O governo norte-americano, sob a liderança do presidente Donald Trump, dobrou nessa terça-feira (4), as tarifas sobre todos os produtos importados da China, elevando de 10% para 20% os impostos sobre bens que já enfrentavam taxas adicionais impostas anteriormente. A medida, que entrou em vigor às 12h01 (horário de Brasília), soma-se às tarifas de 25% impostas simultaneamente sobre importações do México e do Canadá, os outros dois principais parceiros comerciais dos EUA.
Trump justificou as sanções com a alegação de que os chineses não teriam feito o suficiente para conter o fluxo de químicos usados na produção do fentanil, uma droga sintética que assola o país, além de citar imigração ilegal e desequilíbrios comerciais. A resposta da China foi imediata, ainda que contida, com tarifas adicionais de 10% a 15% sobre produtos agrícolas e energéticos norte-americanos, além de restrições a 25 empresas dos EUA.
A decisão de Trump, anunciada em entrevista na Casa Branca, ignora as advertências de economistas e investidores sobre os riscos de uma guerra comercial. O governo norte-americano acusa Pequim de não combater adequadamente o tráfico de insumos para o fentanil, mas o editorial The white paper renders the ‘fentanyl lie’ self-defeating, publicado no mesmo dia pelo jornal estatal chinês Global Times, denuncie o argumento como um pretexto para intensificar a pressão sobre o gigante asiático.
O texto, no entanto, evita aprofundar a crítica à política de Trump, limitando-se a afirmar que culpar outros países não resolve os problemas internos dos EUA. “Transferir a responsabilidade pelas falhas de governança doméstica para outros e abusar das tarifas como meio de pressão e coerção não curará os males dos Estados Unidos nem ajudará Washington a atingir seus objetivos políticos”, diz o editorial do órgão chinês.
Em resposta, a China impôs tarifas sobre itens como milho, soja, algodão, carne bovina, suína, frango, trigo, sorgo, frutas, vegetais, laticínios e produtos aquáticos, além de restringir exportações e investimentos de 25 empresas norte-americanas. O Ministério das Relações Exteriores do gigante asiático, por meio do porta-voz Lin Jian, declarou que “o país se opõe à medida e fará o necessário para proteger seus interesses legítimos”, enquanto o Ministério do Comércio pediu que Trump retire as tarifas “unilaterais e irracionais” e retorne ao diálogo.
Analistas, como Even Pay, da Trivium China, descrevem a retaliação chinesa como “restrita”, com tarifas abaixo dos 20% e impacto limitado a produtos específicos, sinalizando o desejo de Pequim de evitar uma escalada maior. Durante as “Duas Sessões”, evento anual que define as diretrizes econômicas chinesas, o porta-voz Lou Qinjian reforçou que “China e EUA historicamente ganham ao cooperar e perdem ao se confrontar”, defendendo respeito mútuo e negociações.
O vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang e o Ministério do Exterior também expressaram disposição para importar mais dos EUA, sugerindo abertura para um acordo, enquanto Trump chegou a mencionar, em janeiro, após um telefonema com o líder chinês Xi Jinping, a possibilidade de um pacto comercial. No entanto, o impacto econômico das medidas de Trump é amplamente questionado.
As tarifas sobre a China, que agora atingem computadores, brinquedos e aparelhos celulares – produtos antes isentos em seu primeiro mandato –, podem elevar os preços para os consumidores norte-americanos, já preocupados com a inflação. Segundo o Tax Foundation, as taxas sobre Canadá, México e China gerarão menos de US$100 bilhões anuais para o governo federal, apenas 2% de sua arrecadação total, mas o custo recairá sobre empresas e cidadãos, aumentando preços de itens como aspargos, tomates, carros e petróleo. A integração econômica com Canadá e México, especialmente na indústria automotiva, onde peças cruzam fronteiras até sete vezes, pode sofrer rupturas, com custos adicionais que elevarão o preço médio de carros em cerca de US$2.500, segundo analistas.
As sanções contra México e Canadá, com 25% de tarifas, também provocaram retaliações imediatas, ameaçando a integração econômica da América do Norte, segundo um dos principais órgãos do imperialismo britânico, The Economist, “um dos exemplos mais bem-sucedidos de comércio global”. Trump, no entanto, acredita que as tarifas atrairão montadoras para os EUA, enquanto postou em sua rede Truth Social que agricultores norte-americanos devem se preparar para vender mais produtos internamente, substituindo exportações por itens como abacates mexicanos – uma mudança que especialistas consideram inviável.
Na avaliação do semanário britânico supracitado, as medidas de Trump são um passo arriscado. Diz o órgão: “se ele persistir, as tarifas sobre Canadá e México serão o ato mais extremo e perigoso de protecionismo por parte de um presidente norte-americano em quase um século”. A publicação conclui: “Isso deixa a economia norte-americana com menos amortecedores para choques. E ela está prestes a enfrentar um choque bastante grande”.