Governo Lula

Só a crítica pode evitar a desmoralização total do governo

Esquerdistas defendem que Lula não deve ser criticado, demonstrando oposição frontal ao próprio presidente, que logo no começo, pediu para ser "cobrado todo santo dia"

O sociólogo e publicitário Oliveiros Marques publicou um artigo no portal de esquerda Brasil 247, na edição do último dia 17, intitulado Dialogando com Kakay, debatendo com o advogado criminalista Antônio Carlos “Kakay” de Almeida Castro, do grupo de juristas direitistas Prerrogativas e autor de uma carta aberta ao presidente Lula tecendo críticas ao presidente.

No artigo supracitado, Marques defende que “as declarações do advogado sobre Lula ‘não poderiam ter sido mais inapropriadas, tanto na forma quanto no momento” e, repetindo uma resposta padrão dos setores mais conservadores da esquerda às críticas dirigidas à condução do governo, apresenta a seguinte caracterização:

“Quero crer que tenhas sido traído pela espontaneidade, e que teu acelerador não sejam os objetivos aos quais o teu texto contribui para serem alcançados pela extrema-direita brasileira. Mas não poderia deixar de te dizer: fizeste uma grande cagada.”

Em primeiro lugar, o que um analista minimamente sério deveria fazer é analisar, acima de tudo, se uma determinada crítica está certa ou não. Ao tratar as críticas de Kakay como “inapropriadas” e “uma grande cagada”, Marques simplesmente foge do debate político proposto pelo jurista, com o qual é possível concordar ou discordar, mas isso teria de ser feito respondendo aos argumentos apresentados.

Ao fazê-lo, Marques se une a um grupo de esquerdistas que tem como política a ideia de que Lula não deve ser criticado, uma vez que criticar o governo favorece a extrema direita, o que é uma falácia. Criticar a política de juros praticada pelo Banco Central é uma crítica que não favorece a extrema direita, mas a esquerda. Criticar a ingerência imperialista na questão do petróleo na Margem Equatorial e o uso demagógico da questão ambiental para impedir os estudos sobre as jazidas existentes na região tampouco beneficia o bolsonarismo, assim como as críticas à posição vergonhosa do governo em relação à Revolução Palestina e a falta de empenho em apoiar a Resistência são posições que fortalecem a esquerda e jamais seriam benéficas para nenhum setor da direita.

Antes da erupção da crise atual, este Diário criticava a política econômica direitista do Sr. Fernando Haddad justamente por saber qual o resultado lógico de se aumentar impostos sobre importados de valor irrisório (a famosa “taxa das blusinhas”), cortar benefícios destinados a aliviar a vida dos pobres e colocar um teto ao reajuste do salário mínimo. Toda a crise que explodiu após o caso Pix teria sido evitada caso a pressão contra a direitização do governo na economia tivesse força para reverter a guinada à direita que se operava.

Não é verdade, portanto, que críticas ao governo favorecem a direita. É preciso, antes, ver o conteúdo da crítica, analisá-la, para, aí sim, emitir um juízo do gênero. Curiosamente, o que Marques e os setores da esquerda pequeno-burguesa que por ele se expressam fazem ao defender que Lula não deve ser criticado, é criticar Lula sem o dizer. Afinal, é uma oposição frontal ao que o próprio presidente pediu, ainda no seu primeiro ano de governo, quando declarou:

“Quero deixar claro: nós não precisamos de puxa-saco. Um governo não precisa de tapinhas nas costas, ele precisa ser cobrado todo santo dia para que possamos aprimorar nossa capacidade de trabalho. É isso que espero de vocês: cobrem, cobrem e cobrem, para que possamos fazer o nosso melhor (grifos nossos).”

O que Lula defende é até algo relativamente óbvio, que escapa a quem não faz política no mundo real e que pode ser simplificado no famoso dito popular “quem não chora, não mama”. Ao contrário do que defende Marques e um amplo setor da esquerda pequeno-burguesa, o governo pode e deve ser criticado. Essa é a forma da esquerda fazer uma pressão contrária à da direita, que certamente defenderá seus interesses criticando o governo a seu modo.

Talvez ciente de que seu governo era frágil e seria severamente pressionado, o presidente cobrou a esquerda e os trabalhadores que o cobrassem, para que a direita não fosse o único campo a fazê-lo e assim, fossa também o único atendido.

Com isso dito, não é a crítica da esquerda que fortalece a direita, mas a falta dela. A falta de uma crítica que direcione o governo Lula para uma política ligada aos interesses dos trabalhadores significa deixar que o governo atenda banqueiros, monopólios e setores antagônicos à sua base social, levando-o a se desmoralizar e enfraquecer.

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