Guerra na Palestina

Trump propõe depor Hamas e assumir controle da Faixa de Gaza

Proposta delirante prevê a colonização de todo o território que hoje é governado pelas forças de resistência

Nesta segunda-feira (29), o presidente norte-americano Donald Trump apresentou um novo plano que teria, supostamente, o objetivo de acabar com a guerra na Faixa de Gaza. A proposta foi apresentada publicamente após Trump receber o primeiro-ministro israelense Benjamin Netaniahu na Casa Branca.

O plano, absolutamente delirante, vai completamente na contramão de qualquer outro acordo anterior discutido com as forças de resistência palestinas. Trump não apenas não oferece qualquer garantia de paz aos palestinos, como ainda faz uma série de ameaças aos combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).

O plano estipula que, dentro de 72 horas após “Israel” aceitar a proposta de cessar-fogo, todos os prisioneiros israelenses, vivos ou mortos, devem ser libertados. De acordo com a Casa Branca (sede do governo norte-americano), o plano afirma que, se o Hamas atrasar ou rejeitar a proposta, os norte-americanos apoiarão operações do exército israelense que visarão estabelecer “áreas livres de terror”. Isto é, que “Israel” continuaria fazendo o que já vem fazendo há dois anos, sem sucesso: usar todo o seu aparato militar para forças os palestinos a desistirem de lutar por sua libertação.

Além disso, o plano traça um futuro para Gaza como uma “zona desradicalizada e livre de terror” que não representaria mais uma “ameaça” para seus “vizinhos”, uma transformação que ocorreria, supostamente, sem ocupação ou anexação israelense do território. Durante este período, todas as operações militares, incluindo bombardeios aéreos e de artilharia, seriam suspensas, segundo a Casa Branca. O acordo estabelece também que ninguém será forçado a deixar Gaza, e aqueles que desejarem fazê-lo terão permissão tanto para sair da área quanto para retornar.

Ocorre que, em vários momentos da história, “Israel” já fez promessas semelhantes, que nunca foram cumpridas. Em janeiro deste ano, a entidade sionista havia se comprometido com um cessar-fogo que levaria à devolução de todos os prisioneiros sob custódia do Hamas, mas acabou sabotando o acordo de voltou a agredir a Faixa de Gaza. Qualquer proposta de paz que se resuma à promessa de que “Israel” não ocupará territórios palestinos é, portanto, uma piada.

O plano também exige que, após a libertação de todos os prisioneiros israelenses, “Israel” retribua libertando 250 prisioneiros com pena de prisão perpétua e 1.700 residentes de Gaza que foram detidos após 7 de outubro de 2023. Para cada resto mortal de prisioneiro israelense devolvido, “Israel” por sua vez libertará os restos mortais de 15 palestinos mortos detidos por “Israel”.

De acordo com a Casa Branca, assim que todos os prisioneiros forem devolvidos, os integrantes do Hamas que se comprometerem com a “coexistência pacífica” e a deposição de suas armas terão anistia. O plano também prevê uma passagem segura para fora de Gaza para membros do Hamas que desejam partir para países que os recebam. Novamente, trata-se de uma proposta sem qualquer tipo de garantia. Afinal, a proposta prevê que todas as organizações armadas, incluindo o Hamas, devem se abster de qualquer papel, seja direto ou indireto, no governo de Gaza.

Como visto recentemente na Colômbia, os grupos que depõem suas armas em um acordo com o imperialismo são imediatamente esmagados. Mesmo os integrantes do Hamas que deixassem a Palestina correriam grande perigo, visto a infiltração dos serviços de inteligência de “Israel” em todo o mundo.

Os Estados Unidos realizarão uma parceria com países árabes e outras nações para desenvolver uma força de estabilização internacional temporária a ser imediatamente implementada. Além disso, uma vez que o acordo seja estabelecido, a ajuda humanitária seria imediatamente liberada para ingressar em Gaza. A entrada dessa ajuda seria mediada através da Organização das Nações Unidas, de suas agências e do Crescente Vermelho.

O acordo inclui ainda o lançamento de um plano de desenvolvimento econômico liderado pelo próprio Donald Trump para reconstruir Gaza, uma iniciativa que envolveria o estabelecimento de uma “zona econômica especial” com tarifas preferenciais e taxas de acesso a serem negociadas com os países participantes. Isto é, um plano de colonização neoliberal da Faixa de Gaza, que seria partilhada entre os monopólios imperialistas.

Cinicamente, o plano descreve que Gaza seria colocada sob um governo de transição temporário administrado por um comitê palestino “tecnocrático e apolítico”. Este comitê seria presidido pelo próprio Trump e outros políticos, como o ex-primeiro-ministro Tony Blair, a serem anunciados em uma data posterior. Uma das figuras mais odiadas da política britânica, Blair foi responsável por um golpe no Partido Trabalhista do Reino Unido, que levou a organização apoiada por vários setores do movimento operário a defender a invasão criminosa do Iraque.

O comitê palestino, além de constituir um golpe contra o Hamas, que atualmente governa a Faixa de Gaza com o apoio da grande maioria dos palestinos, também é um golpe contra a Autoridade Palestina, entidade corrupta e sionista que sobrevive da colaboração com o Estado de “Israel” e com o imperialismo. No último período, seu líder, Mahmoud Abbas, vinha se mostrando favorável aos planos do imperialismo de deposição do Hamas, na expectativa de que esta assumisse o controle da Faixa de Gaza.

Tais expectativas, no entanto, foram frustradas por Trump, que propôs que o comitê liderado por ele seja responsável por estabelecer a estrutura de reconstrução e gerenciar todo o financiamento para Gaza até que a Autoridade Palestina conclua um conjunto de reformas, de acordo com os critérios dos países imperialistas. A exigência também mostra a debilidade da Autoridade Palestina, que, ainda que seja completamente submissa ao imperialismo, não tem autoridade sobre os palestinos para se estabelecer como governo.

Em uma coletiva de imprensa com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netaniahu, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que “Israel” concordou com seu plano, enfatizando que eles estavam muito próximos de forjar o “acordo de paz” e acrescentando que esperavam que o Hamas também aceitasse a proposta.

“Também quero agradecer ao primeiro-ministro Netaniahu por concordar com o plano e por confiar que, se trabalharmos juntos, podemos pôr fim à morte e à destruição que vimos por tantos anos, décadas, até séculos e iniciar um novo capítulo de segurança, paz e prosperidade para toda a região”, declarou Trump.

Netaniahu fez uma ameaça, afirmando que “se o Hamas rejeitar seu plano, sr. presidente, ou se eles supostamente o aceitarem e depois basicamente fizerem tudo para contrariá-lo, então Israel terminará o trabalho por conta própria”.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netaniahu, expressou seu apoio à proposta apresentada por Trump, dizendo:

“Eu apoio seu plano para acabar com a guerra em Gaza, que atinge nossos objetivos de guerra. Ele trará de volta a ‘Israel’ todos os nossos reféns, desmantelará as capacidades militares do Hamas, acabará com seu domínio político e garantirá que Gaza nunca mais represente uma ameaça para Israel.”

Durante a conferência, o presidente dos Estados Unidos desafiou os palestinos a “assumir a responsabilidade por seu destino” pressionando pela aceitação de um “acordo de paz” com “Israel” que, segundo ele, criaria as condições para o que ele chamou de segurança israelense duradoura.

“Há muitos palestinos que desejam viver em paz”, disse Trump, acrescentando: “eu desafio os palestinos a assumir a responsabilidade por seu destino, porque é isso que estamos lhes dando”. Ele enfatizou que “se a Autoridade Palestina não concluir as reformas que eu estabeleci… eles só terão a si mesmos para culpar”.

“Não terminamos totalmente”, afirmou Trump, acrescentando: “Temos que pegar o Hamas, mas acho que eles serão capazes de fazer isso. Então, agora é a hora de o Hamas aceitar os termos do plano que apresentamos hoje”.

Ao apresentar seu plano, Trump disse que o Hamas deve concordar com os 20 pontos que ele propôs, que incluem condições que o grupo já rejeitou publicamente, ou então ele dará a “Israel” um sinal verde para eliminar todo o Hamas.

Donald Trump ainda sugeriu que a República Islâmica do Irã poderia se juntar aos pactos de normalização assinados durante seu primeiro mandato entre “Israel” e vários países de maioria muçulmana.

Trump sabe que nem o Hamas, nem o Irã aceitarão seu plano criminoso de ocupação da Faixa da Gaza. Trata-se, portanto, de um plano que visa aumentar a pressão sobre as forças de resistência, mas que não tem qualquer possibilidade de ser implementado por meio de um acordo.

O plano é uma expressão da atual fase da política trumpista. Cada vez mais encurralado pelo imperialismo, o governo Trump procura despistar os seus inimigos por meio de declarações e propostas bombásticas, que ocultam o seu real objetivo.

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