O artigo O saldo político do tarifaço, de Aldo Fornazieri, publicado nesta segunda-feira(18) no Brasil247, apresenta um quadro realista da atuação do governo Lula, apesar de não tirar as conclusões corretas.
No primeiro parágrafo, o autor diz que “o governo e o presidente Lula, até agora, auferiram poucos dividendos políticos do tarifaço decretado por Trump. O momentum para obter esses ganhos parece ter chegado ao auge, entrando num processo de estancamento e declínio. Pode até começar a reverter-se em perdas. É mais uma oportunidade que o governo, Lula e os partidos de esquerda desperdiçam por conta da ausência de uma inteligência estratégica e de um comando político”.
O primeiro erro foi apostar que o tarifaço de Trump poderia trazer benefícios para o governo Lula, a menos, é claro, que este não tenha nada melhor para apresentar para sua base. Além disso, não se trata de “ausência de uma inteligência estratégica”. A estratégia, desde o início, foi fazer acordos por cima, desde a escolha do vice até a distribuição de cargos. Lula e sua equipe ignoraram o apoio da classe trabalhadora, o que enfraqueceu seu governo, e é devido a isso apresenta um baixo comando político.
Fornazieri se baseia em pesquisas que tentam detectar de quem é a culpa do tarifaço, se de Lula, dos Bolsonaros, ou de Alexandre de Moraes. Mas o fato é que para o que interessa aos partidos, o quanto isso vai interferir nas próximas eleições, pode-se dizer que pouca influência terá, dado que ainda falta muito para o pleito.
Segundo o articulista, “o governo, as esquerdas e Lula estão falhando na estratégia, no discurso, na retórica, na comunicação”. Mas a coisa vai além. A maioria da esquerda embarcou no discurso anti Trump, ou de “luta contra o fascismo”, a mesma lenga-lenga apresentada nas últimas presidenciais. Ocorre que isso nada mais é que uma extensão da política do Partido Democrata americano e do imperialismo.
As democracias liberais estão dando o tom que a esquerda segue e que só pode resultar em perdas e derrotas. Em vez de defender os interesses da classe trabalhadora, se luta contra um fascismo abstrato. Pior, a esquerda se une aos pais do fascismo em nome de derrotá-lo. Desse modo, o trabalhador vê que aquilo que deveria ser oposição é, na verdade, situação. Nesse quadro, o bolsonarismo se aproveita para se apresentar demagogicamente como uma força contra o sistema.
Fornazieri avalia que a posição de Bolsonaro e seus filhos prejudicou sua força política, o que deveria ter favorecido Lula. Diz que “diante de fatos tão negativos para o bolsonarismo e a direita e, aparentemente, tão positivos para o governo e as esquerdas, é preciso perguntar acerca das razões que impedem ganhos políticos significativos em termos de avaliação da opinião pública”.
O problema da esquerda pequeno-burguesa é não andar nas ruas. Se o fizesse, veria que muitas pessoas concordam com o tarifaço como uma retaliação às arbitrariedades de Alexandre de Moraes.
Para Fornazieri, “uma coisa que salta aos olhos é a falta de estratégia e de coerência no discurso dos governistas na abordagem do tarifaço”. Exatamente. O governo disse que soberania não se negocia, mas a primeira coisa que fez foi negociar. Parlamentares do PT vieram a público para dizer que o governo deu uma resposta “madura” ao americano. Mas madura é diferente de dura, não tem como esconder.
Eleições
Segundo o articulista, “muita gente joga suas esperanças para o cenário eleitoral de 2026, que vai se desenhando. A divisão da direita, com duas ou três candidaturas, seria um trunfo até para uma possível vitória de Lula no primeiro turno. É uma avaliação enganosa. Tudo indica que a direita sairá dividida no primeiro turno. Bolsonaro e sua família vêm perdendo força política. A virulência com que Eduardo e Carlos atacam governadores de direita é um sintoma disso”.
A divisão da direita não é um trunfo para Lula, é a estratégia da burguesia, basta ver o que aconteceu na Bolívia, onde dois candidatos de direita vão disputar a vaga para a presidência. Evo Morales foi retirado da corrida, e com ajuda da própria esquerda traidora, formando cenário perfeito.
No Brasil, com Bolsonaro fora e Lula enfraquecido, a “divisão” da direita é um ponto forte. Essa estratégia por pouco não venceu as últimas presidenciais na Colômbia. Na perspectiva de Fornazieri, “um candidato de direita emergirá como oponente de Lula para a disputa do segundo turno e terá o apoio dos outros”. Antes, porém, é preciso responder à pergunta: Lula terá condições de concorrer? Seu governo está cada vez mais enfraquecido, e a pressão contra vai aumentar exponencialmente, pois a burguesia não o quer.
Fornazieri acerta ao dizer que “as eleições de 2026 tendem a ser mais polarizadas do que as de 2018 e as de 2022. Ingredientes internos e internacionais existem em abundância para alimentar essa combustão”. Nada indica, porém, que Lula dará uma guinada à esquerda. Sua política econômica, capitaneada por Haddad, como já foi dito neste Diário, será seu coveiro.



