Um tal de Luís Francisco Carvalho Filho, que se diz advogado criminal (não seria promotor?), teve um artigo publicado na última semana pelo jornal golpista Folha de S.Paulo intitulado Tem golpista demais, sugerindo que o Brasil seria um país dominado por criminosos.
O texto começa se referindo ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o articulista considera que “deveria ter sido preso em 30 de março de 2023, no aeroporto, ao voltar da Flórida, depois de assistir de camarote ao quebra-quebra da Praça dos Três Poderes”. Por que deveria ter sido preso? Onde está na Lei que é crime “assistir de camarote” as manifestações que ocorreram em Brasília?
O autor não explica, mas não é difícil entender o que ele quer dizer. Ele considera que o simples fato de que os manifestantes que invadiram as sedes dos Três Poderes apoiam o ex-presidente é suficiente para determinar que Bolsonaro teria sido o “mandante” da operação. E, portanto, deveria ter sido preso. “Assistir de camarote”, no caso, é a forma de o autor dizer que Bolsonaro não repreendeu os manifestantes, não os criticou, não tomou nenhuma atitude para impedir que os manifestações evoluíssem para episódios de vandalismo.
Como denúncia política, Carvalho Filho pode ficar à vontade para criticar o que Bolsonaro fez ou deixou de fazer. Como denúncia jurídica, no entanto, não. Afinal, em um regime civilizado, as pessoas somente deveriam ser presas com base na Lei, e não na opinião de quem escreve na Folha de S.Paulo. Se formos tomar como princípio o que escreve o “advogado criminal”, qualquer liderança política poderá ser responsabilizada pela ação de um apoiador, o que, evidentemente, é absurdo. Seria o mesmo, por exemplo, que imputar a Guilherme Boulos, candidato a presidente da República pelo PSOL em 2018, a responsabilidade pelo esfaqueamento de Bolsonaro naquele ano, visto que o suspeito de ter dado a facada já foi apoiador do partido de Boulos.
“Deu no que deu. Com golpista não se brinca. A democracia agora é refém da parceria asquerosa e imoral com Donald Trump, que anima golpistas pelo mundo afora. O Brasil é um verdadeiro paraíso para os que tentam subverter a ordem constitucional ou realizar manobras desonestas.”
Curiosamente, o autor, ao falar de “manobras desonestas”, ignora o papel que o próprio jornal que publicou seu artigo apoiou a ditadura militar (1964-1985) e o recente golpe contra Dilma Rousseff (2016). É uma picaretagem. O autor seria mais honesto se assim resumisse sua política: aos amigos, tudo; aos inimigos, a “Lei”. E por Lei, entenda-se a lei da selva.
Não são poucos os articulistas que defendem arbitrariedades judiciais contra seus inimigos políticos. O que chama a atenção particularmente neste artigo é que Carvalho Filho tira a máscara e revela que essa concepção é essencialmente fascista.
Coerentemente com a ideia de chamar o Estado para esmagar aqueles com quem discorda politicamente, o autor chegará à conclusão de que a força do Estado deve ser utilizada para esmagar o povo em geral, em praticamente todas as situações.
“Do romântico golpe do baú ao intrigante golpe do ‘boa noite, Cinderela’, ainda se vê trama primitiva, ingênua e ilusionista em malandros que atuam na Praça da Sé. Tem golpista que finge ser do PCC para extorquir moradores de Paraisópolis. Tem irmão que passa a perna em irmão. Tem sócio que passa a perna em sócio. Sob o olhar complacente de governantes e juízes, sempre tem golpe na Previdência: sai no jornal, nada acontece e os aposentados pagam a conta.”
É a velha concepção da extrema direita sobre o problema da criminalidade. Segundo ela, há crime porque os homens são essencialmente criminosos e precisam ser punidos exemplarmente para impedir que o crime se alastre. O problema do Brasil — e o autor não explica por que — é que “tem golpista”.
O que o autor não se pergunta, em nenhum momento, é porque um irmão vai se dar ao trabalho de passar a perna no outro, quando muitas vezes a família é o único apoio que ele tem. Ou porque uns flagelados se armam para extorquir uns super-flagelados nas favelas. O motivo é muito simples: a realidade social no Brasil é insuportável.
Se metade do orçamento brasileiro não fosse roubado pelos bancos por meio do mecanismo da dívida pública, se as empresas estatais não fossem entregues a vampiros como Jorge Paulo Lemann, se o pouco que há de assistência social não estivesse sendo cortado, não haveria tanto crime.
A preocupação do autor com os “golpistas” escancara uma concepção fascista reinante entre os articulistas da grande imprensa. Para eles, a política criminosa dos banqueiros deve ser aplicada, às custas do sangue e do suor da população — e quem se revoltar contra isso, deve enfrentar a força do aparato de repressão do Estado.



