Esquerda

Só faltou dizer que Xandão anda sobre as águas

Jornalista escreve texto em que coloca Alexandre de Moraes, o filhote de Michel Temer, como um verdadeiro herói

Há poucos anos, o Brasil viu a grande imprensa alçar ao posto de celebridade dois juízes: Joaquim Barbosa e Sérgio Moro. Nas duas ocasiões, esses senhores estiveram à frente de verdadeiras aberrações jurídicas e das piores violações dos direitos democráticos mais.

Desta vez, é a imprensa de esquerda quem elege um ministro do STF a herói da democracia, como faz o artigo Alexandre de Moraes é o maior inimigo do Vale do Silício, assinado por Reynaldo José Aragon Gonçalves e publicado no Brasil 247 nesta quinta-feira (29). É necessário reproduzir na íntegra do primeiro parágrafo para se ter uma ideia do absurdo que o texto propõe:

O que acontece quando a mais alta corte de um país se vê obrigada a enfrentar não apenas crimes convencionais, mas uma máquina global de desinformação, manipulação algorítmica e guerra cognitiva? Essa é a situação única vivida pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil. Em meio à era das redes sociais descontroladas, onde verdades se tornam descartáveis e algoritmos premiam a histeria, o STF brasileiro passou a reunir, de forma inédita no mundo, provas documentadas, processadas e judicializadas sobre o papel das big techs na desestabilização de democracias”.

Gonçalves deve ter vivido fora do Brasil para escrever o que escreveu. A máquina global, neste país, como a definição sugere, é a Rede Globo; seguida, evidentemente, pela Folha de São Paulo, Estadão e demais órgãos da imprensa burguesa. A manipulação da realidade, a verdade descartável, a promoção de histeria é antiga nas mãos dessas empresas, não começou com a Internet.

O STF nunca se viu obrigado a enfrentar essa canalha, antes o contrário, trabalha para censurar as redes para que o monopólio da informação continue sob controle dessa gente, que é inimiga do Brasil. A Rede Globo apoiou todos os golpes de Estado ocorridos no País desde os anos 1940 e pode até dar aulas de como se desestabilizar regimes políticos, mas não será incomodada pelo STF. Diz Gonçalves:

“O epicentro desse embate tem nome e sobrenome: Alexandre de Moraes. Ministro do STF, relator dos principais inquéritos ligados à pandemia de COVID-19, aos ataques digitais contra as instituições e à tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023, Moraes se tornou a figura mais proeminente do Judiciário global no enfrentamento às plataformas digitais.”

Isso que foi dito acima é um absurdo. Um juiz tem que julgar, não enfrentar o que quer que seja. Alexandre de Moraes aproveitou a pandemia para se firmar como ditador, bloqueou de maneira totalmente arbitrária, por exemplo, as contas do Partido da Causa Operária (PCO) nas redes sociais. Reynaldo Gonçalves diz em seguida: 

“[Moraes] não apenas reagiu aos ataques, mas desvendou seus mecanismos. E por isso, tornou-se um inimigo declarado de gigantes como Meta, Google e X, e também do trumpismo internacional, que vê no caos digital um instrumento político.”

O jornalista nem se dá conta – ou não liga – para o seguinte absurdo: para “desvendar” o que quer que seja, é preciso investigar. Como, em uma democracia, um juiz poderia investigar algo?

Isso é papel da polícia. Um juiz que investiga, além de cometer uma ilegalidade, não estará apto a julgar um caso com isenção.

Vimos o que foi a Lava-jato, com Sérgio Moro conduzindo as investigações e fingindo julgar Lula e outros réus que caíram em suas garras.

Identitarismo

Gonçalves recheia seu longo artigo com palavreado identitário. Diz que as big techs “alimentam o discurso de ódio, promovem o negacionismo, facilitam o golpismo e comprometem a soberania dos Estados”. Se o articulista desse uma pequena olhada no que aconteceu durante o julgamento do Mensalão e da Lava-jato, o “o discurso” de ódio contra o PT foi uma constante.

A Revista Veja publicou toda sorte de mentiras em suas capas, colocavam Lula e Dilma como verdadeiros criminosos em suas manchetes. A Rede Globo transmitiu ao vivo o julgamento do Mensalão. Todos os dias tinha alguma operação da Polícia Federal televisionada, e dirigentes do PT eram exibidos em rede nacional sendo presos e algemados.

Durante a pandemia, ficou proibido questionar a qualidade das vacinas, isso era tratado como crime, como fake news, e também “negacionismo”. Ninguém podia falar nada.

Passados alguns anos, fica evidente que havia muito do que duvidar sobre vacinas e possíveis efeitos, e a cada dia aparecem fatos novos. Censurar o debate favoreceu apenas a indústria farmacêutica.

Por que foi importante a pandemia para Moraes aumentar seu autoritarismo? Naomi Klein, em seu livro A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo do Desastre, argumenta que governos e elites econômicas se aproveitam de períodos de crises — como desastres naturais, guerras e colapsos econômicos — para impor medidas políticas e econômicas impopulares ou autoritárias que normalmente seriam rejeitadas pela população.

Essas medidas incluem privatizações em massa, cortes de direitos sociais, desregulamentação da economia e outras políticas neoliberais que favorecem grandes corporações e a classe dominante. Klein chama isso de “doutrina do choque”, porque essas medidas são introduzidas enquanto a sociedade está psicológica e economicamente abalada pelo choque da crise — e, portanto, menos capaz de resistir.

É possível citar alguns exemplos: em 2005, após o furacão Katrina, que devastou o estado norte-americano de Nova Orleans, autoridades aproveitaram o choque para privatizar escolas públicas e desmontar serviços sociais, em vez de reconstruí-los.

Ainda nos EUA utilizaram o ataque às Torres Gêmeas para se instituir o Ato Patriota, que acaba com as garantias e os direitos dos cidadãos americanos que estavam previstos na Quarta Emenda.

Gonçalves destaca três ocasiões em que o STF é o protagonista: CPI da Covid-19, Inquérito das Fake News e o Inquérito do 8 de janeiro de 2023. Em todos os direitos dos cidadão vão sendo sistematicamente suprimidos. Nelas todas houve violação de direitos.

Super Xandão

O texto é quase inacreditável, chama Alexandre de Moraes, o filhotinho de Michel Temer, de “o maior inimigo do Vale do Silício”. E completa “Nenhum outro juiz no mundo acumulou, com tamanha consistência, protagonismo e coragem, o enfrentamento direto às big techs como Alexandre de Moraes – grifos nossos.

Gonçalves emenda que Moraes “não apenas investigou. Ele entendeu o funcionamento da engrenagem, rastreou seu impacto e enfrentou as suas consequências mais perigosas”. Nada disso é atribuição de um mini

O texto de Gonçalves transforma um ditador, um ministro que votou pela prisão de Lula em verdadeiro herói da democracia. Vergonhoso.

Ao defender Alexandre de Moraes, elementos da esquerda estão ajudando consolidar uma verdadeira ditadura que os mais ingênuos e despolitizados imaginam estar sendo combatida.

Em artigos como esse é que se pode contemplar a falência ideológica de uma esquerda que se tornou linha auxiliar da burguesia e de seus órgãos de imprensa.

Não é à toa que parte da população fique desiludida e acabe sendo atraída pelo discurso demagógico da extrema direita.

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