No artigo Grande dia!, publicado pelo Brasil 247, Denise Assis expõe claramente a política de esquerda anulamento político em favor do imperialismo político, representado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O artigo é escrito em tom de crônica, de forma que a autora sequer consegue deixar escapar a sua admiração pela pessoa de Moraes:
“Às 9h19, o ministro Alexandre de Moraes iniciou a leitura e a apresentação do seu tão aguardado voto. Desta vez, voltou à gravata em tom pastel (rosa), como se viesse a público dizer: ‘Ufa! Missão cumprida’. Estava leve.”
É como se dissesse: o incansável Alexandre de Moraes trabalhou anos a fio, contra tudo e contra todos, e finalmente venceu, ao votar pela condenação de Jair Bolsonaro (PL). A realidade é o oposto. Moraes vem agindo com todo o apoio do imperialismo, como ficou claro em artigo da revista britânica The Economist. Os grandes jornais burgueses do País também acobertam Moraes de sues crimes.
Denise Assis continua sua narração:
“Ajeitando-se na cadeira, entrou direto na eliminação das discussões trazidas nas preliminares pelas defesas, como o descrédito da delação premiada de Mauro Cid e a junção dos artigos 259 L e 259 M. Esclareceu de forma límpida a diferença entre um e outro e a participação dos réus, sim, nos dois crimes dos cinco a que estão submetidos: crime de tentativa de golpe contra o Estado e crime de abolição violenta contra o estado de direito. Gastou nessa tarefa de 9h19 às 9h48 para contestar todas as notas das defesas. Certamente reprovará a menção à cor de sua gravata, tal como fez logo no início da sua exposição – a propósito de uma observação da defesa de um dos réus, se não me engano José Luiz de Oliveira Lima, de Braga Netto, que quis inserir na discussão sobre a delação de Mauro Cid uma interpretação do uso das mãos na acareação entre ele e seu cliente. “Não se trata de um julgamento psicológico, mas jurídico”, reagiu. Modéstia. Moraes estava, naquele momento, mexendo com os nervos de quem tivesse sentimento pelo país.”
Aqui, embora a autora pareça estar abordando aspectos da personalidade de Moraes, escancara um problema político muito sério: para Assis, é mais importante o discurso feito por Moraes do que pelos fatos. O caso da delação de Mauro Cid é uma violação flagrante dos direitos democráticos, pois Moraes foi flagrado coagindo o tenente-coronel. O próprio Moraes se declarou competente para afastar a acusação de coação, o que é absurdo. Não importa se ele tenha respondido os advogados com elegância ou não, importa que a condução do processo em si é ilegal.
E assim a autora continua seu texto, utilizando o mesmo expediente para aplaudir o julgamento do mérito — isto é, a condenação. E assim ela conclui:
“Sobe letreiro. Porém, o ministro Alexandre de Moraes continua o seu trabalho de leitura do seu voto, entrando em detalhes dos personagens fardados. Como é preciso acompanhar isso com muita atenção, a autora desse texto vai agora se dedicar a acompanhar o resto do julgamento, cujo resultado nós aguardamos por seis longos anos, com ansiedade. Nosso agradecimento ao ministro Alexandre de Moraes por tanta doação. Que a Justiça seja feita!”
Ao falar em “seis longos anos”, a autora entrega o jogo. Bolsonaro não está sendo julgado por ações concretas, que tenham acontecido em um determinado dia e em uma determinada hora. Ele está sendo julgado politicamente. Denise Assis quer ver Bolsonaro na cadeia porque o considera um adversário político.
A ideia em si de usar a cadeia para reprimir adversários é uma ideia reacionária, que só serve aos capitalistas, que controlam o Estado. Neste caso, trata-se de uma aberração ainda maior, visto que o juiz a quem Assis está dando o poder de condenar por divergências políticas é um ex-PSDB, um homem envolvido diretamente no golpe de Estado que derrubou Dilma Rousseff em 2016.




