Nas últimas semanas teve destaque na imprensa a acusação de plágio contra a cantora britânia Adele por ter copiado um trecho do samba Mulheres, composto pelo mineiro Toninho Geraes, famoso na voz de Martinho da Vila.
A música em questão é Million Years Ago, assinada pela própria cantora e por seu produtor musical Greg Kurstin, que os jornais afirmam ser um grande interessado e pesquisador da música brasileira. Mulheres foi lançada por Marinho em 1995, fazendo grande sucesso, já Million Years Ago foi lançada em 2015.
Por conta do caso, áudios e vídeos comparando as duas músicas circulam pela internet. De fato, o trecho da música onde é apontado o plágio tem a melodia muito parecida, para não dizer igual, ao samba de Geraes. Levando em conta o revelado interesse do produtor de Adele pela música brasileira, tudo indica que houve ali algum tipo de cópia ou influência do samba.
Toninho Geraes entrou na justiça, segundo sua defesa, buscando uma saída conciliável. Na falta de resposta da gravadora e dos compositores, o processo acabou resultando na decisão de retirada da música de Adele das plataformas.
Em audiência no final do ano, Toninho Geraes chegou a chorar e passar mal porque a poderosa Universal Music, gravadora de Adele no Brasil, sequer apareceu na reunião.
Resumido o caso, algumas considerações são necessárias.
A criação artística é parte de um processo social. Nesse sentido, ninguém pode ser considerado dono de uma ideia como se aquela ideia fosse um bem material. Toda a criação artística é influenciada por outras que vieram antes e pode influenciar outras que virão depois. A lei de direitos autorais, portanto, só é concebível numa sociedade em que tudo é transformado em mercadoria.
Sobre a proibição de reprodução da música de Adele é mais uma dessas decisões ridículas do Judiciário. A música já está gravada, publicada e as pessoas que querem ouvir devem poder ouvi-las livremente. E de fato, a gravadora não vai respeitar nada disso.
O que aconteceu com Toninho Geraes mostra que essa lei existe principalmente para defender as grandes corporações. Para a Universal o compositor brasileiro não é nada e assim que os monopólios capitalistas tratam os brasileiros e qualquer povo dos países pobres.
Na minha opinião, o caso deveria servir para mostrar que a música brasileira é infinitamente superior à decadente cultura pop dos países imperialistas. A classe média tem uma tendência a desprezar a música brasileira e bajular o que nos é imposto de fora.
O caso de Adele não é o primeiro nem será o último. No final dos anos 70, o cantor escocês Rod Stewart copiou, em sua música Do Ya Think I’m Sexy? o refrão da música Taj Mahal de Jorge Ben. O caso foi resolvido com a doação dos lucros da música em um show beneficente da Unicef.
Um dos rifes mais conhecidos do rock, da música Smoke on the water, da banda Deep Purple, é uma cópia da introdução da música Maria Moita, de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes. Os compositores brasileiros, provavelmente tomaram conhecimento da coisa, mas nunca se pronunciaram.
Todos esses casos e tantos outros deveriam para mostrar a superioridade criativa da música brasileira. Usar a Justiça, proibir músicas e coisas do tipo não são saídas para o problema.