Polêmica

Setores do PT não admitem impopularidade da fiscalização do PIX

Florestan Fernandes Jr. procura retratar o fracasso da medida de Fernando Haddad como um simples "problema de comunicação"

Após o fracasso total do governo Lula na questão da fiscalização do Pix e outras movimentações bancárias, muitos ideólogos e articulistas governistas vieram a público para tentar demonstrar que todo o episódio foi apenas um problema de comunicação do governo Lula. A tese defendida é que o problema seriam as fake news da extrema-direita, e não a medida extremamente impopular do ministro Fernando Haddad.

É o caso de Florestan Fernandes Jr., que, em sua coluna no sítio Brasil 247, intitulada Batismo de fogo do ministro Sidônio Palmeira, trata da questão sob essa ótica. Para ele, o episódio todo se resumiu a “disparos de centenas de fake news para desacreditar uma medida da Receita Federal que visava à ampliação da transparência nas operações realizadas via Pix e cartão de crédito”. Fernandes Jr. ainda relaciona o caso a um “encontro reservado entre Trump e o CEO da Meta, Mark Zuckerberg”.

A forma como Fernandes Jr. descreve a medida da Receita Federal revela que um setor do PT e da esquerda simplesmente não consegue levar em consideração as necessidades da população mais pobre do Brasil, mostrando uma incompreensão gigantesca de sua situação. Resumir uma medida que, na prática, acabaria com o sigilo bancário de um grande número de pessoas a uma questão de ampliação de “transparência” é subestimar a inteligência dos brasileiros.

É evidente que uma medida desse tipo tem como objetivo aumentar a arrecadação de impostos. Se a fiscalização será maior, é para garantir que mais pessoas paguem impostos. O critério estabelecido para que a fiscalização recaia sobre uma pessoa — movimentação de R$ 5 mil — demonstra que ela afetará diretamente uma parcela significativa da população de menor renda. Qualquer vendedor ambulante pode movimentar R$ 5 mil por mês em suas contas.

A ideia, defendida pelo governo, de que essa medida seria necessária para aumentar a sua arrecadação para que ele tenha mais dinheiro para executar suas políticas, simplesmente não condiz com a realidade, tendo em vista que uma parcela gigantesca do PIB brasileiro vai para o bolso dos banqueiros em forma de pagamento da dívida pública, e é daí que deveria sair o dinheiro para aumentar a arrecadação do governo.

Florestan Fernandes Jr. argumenta que o governo foi obrigado a revogar a medida devido à “sequência de postagens de parlamentares e influenciadores digitais bolsonaristas”. No entanto, a realidade é que a medida foi revogada por ser extremamente impopular. Essencialmente, tratava-se de uma tentativa de retirar dinheiro da população pobre para beneficiar os banqueiros.

Florestan lamenta: “A decisão do governo em revogar a Instrução Normativa RFB 2247 foi comemorada pela extrema-direita. Conseguiram seu objetivo de impor uma derrota ao governo, mesmo que para isso tenham ludibriado e prejudicado boa parte da população menos favorecida que se utiliza do Pix nos seus pequenos negócios.” Ele tem razão ao afirmar que a extrema-direita conseguiu impor uma derrota ao governo, mas insinuar que a população foi “ludibriada” nesse caso demonstra que ele acredita que o povo brasileiro é manipulável e incapaz de pensar por conta própria. Na realidade, todos perceberam as reais intenções do ministro Haddad. O que foi dito pela extrema-direita apenas reforçou o que já era evidente: a Receita Federal quer fiscalizar as transações da população para aumentar a arrecadação de impostos.

Na tentativa de reduzir toda a crise a um problema de comunicação, Fernandes Jr. afirma que o episódio foi um “batismo de fogo para o novo ministro da Secom, Sidônio Palmeira” e que “ele sabe, como bom publicitário, que, para conter uma mentira cristalizada, o melhor remédio é retirar rapidamente o bode da sala”. Contudo, é preciso questionar: qual seria a “mentira cristalizada”? Seria a suposta “taxação sobre o Pix”? O vídeo de Nikolas Ferreira, com impressionantes 300 milhões de visualizações e considerado o carro-chefe da campanha da extrema-direita, não mente sobre a questão. Ele descreve exatamente o que a medida propunha. O problema não é uma mentira, mas sim a escolha do governo por uma política econômica desastrosa e impopular, que está minando seu apoio popular.

Fernandes Jr. segue afirmando que “a área econômica do governo Lula vai muitíssimo bem” e que “a extrema-direita quer desconstruir um dos maiores legados do governo Lula 3”. Essa visão, no entanto, ignora a realidade enfrentada pela população brasileira. Não há como listar medidas econômicas do governo que tenham favorecido a população ou promovido o desenvolvimento do país. O povo segue desempregado, com baixos salários e, sob a política de Haddad, preocupado com a possibilidade de pagar ainda mais impostos, correndo o risco de ficar sem dinheiro até para necessidades básicas.

Por fim, Fernandes Jr. conecta a defesa da medida da Receita Federal à sua defesa da censura nas redes sociais, criticando o anúncio de Zuckerberg sobre o fim da checagem de fatos nas plataformas da Meta. Ele vê isso como um afrouxamento das restrições a “discussões polêmicas”, como “questões da identidade de gênero, imigração e discurso de ódio”, se utilizando do identitarismo para procurar defender a censura.

Surpreendentemente, mesmo em um ambiente de censura, a extrema-direita conseguiu produzir um engajamento espetacular, alcançando 300 milhões de visualizações e dando um verdadeiro “soco no estômago” do governo Lula.

O caso da fiscalização do Pix e a choradeira de setores do PT com relação às redes sociais é um demonstrativo de que o que eles acham que vão alcançar com essa campanha é silenciar totalmente a extrema-direita nas redes para que o governo Lula possa fazer o que bem entende sem ser criticado, o que, além de criminoso, é irreal e absurdo, pois o imperialismo e a burguesia não agem no sentido de favorecer Lula, de forma alguma.

No que diz respeito à comunicação, a verdadeira preocupação do PT deveria ser o fato de que agora enfrenta a extrema-direita, e não mais o PSDB, e uma das práticas principais das campanhas da extrema-direita é justamente a demagogia com a população pobre. Um exemplo é justamente a campanha atual, em que Nikolas Ferreira não apontou, como faria um político burguês do PSDB, uma má capacidade administrativa ou uma suposta corrupção dos petistas (embora isso tenha sido mencionado, não foi o problema central), mas procurou demonstrar que se trata de um ataque contra a população pobre e de uma tentativa de tirar o seu dinheiro. O nazismo e o fascismo italiano iam além: falavam de implantação do “socialismo”, diziam que sua política era contra os banqueiros e outras coisas do tipo, mesmo que isso tudo tenha sido mentira e o fascismo tenha sido uma política que beneficiou imensamente banqueiros e capitalistas.

Nesse sentido, não basta repensar a comunicação; é fundamental mudar totalmente a política econômica, substituindo medidas impopulares por iniciativas que melhorem as condições de vida da população. Um bom começo seria substituir o ministro Fernando Haddad por alguém comprometido com as demandas dos trabalhadores e da maioria da população.

Para isso, é necessário implementar políticas que garantam um aumento significativo no salário-mínimo, como um reajuste de pelo menos 100%, reduzir a jornada de trabalho para 35 horas semanais, eliminar o imposto de renda para a população pobre e denunciar abertamente os banqueiros, parasitas do estado brasileiro. Essas ações não apenas fortaleceriam o apoio popular ao governo, mas também criariam uma base sólida para resistir aos ataques do imperialismo, da burguesia e da extrema-direita.

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