“Trump 2.0: uma ameaça ao planeta”, esse é o nome do artigo publicado no sítio do Esquerda Online neste sábado, 25 de fevereiro. Segundo o texto, nos próximos quatro anos teremos um mundo mais perigoso, mais desigual, menos democrático e mais insalubre. Temos de nos perguntar: onde estava essa gente quando Biden colocou o mundo à beira de uma Terceira Guerra Mundial.
As duas eleições de Trump revelaram que boa parte da esquerda não passa de um apêndice do Partido Democrata norte-americano. Além de abraçarem o identitarismo, as “pautas climáticas”, fazem a defesa da “democracia” contra o fascismo. A democracia, no caso, está representada pelo imperialismo de Joe Biden, que supostamente luta contra ditaduras.
Se o mundo ficará mais perigoso, temos de supor que Trump colocará mais dinheiro nas guerras, embora tenha prometido o contrário.
No mundo “mais insalubre”, a Europa vai parar de comprar o gás de xisto dos EUA e vai passar a queimar plástico diretamente… é de se imaginar.
Puxadinho democrata
As críticas a Trump, apesar de ele ser um elemento de extrema direita, e merecer toda oposição, cumpre outro propósito, passa uma maquiagem em Joe (Genocida) Biden, que desde o Vietnã esteve envolvido em guerras, como as do Iraque, que ajudou a promover; a da Ucrânia, que forjou e financiou; o massacre em Gaza, que financiou, armou e deu apoio de efetivos. A lista é enorme. Biden teve participação no golpe contra Dilma Rousseff. Porém, tudo isso, para alguns, se apaga diante do espantalho Trump.
Sempre é preciso relembrar que boa parte da esquerda brasileira torceu pela eleição de Biden. Sua vice, Kamala Harris, conhecida por ser implacável em mandar negros e pobres para a cadeia, foi festejada pelos indentitários. Então, como resultado, só podemos esperar que esses “eleitores” de Biden em solo brasileiro lamentem a subida ao poder de seu rival.
O compromisso com os democratas dos EUA não fica apenas na preferência por Biden, o candidato do grande capital financeiro, essa dita esquerda também é crítica de “ditaduras”, todas elas, não por coincidência, lutando contra o imperialismo. Por isso criticam a Rússia, Venezuela, Irã, China etc. O que nos leva à conclusão inevitável de que temos aqui uma esquerda filoimperialista.
Como demonstração da verdadeira afiliação política dessa esquerda, temos de ler devagar a seguinte frase: “a luta contra Trump e a extrema-direita precisa se intensificar em todo mundo para continuarmos a ter direitos sociais, um planeta viável e democracia”. Quer dizer, até ontem, nós vivíamos em um mundo com direitos sociais, um planeta “viável”, e democracia. Acredite quem quiser. Nós vimos como a democracia tratou Julian Assange – apenas para citarmos um exemplo.
O Esquerda Online que “O slogan exaustivamente repetido por Trump em seus dois mandatos – ‘América primeiro’, pode muito bem ser traduzido por ‘capitalismo americano primeiro’ ou ‘empresas americanas primeiro’ ou ‘burguesia americana primeiro’”. Mas nunca foi diferente disso, não importando qual presidente estivesse no poder.
O que o EO não consegue ver é que existe uma divisão dentro da burguesia norte-americana. O neoliberalismo, apesar de precisar do Estado, também acaba por destruí-lo. Nos Estados Unidos, o grande capital financeiro está retirando recursos da produção e empobrece as camadas mais ricas do grande capital doméstico, é aí que se encontra a contradição. Trump quer tirar dinheiro do capital financeiro, que, na verdade, não tem pátria, e investir no próprio mercado.
Confusão política
A esquerda pequeno-burguesa tem cumprido um papel auxiliar na política dos democratas. Por exemplo, espalham que Rússia e China seriam economias imperialistas como no trecho em que trata da queda na dominação norte-americana que “vem perdendo espaço gradualmente desde os anos de 1970 (com a derrota na guerra do Vietnã), que se intensificou após a crise econômica de 2008, alavancando outros agentes econômicos e políticos no cenário mundial, como a China e a Rússia, sérios competidores pela hegemonia global”.
Nem de longe a China e a Rússia podem estar competindo pela “hegemonia global”. A Rússia pode ser uma potência militar, e só está realizando a operação militar na Ucrânia para se defender da OTAN. A China, por sua vez, é um país que tem se empenhado em exportar capitais, não tem nada a ver com imperialismo, os chineses nem mesmo controlam o mar do sul da China.
Outra falácia é o tal do “negacionismo climático”. Primeiro porque não existe consenso sobre e a questão e, segundo, que as “mudanças climáticas” estão sendo utilizadas pelo imperialismo para sancionar países, pois o próprio imperialismo é o primeiro a não cumprir quaisquer determinações.
Segundo o EO, “O objetivo é um só: destruir os avanços conquistados. O slogan de campanha de Trump ‘Perfure, baby, Perfure’, se referindo à extração de petróleo e gás nos EUA, já se tornou realidade com os primeiros decretos assinados por ele: retirou os EUA do Acordo de Paris”. Quais avanços? A prerrogativa de o imperialismo utilizar o clima para coagir países atrasados?
Quanto perfurar e perfurar, é isso que imperialismo tem feito desde sempre. Apenas no Brasil é que os identitários querem que deixemos as riquezas no subsolo para que os imperialistas usufruam de nossos recursos no momento oportuno.
O que o Esquerda Online e a esquerda democratizante estão fazendo é a velha política do espantalho. Apresentam um mal terrível que deve ser combatido a qualquer custo. E o custo, como se vê, é aderir à política do imperialismo.
Tudo o que fazem é amedrontar as pessoas, mas não existe da parte dessa esquerda uma luta efetiva contra o fascismo, que é justamente o fortalecimento da classe trabalhadora, a única força capaz de vencer a extrema direita e o imperialismo.
Utilizar o medo para levar a classe trabalhadora para as posições imperialistas, para o Partido Democrata dos EUA é uma grande capitulação, é trair os princípios da esquerda, o socialismo, não uma democracia de fachada que não fica devendo nada para o fascismo.