Sofia Halaby foi uma das pioneiras das artes visuais na Palestina e se destacou não apenas pela sua produção artística, mas também pelo papel que exerceu na preservação da memória visual do país antes da ocupação sionista.
Origens e Formação
Sofia Halaby nasceu em Jerusalém, em 26 de junho de 1905, filha de Jiryes Nicola Halaby e Olga Fanahud. Seu pai, um intelectual ligado à Igreja Russa, e sua mãe, professora, garantiram que ela crescesse em um ambiente de formação ampla. Em 1914, sua família se mudou para Kiev devido ao conflito entre os impérios otomano e russo, temendo represálias contra Olga, que era de origem russa. A família retornou a Jerusalém em 1917, e Sofia foi matriculada na escola inglesa para meninas, que mais tarde se tornaria o Jerusalem Girls’ College.
Além de uma formação acadêmica, Sofia foi incentivada desde cedo a desenvolver sua aptidão artística. Concluiu os estudos em 1924, dominando quatro idiomas – árabe, inglês, russo e francês.
Trabalho no Mandato Britânico e experiência na França
Após a formatura, trabalhou na administração do Mandato Britânico em Jerusalém, mas, mesmo tendo passado nos exames das universidades de Oxford e Cambridge, não foi promovida. Essa experiência a levou a deixar o cargo em 1928 para dedicar-se à arte.
No ano seguinte, obteve uma bolsa do consulado francês para estudar em Paris. Viveu no Foyer des Étudiantes, um espaço de intercâmbio entre artistas e intelectuais. Participou do Salon des Tuileries, onde expôs suas pinturas, e recebeu um prêmio da Académie des Beaux-Arts pelo retrato Portrait d’une femme em 1933. Em Paris, teve contato com movimentos artísticos europeus.
Arte e produção de cartuns políticos
Halaby retornou a Jerusalém antes da eclosão da Grande Revolta Árabe de 1936. Passou a lecionar no Schmidt’s Girls College e se envolveu com o movimento nacionalista palestino. Entre suas atividades, destacam-se os cartuns políticos que publicou na revista Palestine and Transjordan: Weekly Review, nos quais denunciava a política britânica no território, a Declaração Balfour e a colonização sionista.
Seus cartuns evidenciavam a conivência do governo britânico com os interesses sionistas, denunciando a influência política e econômica do movimento sionista na administração do Mandato Britânico. Em uma de suas ilustrações, utilizou a parábola de Sansão e Dalila para ilustrar a relação de dependência entre os dirigentes britânicos e as lideranças sionistas. Também abordou temas como a compra de terras por imigrantes judeus com financiamento externo e a política britânica de imigração, que favorecia a chegada de colonos.
A pintura como registro da Palestina
Com o fim da Revolta Árabe em 1939, Halaby concentrou-se na pintura como forma de registrar a paisagem da Palestina. Pintava em aquarela as cidades palestinas e suas paisagens naturais, retratando áreas de Jerusalém, Belém e Jericó. Sua produção artística tornou-se um testemunho visual da Palestina antes das transformações impostas pela ocupação.
Durante a Nakba, em 1948, sua família foi forçada a abandonar sua casa em Qatamon, em meio a ataques conduzidos por milícias sionistas. Mudaram-se para Jerusalém Oriental, onde permaneceram até a ocupação da cidade em 1967. Durante a guerra de 1967, Halaby e sua irmã esconderam e ajudaram na fuga de dez soldados jordanianos, evitando que fossem capturados pelo exército israelense.
Exposições e desaparecimento de sua obra
A partir da década de 1950, Halaby passou a expor seus trabalhos em Jerusalém. Utilizou espaços como a YWCA e participou de eventos artísticos como a Palestinian Woman Art Exhibition em 1986. No entanto, grande parte de sua obra foi perdida após sua morte em 1997, devido a fraudes cometidas por um advogado que fingiu ser amigo de sua família e se apropriou ilegalmente de seus bens.
Hoje, suas pinturas são reconhecidas como parte fundamental do patrimônio artístico palestino, registrando a paisagem do país antes das transformações impostas pela ocupação. Confira, abaixo, algumas de suas obras que não foram perdidas: