Nesta segunda-feira (22), a Itália foi palco de uma das maiores mobilizações populares na Europa em solidariedade ao povo palestino. Dezenas de milhares de manifestantes, incluindo trabalhadores, estudantes e cidadãos comuns, saíram às ruas em mais de 80 cidades, paralisando serviços, bloqueando estradas, portos e estações ferroviárias em todo o país. A greve geral de 24 horas foi convocada por entidades sindicais, como a Unione Sindacale di Base (USB), com a palavra de ordem “vamos bloquear tudo, chega de genocídio”.
A mobilização visou denunciar o genocídio na Faixa de Gaza e a “economia de guerra” que, segundo os manifestantes, é financiada com o aumento dos gastos militares e a venda de armas a “Israel”. O protesto ocorreu no mesmo dia em que a França e outros países reconheceram o Estado da Palestina na Assembleia Geral das Nações Unidas, uma postura que o governo italiano de extrema direita e pró-imperialista de Giorgia Meloni se recusou a adotar.
A capital, Roma, viu mais de 20 mil pessoas se reunirem em frente à estação de trem Termini. Manifestantes, em sua maioria estudantes, carregavam bandeiras palestinas e faixas com diversas mensagens. A polícia precisou fechar a estação para controlar o fluxo de pessoas, que também bloquearam a via rápida Tangenziale Est.
Em Milão, a situação foi mais tensa, com confrontos entre manifestantes e a polícia. Segundo a agência Ansa, mais de 10 manifestantes foram detidos e cerca de 60 policiais ficaram feridos. A polícia usou gás lacrimogêneo e bombas de fumaça para dispersar os manifestantes que tentaram invadir a estação central, quebrando janelas e lançando objetos. A primeira-ministra condenou a “violência”, afirmando que ela “não tem nada a ver com solidariedade” e que “não mudará em nada a vida das pessoas em Gaza”.
As manifestações não se limitaram às grandes cidades. Em Gênova e Livorno, trabalhadores portuários bloquearam o acesso aos portos, impedindo o trânsito de caminhões e navios. A ação visava impedir o envio de material bélico a “Israel”, com a USB de Livorno denunciando a esperada chegada de um navio americano com armas. A passeata em Gênova, que reuniu 20 mil pessoas, foi pacífica, enquanto em Livorno, o bloqueio causou longas filas.
Em Nápoles, mais de 15 mil pessoas, incluindo estudantes e trabalhadores, foram às ruas. Manifestantes chegaram a ocupar trilhos na estação central, causando atrasos nos trens.
Em Bolonha, a polícia usou jatos de água e bombas de fumaça para dispersar manifestantes que ocuparam a rodovia A14. Os organizadores afirmaram que 50 mil pessoas participaram, enquanto a polícia estimou o público entre 10 e 12 mil.
Em Turim, cerca de 10 mil pessoas marcharam, e um grupo de ativistas ocupou os trilhos de trem. Uma foto de Giorgia Meloni com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netaniahu foi queimada.
Em Florença, manifestantes atiraram pedras e garrafas contra a sede da fabricante de armas Leonardo. Em Pisa, a passeata invadiu a superstrada Firenze-Pisa-Livorno, paralisando o trânsito.
Em Veneza, jatos de água foram usados contra manifestantes que protestavam em Marghera, onde os organizadores disseram ter reunido mais de 20 mil pessoas.
A greve geral foi um chamado à ação direta para pressionar o governo italiano a se posicionar de forma mais incisiva contra o que está acontecendo em Gaza. Os sindicatos e ativistas acusam a Itália de cumplicidade por não romper relações com “Israel” e não apoiar sanções comerciais propostas pela União Europeia.
A primeira-ministra Giorgia Meloni condenou os protestos e se recusou a seguir o exemplo de outros países imperialistas no reconhecimento do Estado Palestino. Segundo ela, o reconhecimento “não resolveria” o problema. O ministro dos Transportes, Matteo Salvini, minimizou o impacto da greve, classificando-a como uma “mobilização política de sindicalistas de extrema esquerda”.
No entanto, a pressão da opinião pública continua crescendo. Uma pesquisa recente pelo jornal La Stampa revelou que quase 64% dos italianos consideram a situação humanitária em Gaza “muito grave” e 41% apoiam o reconhecimento de um estado palestino.





