A recente ameaça de Donald Trump de impor tarifas ao Brasil foi interpretada por parte da esquerda pequeno-burguesa como uma grande ofensiva contra a soberania nacional. No entanto, trata-se, em essência, de uma manobra superficial, uma guerra de brinquedo travada no plano retórico, sem os elementos que caracterizam uma ação imperialista de grande envergadura.
O trumpismo, evidentemente, não constitui uma força progressista ou revolucionária. Não representa uma alternativa real à dominação imperialista. Ainda que adote um tom mais nacionalista, trata-se de uma corrente política que manobra diante do próprio imperialismo com o objetivo de avançar interesses próprios dentro da política interna norte-americana. Seu embate com o imperialismo é circunstancial e superficial, nunca levado às últimas consequências.
Mesmo condenando a tentativa de Trump de interferir na política brasileira — por meios que são próprios das potências imperialistas —, é importante destacar que o episódio está longe de configurar uma agressão direta ou relevante. A ameaça de tarifas visa obter um ganho político limitado e foi respondida, no Brasil, com gestos igualmente performáticos: o Supremo Tribunal Federal declarou que não se renderia, o presidente Lula acenou com sanções aos Estados Unidos, mas em seguida recuou. Tudo indica tratar-se de uma encenação.
Trata-se, portanto, de uma disputa menor. Se Trump representasse de fato o conjunto do imperialismo norte-americano, os setores fundamentais do Estado brasileiro — como o Judiciário — teriam se submetido de imediato. A própria história recente comprova isso: o Supremo Tribunal Federal organizou e sustentou diversos golpes de Estado, como o julgamento do mensalão, o apoio à Operação Lava Jato e a condenação de Lula, todos alinhados aos interesses diretos do imperialismo, em especial o norte-americano.
Diante disso, não há como chamar os discursos do governo e das instituições brasileiras de luta contra o imperialismo. Tanto o STF quanto o governo Lula podem não ceder à pressão de Trump — ao contrário da pressão do Partido Democrata, que fez com que Lula se alinhasse temporariamente à ofensiva golpista contra a Venezuela. O regime brasileiro apenas cederá caso julgue que os setores empresariais brasileiros — os únicos efetivamente afetados pela medida — estejam insatisfeitos.
A tentativa de transformar um embate secundário em uma “epopeia nacional” revela apenas a confusão política da esquerda que atua dentro dos marcos do regime. Enquanto a esquerda pequeno-burguesa se orgulha de “peitar” Trump, os seus “aliados”, como Alexandre de Moraes, estiveram envolvidos, há não muito tempo, em um golpe de Estado orquestrado pelos verdadeiros representantes do imperialismo.
Na realidade, a luta contra o imperialismo vem sendo apresentada, por esse setor da esquerda, como uma luta contra o trumpismo, descolada da crítica ao imperialismo como sistema global de dominação. O trumpismo, por sua vez, não conta com apoio das principais potências imperialistas: os países europeus não o respaldam, o Japão tampouco, e, nos Estados Unidos, o grande capital imperialista é majoritariamente contrário a Trump.





