Na terça-feira (22), a Verkhovna Rada (parlamento ucraniano), aprovou lei colocando sob supervisão do supervisão do Procurador-Geral o Escritório Nacional Anticorrupção (NABU) e o Gabinete do Procurador Especial Anticorrupção (SAPO), agências criadas pelo imperialismo em 2015, isto é, após o golpe de 2014 (Euromaidan). Sua criação se deu como parte de reformas judiciais que visavam aumentar o controle do imperialismo sobre a Ucrânia, para utilizá-la contra a Rússia. A lei foi sancionada no mesmo dia por Vladimir Zelensqui, presidente ilegítimo da Ucrânia.
No dia anterior à aprovação da lei, agentes do aparato de repressão do Estado ucraniano realizaram buscas em larga escala no Escritório Nacional Anticorrupção, sob o pretexto de que a agência estaria transferindo informações confidenciais para a Rússia, conforme noticiado pelo canal de comunicação Rybar.
Ainda na terça-feira, após a aprovação da lei, protestos de milhares de pessoas ocorreram em algumas cidades da Ucrânia. Nas cidades de Kiev, Lvov, Odessa e Dnipro, os manifestantes se concentraram nas respectivas praças centrais. Semelhantemente ao que ocorreu durante as manifestações que fizeram parte da revolução colorida do Euromaidan, as palavras de ordem dos manifestantes eram pró Europa e a entrada da Ucrânia na União Europeia, contra a “corrupção” e também contra Zelensqui.
Os protestos contaram com a participação do prefeito de Kiev, o ex-boxeador Vitaly Klitschko, que, em declaração à Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade, portal de notícias financiado pelo imperialismo, afirmou que “é importante para mim estar aqui. Nossos parceiros criaram e financiaram os órgãos anticorrupção e, nos últimos dez anos, fizeram de tudo para garantir seu funcionamento. E agora, as autoridades querem tirar sua independência“. Klitschko foi um dos principais políticos ucranianos envolvidos no Euromaidan, tendo sido cotado, após o golpe, como possível candidato presidencial pelo imperialismo
Antes mesmo da lei ter sido aprovada, Grupo dos Sete (G7), bloco imperialista, declarou que estava “acompanhando de perto os acontecimentos de hoje no NABU, incluindo a investigação de vários funcionários do NABU por supostos crimes. Reunimo-nos hoje com o NABU, temos sérias preocupações e pretendemos discutir esses acontecimentos com líderes governamentais”
Na quarta-feira, a deputada trumpista Marjorie Taylor Greene disse perante a Câmara dos Representantes dos EUA que “Zelensky é um ditador que, aliás, impediu as eleições em seu país por causa desta guerra“. Em seu X, ela disse “Bom para o povo ucraniano! Tirem-no do cargo!”, acrescentando que “os Estados Unidos precisam PARAR de financiar e enviar armas!!!”.
Neste mesmo dia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, esteve em contato com Zelenski, ocasião em que “transmitiu suas fortes preocupações sobre as consequências” da nova lei e solicitou “explicações“. Conforme o assessor de Zelenski, Von der Leyen teria dito que ao presidente ilegítimo que a legislação “corre o risco de enfraquecer fortemente as competências e os poderes das instituições anticorrupção da Ucrânia”, bem como teria apelado ao “respeito pelo Estado de direito” e à “luta contra a corrupção”.
Em declaração no mesmo sentido, o porta-voz da Comissão Europeia, Guillaume Mercier, declarou que “a União Europeia está preocupada com as ações recentes da Ucrânia em relação às suas instituições anticorrupção” e que o bloco imperialista “fornece assistência financeira significativa à Ucrânia, condicionada ao progresso em transparência, reforma judicial e governança democrática“
Friedrich Merz, chanceler alemão, e Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, ambos representantes do imperialismo, também se manifestaram reprovando a lei contra as agências.
Na quinta-feira, após dois dias de protestos e os alertas de representantes do imperialismo, Zelensqui recuou e submeteu ao parlamento um novo projeto de lei, para garantir a independência e os poderes das duas agências “anticorrupção” controladas pelo imperialismo. Em uma publica no Telegram, o Escritório Nacional Anticorrupção afirmou que as duas agências “participaram da preparação do texto e pedem à Verkhovna Rada da Ucrânia que adote a iniciativa do presidente como base e em geral o mais rápido possível”.
A situação foi comentada por Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO) nesta quinta-feira, durante o programa Análise Internacional. O dirigente diz achar que “a Ucrânia está entre uma revolução colorida e uma ditadura aberta” e que “as forças que apoiam a revolução colorida são fracas, pois elas não contam com apoio da maior parte do imperialismo”.
Pimenta também avalia que “uma tentativa de acabar com o regime por meio da mobilização pode levar a um fechamento total do regime”, e também que os protestos expressariam “uma divisão no interior do imperialismo que a gente não está vendo claramente”.




