Uma massa de ar frio de origem polar que atingiu a Faixa de Gaza nos últimos dias deixou ao menos 11 mortos, destruiu milhares de barracas de deslocados e agravou a situação humanitária em meio ao genocídio em curso. Segundo o Gabinete de Comunicação do governo em Gaza, o temporal, chamado localmente de Byron, provocou cerca de US$4 milhões em prejuízos e afetou diretamente centenas de milhares de pessoas que vivem em acampamentos improvisados.
De acordo com o informe oficial, crianças identificadas por familiares como Rahaf, Taim e Hadeel estão entre as mortes por exposição ao frio nas últimas 48 horas. Outras mortes foram atribuídas a inundações e ao desabamento de casas enfraquecidas pela destruição anterior, em meio a chuva intensa e ventos fortes. Autoridades locais informaram que equipes de defesa civil recuperaram 11 corpos e seguiram as buscas por uma pessoa desaparecida.
Barracas levadas pela água e casas desabando
O governo em Gaza afirmou que a tempestade alagou grandes áreas de acampamentos de deslocados e derrubou edificações já atingidas por ataques aéreos. O balanço indica ao menos 13 residências desabadas nas diferentes regiões do enclave. Além disso, mais de 27 mil barracas foram levadas pela água ou inundadas, e um total superior a 53 mil ficou parcial ou totalmente danificado, atingindo mais de 250 mil pessoas.
O quadro é agravado pelo fato de cerca de 1,5 milhão de moradores estarem abrigados em barracas ou estruturas improvisadas, sem proteção adequada contra o inverno e com infraestrutura urbana seriamente comprometida.
Ministério da Saúde registra novas vítimas e revisa números
O Ministério da Saúde em Gaza informou que, em 48 horas, hospitais receberam três mortos e atenderam 16 feridos, em ocorrências associadas ao frio e à destruição de estruturas danificadas. Em relatório estatístico divulgado no sábado (13), o órgão declarou que duas mortes foram registradas como novas entradas e que um corpo foi retirado dos escombros de um prédio que cedeu.
Ainda segundo o ministério, a combinação de temperaturas extremas e um recente sistema de baixa pressão vem contribuindo para novos desabamentos e já teria causado ao menos 10 mortes em episódios distintos. Desde o cessar-fogo em vigor desde 11 de outubro de 2025, o ministério contabilizou 386 mortos e 1.018 feridos; no mesmo período, 628 corpos foram recuperados, muitos em áreas anteriormente inacessíveis.
No acumulado desde 7 de outubro de 2023, as autoridades de saúde afirmam que o total chega a 70.654 mortos e 171.095 feridos. O número foi revisado para cima após a verificação formal de 277 mortes, aprovadas pelo Comitê de Verificação de Mártires, no período de 5 a 12 de dezembro de 2025.
Esgoto, lama e alimentos perdidos
Com as enchentes, materiais de abrigo, cobertores, utensílios de cozinha e itens de isolamento térmico foram destruídos. As áreas de deslocamento, segundo os relatos, transformaram-se em grandes poças de lama e esgoto. Centenas de vias não pavimentadas e rotas temporárias foram erodidas, o que prejudica o deslocamento de ambulâncias e equipes de resgate.
O temporal também danificou redes improvisadas de esgoto e encanamentos de água, elevando o risco de contaminação e surtos de doenças em zonas densamente povoadas. Houve ainda deterioração da segurança alimentar: estoques foram estragados e parte da ajuda distribuída foi perdida, enquanto áreas agrícolas alagadas e dezenas de estufas destruídas foram apontadas como novas fontes de prejuízo. Pontos médicos móveis registraram perdas de medicamentos e equipamentos.
Ataques continuam durante a tempestade
Mesmo com a tempestade atingindo a Faixa de Gaza, forças de ocupação de “Israel” realizaram demolições e disparos de artilharia a leste de Khan Iunis, enquanto aviões de guerra atacaram Khan Iunis, Rafá e o bairro de al-Tufá, na Cidade de Gaza, segundo informações reportadas por correspondente da emissora Al Mayadeen. Também houve artilharia contra áreas a leste da região central do enclave.
Ainda conforme o relato, Mohammad Sabri al-Adham foi assassinado após ser baleado por forças de ocupação em Jabalia al-Nazla, no norte de Gaza.
As autoridades em Gaza afirmaram que a escala dos danos do temporal foi agravada por restrições à entrada de barracas e materiais de abrigo, e denunciaram que “Israel” bloqueou dezenas de milhares de unidades.
UNICEF alerta para risco entre crianças
Organismos internacionais alertaram que tempestades de inverno representam ameaça imediata à população deslocada em Gaza. O UNICEF afirmou que a superlotação, a destruição de infraestrutura e o acesso limitado a água limpa aumentam o risco de surtos de doenças, sobretudo entre crianças.
A agência pediu que suprimentos de inverno estocados na fronteira sejam autorizados a entrar sem obstáculos, advertindo que atrasos podem resultar em novas mortes. Avaliações nutricionais realizadas em novembro registraram 9.300 crianças com menos de cinco anos sofrendo de desnutrição aguda.





