A crise social que assola a Argentina sob o governo de Javier Milei revela, de forma cabal, o caráter antipopular e destrutivo da política neoliberal que se pretende impor, a ferro e fogo, em toda a América Latina. Mas o fracasso de seu governo não freia a ofensiva do grande capital — pelo contrário, serve de laboratório para novas ofensivas contra os trabalhadores do continente.
Após um ano e meio no poder, Milei conduziu o país a uma situação de estagflação brutal. A inflação, ainda altíssima, caiu do patamar insustentável de 13% para algo em torno de 2% ao mês, o que está longe de representar estabilidade para a população. Mas, ao mesmo tempo, a economia argentina mergulhou em uma paralisia completa. O desemprego explodiu e, hoje, já supera a inflação como principal preocupação do povo argentino. Em outras palavras: antes havia comida cara, agora não há sequer dinheiro para comer.
A destruição de empregos e o colapso do mercado interno são consequências diretas da receita neoliberal — cortes de gastos públicos, congelamento salarial, eliminação de direitos trabalhistas e privatizações. E mesmo diante do desastre, Milei segue dobrando a aposta. A última cartada foi um pedido desesperado de socorro ao imperialismo norte-americano: um empréstimo de US$20 bilhões articulado com Donald Trump, cujos bancos, no entanto, exigem garantias leoninas. O preço? Entregar ainda mais a soberania argentina ao capital estrangeiro.
A política econômica de Milei é um projeto de conjunto da burguesia internacional para a América Latina. O que se aplica hoje na Argentina, já está sendo testado no Peru, no Equador, em El Salvador e, agora, será testado na Bolívia. Este mesmo projeto será aplicado no Brasil, caso a burguesia encontre as condições para isso.
A burguesia não recua com o fracasso econômico de seus governos. Ela não liga a mínima se o governo Milei fracassar, ou se for necessário fazer qualquer tipo de manobra política. Ela só recua diante da força do movimento operário. E essa força, infelizmente, não se fez presente ainda na Argentina de Milei. A ausência de uma reação popular à altura permitiu que o governo aprofundasse o ataque. O mesmo acontecerá aos outros países, a menos que os trabalhadores se levantem.





