Estados Unidos

‘Tarifaço’ de Trump segue causando pânico entre especuladores

Taxas já custaram mais de US$6 trilhões às bolsas de valores

O presidente norte-americano Donald Trump afirmou que irá reagir às tarifas de importação impostas pela China — que, por sua vez, foram uma resposta às próprias tarifas impostas por Trump. Segundo o presidente, as importações chinesas sofrerão mais um aumento de suas tarifas de importação, o que deverá levar a uma escalada da guerra comercial entre o país mais poderoso do mundo e o país que mais desafia a sua dominação econômica.

Depois que Trump anunciou, na semana passada, que imporia uma nova tarifa de 34% sobre a China, a China aplicou um imposto de 34% sobre importações dos Estados Unidos. Agora, em declaração na sua rede social — a Truth Social —, Trump prometeu implementar tarifas adicionais de 50% sobre as importações oriundas da China, com efeito a partir da próxima quarta-feira (9). De acordo com declarações de autoridades do governo norte-americano, a nova tarifa anunciada por Trump será somada às anteriores, o que poderá levar o total de impostos que Trump impôs às importações chinesas desde que assumiu o cargo a inacreditáveis 104%.

Essas tarifas se somariam às que Trump já havia imposto a muitos produtos chineses durante seu primeiro mandato, além de tarifas aplicadas a produtos específicos por violações comerciais determinadas.

As medidas drásticas tomadas por Trump podem resultar em um enorme acréscimo nos custos de importação de objetos como roupas, celulares, produtos químicos e maquinário da China. A China é o segundo país que mais exporta para os Estados Unidos, ficando atrás apenas do México. Em 2024, os consumidores norte-americanos compraram US$440 bilhões em produtos vindos da China.

Trump declarou ainda que as negociações com a China “serão encerradas” caso a China não recue de sua promessa de retaliar as taxas norte-americanas. Para analistas da imprensa norte-americana, a ameaça de Trump também serviu de aviso a outros países que planejam responder a seu “tarifaço”. A União Europeia, por exemplo, estaria preparando uma lista de produtos norte-americanos que poderiam ser alvos de tarifas em breve.

Ao ameaçar a China, Trump fez referência explícita a sua ameaça anterior de que “qualquer país que retalie contra os EUA” seria “imediatamente confrontado com novas tarifas substancialmente mais altas, além daquelas inicialmente estabelecidas”. Contudo, afirmou que as negociações com “outros países” começariam imediatamente.

A política de “tarifaço” de Trump tem causado cada vez mais apreensão entre os especuladores. Em relatório publicado nessa segunda-feira (7), economistas do banco Goldman Sachs aumentaram o índice de probabilidade de uma recessão nos Estados Unidos de 35% para 45%. Esta é a segunda revisão do índice em uma semana, acompanhando uma onda crescente de previsões semelhantes por parte de bancos de investimento, diante da escalada da guerra comercial.

Na semana passada, o banco já havia elevado a estimativa de 20% para 35%, temendo que as tarifas anunciadas por Donald Trump causassem uma grande turbulência na economia global.

Dias depois, Trump anunciou tarifas ainda mais altas do que o esperado, o que provocou uma queda generalizada nos mercados financeiros internacionais. Desde então, pelo menos sete grandes bancos de investimento elevaram suas previsões de risco de recessão. O JPMorgan, por exemplo, agora estima em 60% a chance de uma recessão tanto nos EUA quanto no mundo, diante do temor de que as tarifas provoquem não apenas inflação interna nos Estados Unidos, mas também represálias de outros países — como a já anunciada pela China.

No domingo (7), o Goldman Sachs revisou também sua projeção de crescimento econômico dos Estados Unidos em 2025, de 1,5% para 1,3%. Ainda assim, essa estimativa é mais otimista do que a do Wells Fargo Investment Institute (WFII), que prevê apenas 1% de crescimento, enquanto o JPMorgan estima uma contração de 0,3% no PIB trimestral.

Um dos principais financiadores bilionários de Donald Trump, o gestor de fundos Bill Ackman, fez um apelo ao presidente dos Estados Unidos para que suspenda temporariamente as tarifas comerciais, alertando que o país corre o risco de provocar um “inverno nuclear econômico autoinfligido”.

Diante do colapso nos mercados financeiros, Ackman sugeriu que o governo norte-americano conceda um período de três meses para que outros países renegociem suas relações comerciais com os Estados Unidos. Seu alerta foi endossado por figuras importantes do mercado financeiro, como o presidente do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, que afirmou que as tarifas de Trump podem encarecer os produtos para os consumidores norte-americanos.

De acordo com a consultoria Elos Ayta, o mercado financeiro dos Estados Unidos perdeu US$9,948 trilhões desde que Donald Trump assumiu a presidência do país no dia 20 de janeiro. A mesma empresa afirmou que as bolsas de valores tiveram perdas de US$6,223 trilhões desde o anúncio das taxas de importação, em 2 de abril.

Durante uma reunião com o primeiro-ministro de “Israel”, Benjamin Netaniahu, ocorrida nessa segunda-feira (7), Trump confirmou que não pretende suspender as tarifas. Questionado por jornalistas sobre as mensagens contraditórias de sua equipe — se as tarifas seriam permanentes ou passíveis de negociação —, Trump respondeu: “as duas coisas podem ser verdadeiras”. E continuou:

“Temos muitos, muitos países querendo negociar acordos conosco — e serão acordos justos.”

O presidente também disse que haverá “outras coisas além das tarifas” que poderiam ser incluídas nas negociações, como “padrões e testes” de outros países que dificultam o comércio, segundo ele — sem, no entanto, detalhar o que seriam essas exigências.

Em publicação feita na Truth Social, Trump disse procurou justificar, junto a sua base, a sua política, chamando-a de “revolução econômica”:

“Fomos o ‘saco de pancadas’ burro e indefeso, mas isso acabou. Estamos trazendo de volta empregos e empresas como nunca antes. Já são mais de CINCO TRILHÕES DE DÓLARES EM INVESTIMENTOS, e crescendo rapidamente! ISTO É UMA REVOLUÇÃO ECONÔMICA, E NÓS VAMOS VENCER. AGUENTEM FIRME, não será fácil, mas o resultado final será histórico. Nós vamos FAZER A AMÉRICA GRANDE NOVAMENTE!!!”

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