O Brasil 247 publicou um artigo de Ricardo Mezavila intitulado Alexandre de Moraes, o pavor de Jair Bolsonaro. O texto apresenta Moraes como a grande vingança histórica contra Bolsonaro, exaltando-o como o braço forte da Justiça que finalmente cobraria as dívidas do ex-presidente. Mas a realidade é exatamente o contrário do que tenta vender o articulista: longe de ser inimigo da ditadura e dos torturadores, Alexandre de Moraes é a continuidade de Carlos Brilhante Ustra, a modernização da tortura e do arbítrio do regime militar.
Mezavila compara o gesto de Bolsonaro, que em 2016 homenageou Ustra, com o presente, onde Moraes supostamente encarnaria o “pavor” de Bolsonaro. A comparação é uma farsa. O que o articulista oculta é que Moraes, assim como Ustra, persegue adversários políticos sem limites. A única diferença é o método: Ustra usava o pau-de-arara, Moraes usa a delação premiada, a prisão preventiva eterna, a cassação sem voto popular.
O artigo do 247 celebra o “tempo como senhor da razão” que traria a Justiça de Moraes para acertar as contas. Mas que justiça é essa? É a justiça da delação premiada, o instrumento central de coerção e tortura psicológica. Trata-se da versão moderna daquilo que Ustra fazia nos porões: pressionar o acusado até que diga o que o carrasco deseja ouvir.
Ao aplaudir Moraes, Mezavila legitima a perseguição política travestida de legalidade. Prisões arbitrárias, censura às redes, inquéritos secretos — todos esses mecanismos, que nada têm de democráticos, são celebrados como “mão forte da Justiça”. Na prática, o que se defende é a continuidade da ditadura de 1964, agora com toga e sem quartel.
O texto tenta opor Bolsonaro e Moraes como inimigos mortais. Mas ambos pertencem ao mesmo regime de exceção erguido pela burguesia e pelo imperialismo. Bolsonaro exaltou os torturadores, Moraes os atualizou com verniz jurídico.
O artigo do Brasil 247, ao vender Moraes como vingador da democracia, apenas confirma o papel da esquerda pequeno-burguesa: legitimar o arbítrio judicial. O povo não deve cair nessa armadilha. O verdadeiro combate ao fascismo não é apoiar o “pavor de Bolsonaro” no STF, mas enfrentar a ditadura de toga que dá continuidade ao terror de Ustra.




