No dia 8 de agosto de 2025, a União das Federações Europeias de Futebol (UEFA), entidade que rege o futebol europeu, publicou em seu perfil oficial no X uma nota de pesar carregada de cinismo. Com um texto enxuto e duas imagens do jogador palestino Suleiman al-Obeid, conhecido como o “Pelé Palestino”, a entidade despediu-se do atleta com as palavras: “Adeus, Suleiman Al-Obeid, o ‘Pelé Palestino’”. Um talento que deu esperança a incontáveis crianças, mesmo nos tempos mais sombrios.” A nota é um exemplo gritante de cinismo institucional. A UEFA, ao omitir os detalhes da morte de al-Obeid, esconde um fato essencial: o futebolista foi mais uma vítima do genocídio que assola a Palestina ocupada, assassinado a tiros pelo exército israelense enquanto esperava por ajuda humanitária em Gaza, no dia 6 de agosto.
Suleiman al-Obeid, de 41 anos, era uma figura icônica no futebol palestino. Com 24 partidas e dois gols pela seleção nacional, o jogador do Gaza Sport Club, onde marcou mais de 100 gols, era admirado por sua habilidade e carisma, ganhando o apelido de “Pelé Palestino” por sua capacidade de brilhar mesmo em meio às adversidades. Sua morte, no entanto, não foi um acidente ou uma fatalidade natural. Segundo relatos da Associação de Futebol da Palestina, ele foi alvejado por forças israelenses enquanto aguardava suprimentos vitais em um ponto de distribuição de ajuda em Gaza do Sul. Deixou esposa e cinco filhos, agora órfãos de um pai que lutava para alimentá-los em meio a um bloqueio humanitário imposto por “Israel”.
A nota da UEFA, ao evitar qualquer menção à causa da morte, procura acobertar os crimes de “Israel” na Palestina. A omissão é ainda mais escandalosa quando se considera que “Israel”, país responsável pelo assassinato de al-Obeid, é membro pleno da UEFA desde 1994. Essa integração, no entanto, não veio acompanhada de qualquer sanção por suas ações em Gaza, onde, segundo a ONU, mais de 1.300 palestinos foram mortos por forças israelenses ao buscar comida só nos últimos 3 meses.
Outro ponto que mostra a perfídia da UEFA é o contraste estarrecedor com o tratamento dado à Rússia. Desde o início do conflito na Ucrânia em fevereiro de 2022, a FIFA e a UEFA suspenderam todas as seleções e clubes russos de competições internacionais. A decisão, tomada em menos de uma semana após o início do conflito, foi amplamente elogiada como uma resposta firme a uma agressão militar. Clubes como o Zenit São Petersburgo foram banidos da Liga dos Campeões, e a Rússia perdeu o direito de sediar a final da competição em 2022. A suspensão permanece em vigor até o momento. A rapidez e a severidade contra a Rússia contrastam com o acobertamento das ações de “Israel”, que, segundo a Associação de Futebol da Palestina, já matou 662 pessoas ligadas ao esporte desde outubro de 2023, incluindo 321 do futebol.
A hipocrisia da UEFA não passou despercebida. Mohamed Salah, estrela do Liverpool, criticou abertamente a entidade em 9 de agosto, questionando: “você pode nos dizer como ele morreu? Onde e por quê?“ Sua voz se juntou a uma onda de indignação nas redes sociais, com figuras como Eric Cantona condenando o assassinato de al-Obeid como parte de um genocídio. A nota da UEFA, ao noticiar friamente a “morte” de al-Obeid sem trazer à tona o modo bárbaro como ele foi assassinado, mostra o caráter da UEFA, que é de uma organização do imperialismo.
A Palestina vive um genocídio, agravado por um bloqueio que restringe a entrada de alimentos e medicamentos. Em Gaza, onde al-Obeid foi morto, a fome é uma arma de guerra, e os pontos de distribuição de ajuda tornaram-se alvos. A Associação de Futebol da Palestina relata que o jogador foi atingido enquanto tentava garantir sobrevivência para sua família, um ato que reflete a resiliência de um povo sob ocupação. Sua morte não é isolada: faz parte de uma operação de limpeza étnica e ocupação, que inclui ataques a infraestrutura, e assassinatos de civis, entre eles, atletas como Al-Obeid.
Enquanto a Rússia enfrenta ostracismo por sua guerra na Ucrânia, “Israel” permanece intocado, competindo em eliminatórias para a Euro 2024 e outras competições da UEFA. A decisão de manter “Israel” na confederação, mesmo após o mundo testemunhar o que acontece na Palestina, expõe o cinismo da política imperialista. A UEFA, que se vangloria de promover união, silencia diante de um genocídio que ceifa vidas como a de al-Obeid, um símbolo de esperança que foi apagado por balas.





