Turquia planeja estabelecer duas novas bases militares na Síria. Estas bases serão usadas para treinar novas forças armadas no país, segundo divulgado por fontes árabes anônimas ao jornal turco Turkiye no dia 3 de fevereiro.
“A Turquia treinará o exército do país em duas bases militares que estabelecerá na Síria”, afirma o relatório.
“A Turquia e a Síria assinarão um acordo de defesa conjunta. Segundo o acordo, que deve ser assinado em breve, Ancara ajudará a Síria se Damasco enfrentar uma ameaça repentina”, acrescentou.
De acordo com relatórios, o exército turco treinara o exército sírio, assim como os seus pilotos, com o objetivo de criar uma nova Força Aérea Síria. O novo acordo estipula que Ancara abrigará 50 aviões F-16 nas duas novas bases até que a Força Aérea Síria esteja finalizada. O objetivo do acordo seria “prevenir ataques a soberania do país”.
O relatório aponta, ainda, que as autoridades sírias teriam pedido que drones, radares e outros sistemas eletrônicos de guerra fossem instalados ao longo da fronteira síria com ‘Israel’.
Após assumir a presidência da Síria, Ahmad al-Sharaa anunciou que todas as facções armadas, incluindo o grupo mercenário Hayat Tahrir al-Sham (HTS), do autoproclamado presidente, seriam dissolvidas e incorporadas às instituições do Estado, inclusive o exército. Diversos grupos que chegaram ao país, após 2011, para tentar derrubar o ex-presidente Bashar al-Assad – incluindo chineses, albanos, turcos e jordanianos – ganharam posições no exército sírio. Diversos destes novos oficiais eram originalmente membros do ISIS ou da Al-Qaeda.
Este relatório surge um dia antes de Sharaa (anteriormente conhecido como Abu Mohammad al-Julani), ex-chefe da Al-Qaeda e do ISIS, realizar a sua primeira visita oficial à Turquia, após sua viagem para Arábia Saudita.
“Acreditamos que as relações entre a Turquia e a Síria, que foram restabelecidas após a libertação da Síria, se fortalecerão e ganharão dimensão com a visita de Ahmad Al-Sharaa e sua delegação”, disse o chefe da Diretoria de Comunicações da presidência turca, Fahrettin Altun.
Altun anunciou que Erdogan e al-Sharaa discutirão os eventos recentes ocorridos na Síria, assim como potenciais medidas que as nações possam tomar em conjunto para impulsionar do país e alcançar segurança e estabilidade duradouras.
Para além disto, os líderes discutirão como Ancara poderá ajudar na transição do regime sírio, declarou Altun.
No domingo (2), al-Sharaa viajou para a Arábia Saudita juntamente com seu ministro de relações exteriores, Asaad al-Shibani. Fontes sauditas afirmaram que al-Sharaa deve visitar Riad para reuniões privadas e oficiais com o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, logo após a visita do emir do Catar a Damasco.
Há poucos dias, o rei saudita, Salman bin Abdulaziz, e o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, parabenizaram al-Sharaa por sua nomeação como presidente interino da Síria, de acordo com um relatório da Agência de Imprensa Saudita em 30 de janeiro.
Ao mesmo tempo, ataques ocorrem no território sírio. Explosões massivas de carros mataram ao menos 21 pessoas no norte do país, ainda não há nenhuma reivindicação de responsabilidade pelo ataque em Manbij.
A explosão se deu nos arredores da cidade de Manbij, norte da Síria e nordeste da província de Aleppo. Segunda a Defesa Civil síria – conhecida também como Capacetes Brancos –, ao menos 14 dos mortos eram trabalhadores agrícolas. É provável que o número de mortos aumente devido ao “massacre horrível”, acrescentaram os Capacetes Brancos.
A explosão ocorreu dias após um carro bomba matar quatro civis e ferir nove na cidade de Manbij. Partes da cidade estão sob controle das Forças Democráticas Sírias (FDS) lideradas pelos curdos e apoiadas pelos EUA, enquanto outras são mantidas pela força do Exército Nacional Sírio (ENS) apoiada pela Turquia.
Desde a queda de al-Assad, a FDS e o ENS têm se envolvido em confrontos pelo controle da zona rural de Aleppo, coincidindo com uma escalada da retórica de Ancara contra os militantes curdos na Síria.
Batalhas tem se espalhado por toda a zona rural de Aleppo, especialmente nos arredores da represa de Tishreen, controlada pelos curdos – um local estratégico que os combatentes do ENS, apoiados pela Turquia, têm tentado capturar. Os residentes curdos do norte da Síria têm protestado e exigido a proteção da represa, enquanto as autoridades curdas alertam que os ataques aéreos na represa e em suas proximidades representam uma séria ameaça ambiental.
O exército turco tem provido o ENS com ataques aéreos na área. Ao menos 565 pessoas, incluindo civis e combatentes de ambos os lados, morreram desde 12 de dezembro de 2024 – cinco dias após a queda de al-Assad.
“As forças turcas [e as apoiadas pela Turquia] realizaram ataques terrestres e ataques aéreos com drones e caças durante horas nas áreas circundantes da represa de Tishreen, na zona rural de Manbij”, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), monitor de guerra, em 2 de fevereiro.
Na semana passada, ataques aéreos turcos bombardearam reuniões de civis perto da represa de Tishreen e mataram mais de 50 pessoas, de acordo com o OSDH.
Recentemente, as autoridades turcas prometeram erradicar as milícias curdas na Síria, ou seja, a Unidade de Proteção Popular (UPP), o braço sírio do inimigo jurado de Ancara, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). O FDS é formado predominantemente por combatentes do UPP. O PKK vem travando uma insurgência contra a Turquia há décadas e está fora da lei no país.