O governo de Trindade e Tobago, chefiado pela primeira-ministra Kamla Persad-Bissessar, autorizou que aeronaves militares dos Estados Unidos utilizem os aeroportos internacionais de Piarco (na ilha de Trinidad) e Crown Point (em Tobago). A medida foi apresentada pelo Executivo como “atividade logística” de cooperação, mas abriu uma crise política interna e foi denunciada por setores da oposição como um passo para transformar o país em base de apoio às operações norte-americanas no Caribe, em especial no cerco contra a Venezuela.
O senador opositor Amery Browne, ex-ministro de Relações Exteriores e ex-representante do país na Caricom, afirmou que o comunicado do governo é “enganoso” e que a autorização tem caráter excepcional. Segundo ele, Trindade e Tobago nunca havia concedido um “permiso general” para aeronaves militares estrangeiras não especificadas operarem no espaço aéreo e em infraestruturas nacionais. Browne declarou que a decisão não tem relação com uma cooperação “rotineira”, mas empurra o país para o papel de “Estado satélite”, rompendo com a política de neutralidade e ignorando consensos regionais.
A autorização ocorre em meio a um aumento das ações militares dos EUA no Caribe e no Pacífico, incluindo a operação “Southern Spear”, anunciada pelo Pentágono, e em um momento em que Caracas denuncia uma escalada de ameaças contra sua soberania. O governo do presidente Nicolás Maduro declarou que Trindade e Tobago vem permitindo o uso do seu território como plataforma para atividades hostis, citando, entre outros pontos, trânsito de meios militares norte-americanos e a instalação de equipamentos de vigilância.
Como resposta, a Venezuela anunciou a extinção imediata de contratos e negociações para fornecimento de gás natural a Trindade e Tobago, vinculando a decisão ao uso do território trinitino como peça do cerco impulsionado por Washington. No plano interno, o Partido Nacional do Povo (PNM) também criticou a autorização, e lideranças da oposição defenderam que o tema se torne central na disputa eleitoral em Tobago, com eleições previstas para 12 de janeiro.





