porta-voz da Comissão Europeia para energia e clima, declarou que qualquer ameaça à infraestrutura energética é motivo de alerta. “Estamos monitorando de perto a situação e suas implicações para o fornecimento de energia aos nossos Estados-membros”, afirmou em coletiva de imprensa.
Análise Internacional
Na última edição do programa Análise Internacional, transmitido todas as segundas-feiras, 12h30, no canal do Diário Causa Operária (DCO) no YouTube, Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), e o analista militar Comandante Robinson Farinazzo, comentaram sobre o ataque.
Para Farinazzo, “em termos militares, a Ucrânia já perdeu essa guerra”, denunciando que se trata de um ato de “puro terrorismo”.
“Estamos vivendo na era do terrorismo de Estado, vide ‘Israel’ em Gaza. Os EUA sempre fizeram terrorismo de Estado, mas agora está escancarado e eles vendem como se fosse uma política normal”, afirmou.
Já Rui Costa Pimenta caracterizou a tentativa de atacar o TurkStream como uma expressão da política belicosa do imperialismo em relação à Rússia:
“A Ucrânia perdeu a guerra. Mas não se trata, simplesmente, da Ucrânia. Acho que esse tipo de operação mostra que o imperialismo continua disposto a enfrentar a Rússia nessa questão ucraniana. Como a situação no campo de batalha é complicada, eles partiram para a sabotagem econômica. Acho que, apesar de toda a situação catastrófica que as forças armadas ucranianas estão vivendo, o imperialismo vai manter esse cadáver funcionando durante um longo período. Temos que ver o que vai acontecer com o Trump no governo, mas sabemos que uma coisa é o Trump, outra é o Estado norte-americano. Fica, então, um ponto de interrogação sobre o que vai acontecer na Ucrânia.”
Disputa entre Hungria e Ucrânia
A relação entre Hungria e Ucrânia já vinha se deteriorando. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, vai contra a pressão de outros membros da União Europeia para apoiar Kiev de forma irrestrita, enquanto o ditador ucraniano o acusa de “minar a unidade do bloco europeu” ao manter um diálogo com Moscou.
A Ucrânia, por sua vez, tem acusado a Hungria de fortalecer a Rússia ao se opor às sanções e buscar acordos energéticos bilaterais com Moscou. Recentemente, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia chegou a sugerir que a Hungria estaria atuando contra os interesses do bloco europeu e que Quieve poderia “ocupar seu lugar” na União Europeia, em uma clara provocação diplomática.
Aumento da crise energética
A tentativa de ataque contra o TurkStream ocorre em meio a uma crise energética enorme na Europa, consequência do bloqueio imposto pelos Estados Unidos contra a Rússia. A crise é particularmente grave em países como a Eslováquia, que dependia do gás russo transportado por meio território ucraniano.
Robert Fico, primeiro-ministro eslovaco, criticou a política ucraniana, denunciando que Zelenski utiliza a crise energética como ferramenta de chantagem política. “Zelenski perambula pela Europa mendigando e chantageando na tentativa de obter mais apoio militar”, afirmou Fico, que também afirmou que o governo ucraniano intensifica a crise energética de maneira deliberada ao cortar o trânsito de gás para a Europa.