“Os Estados Unidos estão de volta” foi a primeira frase do discurso de Donald Trump ao Congresso dos Estados Unidos realizado na última terça-feira (4). Como de praxe, o presidente eleito fez uma série de declarações polêmicas em suas duas horas de discurso e foi interrompido inúmeras vezes pelos democratas. Ao longo de quase duas horas, Trump abordou temas domésticos e internacionais, destacando suas políticas, criticando o governo anterior e apresentando sua visão para o futuro.
Trump iniciou seu discurso com propostas econômicas ambiciosas. Ele pediu ao Congresso que aprovasse cortes de impostos amplos, incluindo a eliminação de taxas sobre gorjetas, horas extras e benefícios da Previdência Social. “A próxima fase de nosso plano para proporcionar a maior economia da história é que este Congresso aprove cortes de impostos para todos”, afirmou. Além disso, ele propôs deduções fiscais para juros de empréstimos de automóveis fabricados nos EUA, prometendo um crescimento na indústria automobilística americana que, nos primeiros meses, pode de fato se concretizar, retirando os exageros de suas palavras: “Vamos ter um crescimento na indústria automobilística como ninguém jamais viu”.
“União Europeia, China, Brasil, Índia, México e Canadá cobram tarifas tremendamente mais altas do que cobramos deles”. Foi assim que o presidente defendeu sua política de tarifas como uma ferramenta essencial para proteger, segundo ele, a indústria nacional e revitalizar a economia americana. O presidente norte-americano anunciou que, a partir de 2 de abril, os EUA implementarão tarifas contra países que taxam produtos americanos: “o que os outros países nos taxarem, vamos taxar eles”. Trump reconheceu que as tarifas poderiam causar “uma pequena perturbação”, mas enfatizou que, na sua visão, as “tarifas são sobre proteger a alma do nosso país”. Um ponto de interesse se dá ao fato de que, instantes depois, a China anunciou por meio de seu ministério de relações exteriores que suspenderá toda e qualquer importação de soja, serragem e madeira dos Estados Unidos, como uma clara represália às medidas de Trump, em um ato que beneficiará direta ou indiretamente todos os países de capitalismo atrasado exportadores destes produtos, sobretudo os membros do BRICS e, neste caso, o Brasil.
Trump reafirmou sua postura rígida sobre imigração, declarando uma emergência nacional na fronteira sul. Ele alegou que as travessias ilegais atingiram níveis historicamente baixos sob seu governo, apesar dos números não mostrarem a mesma coisa. “Dentro de horas após assumir o cargo, declarei uma emergência nacional em nossa fronteira sul”. A realidade, por sua vez, se dá que o número de deportações e maus tratos aos imigrantes na fronteira, como encarceramento e o aprisionamento de crianças em jaulas, se deu de Biden a Trump e Obama. Durante o discurso, ele trouxe famílias cujas filhas foram assassinadas por imigrantes ilegais como forma de ilustrar os impactos da imigração irregular.
Trump anunciou a “Lei Laken Riley”, destinada a endurecer as medidas contra estrangeiros criminosos “perigosos” – seja essa determinação o que for. Com isso, ele também prometeu realizar a maior operação de deportação da história norte-americana, apresentando ao Congresso “um pedido detalhado de financiamento para eliminar essas ameaças e executar a maior operação de deportação já vista”. Com ameaças, ele alegou que estão incluídas pessoas responsáveis por protestos em defesa da Palestina, citado por ele como “protestos ilegais”, e membros próximos do “esquadrão” de Maduro que estejam nos Estados Unidos, não deixando claro que tipo de pessoas, esquadrão ou proximidade seria essa destes indivíduos com o presidente legítimo da Venezuela.
O presidente norte-americano declarou que acabou “com a tirania das chamadas políticas de diversidade, equidade e inclusão em todo o governo federal”. Trump também afirmou: “nosso país não será mais woke“, em referência ao fim das políticas que ele considera excessivamente identitárias.
O presidente norte-americano denunciou que, por meio da USAID, órgão de propaganda e coerção de países do imperialismo, 60 milhões de dólares foram destinados para promover ações LGBT no Lesoto e diversos milhões para uma operação de propaganda “de esquerda” na Moldávia. Com “de esquerda”, Trump define as campanhas anti-Rússia e pró-União Europeia. Outro ponto levantado foi sua postura contra atletas transgêneros competindo em esportes femininos. Ele compartilhou histórias pessoais relacionadas ao tema e prometeu proteger os esportes femininos com regulamentações mais rígidas.
Em dado momento, Trump também mencionou seus planos para retomar o Canal do Panamá e adquirir a Groenlândia, alegando a importância do arquipélago gelado “para segurança internacional”, provavelmente por sua proximidade com a Rússia, e concluiu o tópico dizendo que “vamos tê-la de um jeito ou de outro”. Além disso, criticou duramente a retirada do Afeganistão sob o governo Biden, chamando-a de “talvez, a maior vergonha da história dos Estados Unidos” – algo pontuado, no Brasil, pelo Partido da Causa Operária, que destacou inúmeras vezes, nas redes e nas ruas, que a derrota do imperialismo no Afeganistão foi um ato heroico dos afegãos, que impuseram duras derrotas para todo o aparato imperialista no mundo. Nas palavras de Trump, a retirada do Afeganistão foi tão desastrosa “que acho que o Putin olhou e falou ‘nossa, acho que está na hora então'”.
Sobre a guerra na Ucrânia, Trump afirmou estar trabalhando incansavelmente para alcançar um acordo de paz entre Ucrânia e Rússia. Ele leu uma carta do presidente ucraniano Vladimir Zelensqui, que dizia: “estamos prontos para coordenar a paz sob a liderança do governo dos EUA”. Trump também mencionou sinais positivos vindos da Rússia: “recebemos fortes sinais de que eles estão prontos para a paz. Não seria lindo?”
E continuou: “também estou trabalhando incansavelmente para acabar com a guerra na Ucrânia. Centenas de milhares foram mortos e feridos em um conflito que não tem perspectiva de fim. Os EUA enviaram centenas de bilhões de dólares para apoiar a defesa da Ucrânia sem nenhuma segurança. [Olhou para os Democratas e perguntou] Querem continuar por mais 5 anos?”
Durante suas críticas ao apoio americano à Ucrânia, alguns parlamentares democratas exibiram símbolos em apoio ao país europeu dominado pelo nazismo. O senador Jeff Merkley (D-Oregon) levantou uma bandeira ucraniana enquanto outros usavam acessórios com as cores azul e dourado. Trump reagiu à oposição direta dos democratas com ironia: “eu poderia achar a cura pra doença mais devastadora do mundo e esses democratas não me aplaudiriam”. Em outro momento, ele declarou: “eu olho para os democratas na minha frente e percebo que não há absolutamente nada que eu possa dizer para fazê-los felizes”.