No texto anterior que escrevi, visava estabelecer uma linha política proletária que nos permitisse ajustar nossa tática à luz de um ponto de vista estratégico e mais geral.
Porém, ficaram algumas lacunas que quero discutir para que a análise possa ser complementada. A principal delas está relacionada à movimentação das classes sociais no país, no cenário atual, mas principalmente no decorrer do processo histórico da dinâmica capitalista brasileira.
Foi mencionado no artigo anterior que as principais instituições estatais (Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, todos federais) deram respostas contundentes ao governo norte-americano de Donald Trump (Republicanos). Isso realmente ocorreu, pelo menos em sua retórica.
A essência dessa posição das instituições, principalmente o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, reside fundamentalmente no receio de contrariar os anseios populares de defesa da soberania nacional, e não porque essas instituições tenham algum apreço patriótico pelo país.
O governo do presidente Lula e as organizações populares já haviam decidido se contrapor às posições neoliberais e em defesa dos capitalistas, que estavam se expressando de forma mais nítida no Congresso Nacional. Já havia uma campanha sendo colocada em marcha, mas que andava lentamente. A questão do tarifaço de Donald Trump acabou por contribuir para que as pautas do governo ganhassem o povo. E essa situação não aconteceu de forma espontânea: ao sair às ruas para defender a soberania nacional, a esquerda e as organizações populares já acoplaram essa reivindicação às demais que se encontram no cenário político atual, de maneira muito acertada.
A menção ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal foi feita principalmente porque, tratando-se de representantes políticos da burguesia brasileira, essas são suas maiores expressões.
A burguesia brasileira, seus representantes políticos e suas instituições estatais historicamente já se mostraram incapazes de levar até as últimas consequências a defesa dos interesses nacionais. O histórico de traição ao país é enorme. Recentemente, tivemos o golpe de 2016 e a fraude eleitoral que levou Bolsonaro ao Palácio do Planalto.
Em um país de capitalismo atrasado, a única classe social que consegue sustentar efetivamente a luta de libertação nacional, fornecer a força necessária para tal e garantir o êxito no alcance dos objetivos — com os contornos necessários que precisam ser estabelecidos — é o proletariado e suas organizações.
Nesse contexto de luta contra o imperialismo, a burguesia nacional, ao se ver ameaçada concretamente de perder a direção política do país, volta-se para as fileiras do imperialismo e atua de forma associada a este contra a classe operária. Quando se dissocia do imperialismo, é meramente por ocasião do momento, pois seu aspecto de dependência do imperialismo é algo essencial em seu metabolismo.
Assim sendo, a partir de uma perspectiva social e política das classes sociais fundamentais em seu processo de lutas, procurei apontar essa lacuna no texto anterior para mostrar que é necessário firmar uma posição que não esteja alicerçada em ilusões que podem nos custar muito caro futuramente. O proletariado e suas organizações populares devem, sim, aproveitar-se de aliados momentâneos, mas é preciso ter muito claro que se trata somente de uma aliança de ocasião e que, para além disso, é fundamental ter um programa político que nos permita conduzir o processo de libertação nacional à nossa maneira — e não a reboque de uma burguesia historicamente traidora da pátria em todas as suas tonalidades.




