Líbano

Três caminhos para o Hesbolá esmagar ‘Israel’

Corte do acesso à Síria impõe desafios ao partido revolucionário libanês, mas nem por acaso significam uma dificuldade intransponível

Em artigo publicado no libanês Al Mayadeen no último dia 12 e intitulado حزب الله لم يُهزم.. و95 ألفاً ما زالوا ينتظرون! (O Hesbolá não foi derrotado. E 95.000 ainda estão esperando!, em português), o escritor palestino Ahmed Abdel Rahman analisa as “três opções principais” para o partido revolucionário libanês, dado a proximidade com o fim do cessar-fogo assinado com a ditadura sionista, embora nunca verdadeiramente cumprido por “Israel”. Em sua análise, Rahman destaca que “o Hesbolá possui cem mil combatentes treinados e prontos para lutar em todas as circunstâncias”, contingente que supera até mesmo o exército nacional libanês, um demonstrativo da solidez do apoio popular ao partido. Por isso mesmo, estão errados ao afirmar que “o Hesbolá não existirá mais e que testemunhará novos recuos na próxima fase”:

“Especialmente depois da mudança dramática que ocorreu na Síria, a primeira das quais, segundo eles, foi o abandono de seu candidato à presidência libanesa, que está vaga há dois anos, o ministro Suleiman Franjieh, e sua aceitação forçada do comandante do exército Joseph Aoun, que foi eleito na tarde da última quinta-feira e é apoiado, de acordo com muitas fontes, pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos.”

Contrariando as análises mais derrotistas, o escritor considera que o Hesbolá se “manteve silêncio e preferiu (…) observar”, porém, citando uma fonte não identificada do partido, diz: “o partido começou a trabalhar em vários níveis e em uma velocidade recorde que não tem igual”, diz. 

O autor destaca o trabalho do partido para reparar os danos causados pela agressão sionista, fornecendo ajuda e assistência às vítimas, além de reconstruir suas estruturas políticas, militares e sociais. Apesar das dificuldades enfrentadas, como tentativas de bloquear fundos e atrasar a reconstrução, o país tem avançado na recuperação e preparação para a implementação do cessar-fogo. A trégua de 60 dias se expira em seis, e, segundo deverá ser seguida pela retirada do exército de ocupação israelense das áreas libanesas que ocupa, com a supervisão dos estados garantidores do acordo e do governo libanês. No entanto, a situação permanece tensa, com a possibilidade de violações por parte de “Israel”, o que poderia levar a novas escaladas de conflito.

“À luz do exposto acima, e à luz do nosso conhecimento da evasividade do inimigo sionista, como de costume, e da possibilidade de sua reversão de seus compromissos anunciados anteriormente, especialmente à medida que se sente mais confiante com a assunção de Donald Trump, amigo de confiança de Israel, como presidente do país mais poderoso do mundo, acreditamos que o Hesbolá será obrigado a tomar algumas medidas em resposta a qualquer atraso ou adiamento israelense em relação à questão da retirada. O Hesbolá será obrigado a tomar alguma medida em resposta a qualquer procrastinação israelense em relação à questão da retirada, em especial, além das operações agressivas que o inimigo continua a realizar, como bombardear e explodir as casas dos cidadãos libaneses e os ataques que lança contra alguns alvos que alega serem militares.”

Para o autor, tanto o Hesbolá quanto o povo libanês e toda a região em geral estão atentos às próximas etapas, já que qualquer descumprimento do acordo por parte de “Israel” pode desencadear uma resposta militar. Com essa conjuntura em mente, Rahman destaca os três desenvolvimentos possíveis.

 

Jogar a pressão para os governos “mediadores”

O escritor lembra que “diversos países da região e do mundo, bem como os libaneses, especialmente aqueles que se opõem ao Hesbolá, liderados pelos partidos do 14 de Março [coalizão política pró-imperialista que inclui os principais grupos sunitas, cristãos e drusos]”, diz, tratando da oposição à Resistência no país árabe. “Ao fazer isso, eles não querem o melhor para o Líbano, pois sabem melhor do que ninguém que ‘Israel’ só respeita os fortes”, continua.

Rahman lembra que o Estado libanês é fraco e vítima das pressões das potências imperialistas, que controlam muitas das decisões das forças políticas do Líbano; por isso, um caminho apontado pelo autor como provável a ser seguido pelos revolucionários libaneses é buscar mais tempo após o fim da trégua de 60 dias e jogar a bola no campo do Estado e do exército, além dos Estados mediadores, para implementar o que foi acordado em 27 de novembro passado, especialmente após a eleição do novo presidente no Líbano. Segundo a análise, “isso poderia dar um empurrão” no imperialismo para exercer mais pressão sobre o inimigo al-Sisi.

Voltar a lutar nas áreas ocupadas

O vice-chefe do departamento político do Hesbolá, Mahmoud Qumati, foi claro – lembra Rahman – ao afirmar que as forças israelenses, ao não cumprirem o prazo estabelecido para a retirada, consolidaram sua condição de ocupantes ilegais do território libanês. “O fato de o exército israelense não ter se retirado do país 60 dias após o acordo de cessar-fogo entre os dois lados significa que as forças presentes são forças de ocupação, e lidaremos com elas como tal”, disse Qumati.

A Resistência, portanto, não se limita ao combate em território libanês, mas também se alinha com a legítima defesa da soberania do Líbano contra qualquer imposição de “Israel”. O escritor lembra que a recusa ditadura sionista em se retirar das áreas disputadas – de grande importância estratégica e militar, especialmente nas proximidades da Palestina ocupada – reflete o desrespeito contínuo ao direito internacional e à paz na região.

Na avaliação do analista, a Resistência libanesa continua a demonstrar sua força e determinação diante dos desafios impostos por Israel, cuja ocupação ilegal dos territórios libaneses permanece um obstáculo à paz e à soberania do Líbano. O Hesbolá, em sintonia com todas as forças patrióticas que defendem a integridade do país, reitera que qualquer novo atraso ou tentativa de reconfiguração das realidades políticas e territoriais por parte do regime israelense será interpretado como um desrespeito aos princípios do acordo de cessar-fogo, comprometendo, assim, os avanços conquistados até aqui.

Em resposta, a Resistência libanesa deixa claro que, caso o exército israelense não retire suas tropas conforme estipulado, ela estará totalmente livre para retomar a luta a qualquer momento que julgar necessário. A determinação das forças de resistência está mais firme do que nunca, e a ocupação israelense encontrará um forte obstáculo diante da unidade nacional do Líbano.

Um retorno à luta em grande escala

O terceiro desenvolvimento destacado pelo escritor árabe é a retomada do conflito, tal como estava quando parou, o que seria possível graças às características da ditadura sionista. “Como o governo de extrema direita em ‘Israel’ busca perpetuar o conflito na região pelo maior tempo possível para atender às suas políticas expansionistas e agressivas, por um lado, e para atender aos interesses do emperrado Netaniahu”, diz Rahman.

“Caso o Hesbolá recorra à opção a que nos referimos acima”, continua, “relacionada ao retorno dos combates às áreas onde as forças de ocupação estão dentro do território libanês, ele poderia recorrer à expansão da área de agressão novamente para incluir todos os territórios libaneses, contando com a hipótese de que o partido perdeu sua linha de suprimento terrestre da Síria e o que ele diz ser um dano significativo ao seu sistema militar, especialmente mísseis precisos e de longo alcance.”

Nessa conjuntura, o analista destaca que o Hesbolá “será forçado a travar uma batalha em grande escala semelhante à que aconteceu durante a fase anterior”, e que os assentamentos israelenses, cujos moradores têm medo de voltar para eles até agora, devido ao medo de que a situação exploda novamente, bem como as cidades mais distantes da fronteira norte, como Haifa e Acre, até Telavive e seus arredores, se encontrarão no centro da batalha novamente, e seus moradores ouvirão os sons das sirenes novamente e serão forçados a correr para os abrigos, dia e noite, em um pesadelo ao qual nenhum israelense quer voltar.

De qualquer forma, independentemente da opção a que o Hesbolá recorrerá caso a ditadura sionista repudie o acordo, se recuse a cumprir todas as suas cláusulas, e se ele optar por uma das opções mencionadas acima ou por outras opções que ele seja mais capaz de determinar, a região continua convulsionada. A possibilidade de um amplo confronto ainda existe, especialmente à luz da agressão contínua à Faixa de Gaza e da incapacidade de chegar a um acordo para pôr fim à guerra e à agressão até o momento, pelo menos por enquanto.

“Independentemente de esse possível confronto com o Líbano, em particular, ser grande ou limitado, ‘Israel’ não vencerá em nenhum caso”, destaca Rahman, “e as mentiras que propaga dia e noite, sobre o declínio da capacidade de combate do Hesbolá e a desintegração de suas principais estruturas, como resultado dos golpes que recebeu não o ajudarão a obter uma vitória clara e decisiva”, diz. Ajudarão, reforça, a sofrer mais golpes, mais decepções e ser forçado, no final, a se submeter às condições justas e legítimas da Resistência.

Em um dos discursos do mestre dos mártires da Estrada de Jerusalém, o mártir libanês Sayyed Hassan Nasseralá, destacou que o Hesbolá tem 100 mil combatentes treinados e prontos para lutar em todas as circunstâncias.

“Supondo que o Hesbolá tenha perdido 4.000 deles após os ataques criminosos de Beijer e, na estimativa mais alta, outros 1.000 nas batalhas que precederam ou seguiram esse ataque, o Hesbolá ainda tem cerca de 95.000 combatentes competentes que, como todos sabem, estão qualificados para lutar até o último suspiro. A recente batalha revelou parte da coragem, da bravura e do martírio inigualáveis desses combatentes.”

O corte do acesso à Síria impõe desafios ao partido revolucionário libanês, mas nem por acaso significam uma dificuldade intransponível. Força, como se viu, os libaneses têm, e muita.

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