Organização das Nações Unidas

1ª dia de Assembleia da ONU é marcada por demagogia imperialista

Nesta semana, vários países anunciaram o reconhecimento do Estado da Palestina

Nesta terça-feira (24), líderes mundiais se reuniram em Nova Iorque para o primeiro dia da Assembleia Geral anual da Organização das Nações Unidas (ONU).

Antonio Guterres, o chefe máximo das Nações Unidas, abriu o evento com um discurso que falando da importância da “unidade” em um momento em que o papel da organização internacional que ele lidera tem sido cada vez mais contestada:

“Oitenta anos atrás, em um mundo arrasado pela guerra, os líderes fizeram uma escolha: cooperação em vez de caos, lei em vez de anarquia, paz em vez de conflito, e essa escolha deu origem às Nações Unidas, não como um sonho de perfeição, mas como uma estratégia prática para a sobrevivência da humanidade”, afirmou Guterres.

Ele acrescentou, expressando a falência da instituição imperialista: “oitenta anos depois, confrontamos novamente a questão que nossos fundadores enfrentaram, mas de forma mais urgente, mais interligada e mais implacável.”

Guterres declarou que o mundo havia entrado em uma era de perturbação imprudente e sofrimento humano implacável, instando os líderes reunidos a observar como os princípios fundamentais das Nações Unidas estavam sob ataque e a ouvir como os pilares da paz e do progresso estavam cedendo sob o peso da impunidade, desigualdade e indiferença.

“Nações soberanas invadidas, fome transformada em arma, verdade silenciada, fumaça subindo de cidades bombardeadas, raiva crescente em sociedades fraturadas, mares subindo, litorais inchando, cada um é um aviso, cada um é uma pergunta: que tipo de mundo escolheremos?”, ele acrescentou.

“Em Gaza, os horrores se aproximam de um terceiro ano monstruoso. Eles são o resultado de decisões que desafiam a humanidade básica. A escala de morte e destruição está além de qualquer outro conflito em meus anos como secretário-geral”, disse ele.

Em seu discurso, o Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, fez ainda referência ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), o tribunal superior da ONU, que havia emitido várias ordens sobre Gaza, incluindo pedidos para que “Israel” tomasse medidas para prevenir o genocídio, permitisse investigações e aumentasse a ajuda humanitária.

“Nada pode justificar os ataques terroristas horríveis do Hamas em 7 de outubro e a tomada de reféns, os quais condenei repetidamente. E nada pode justificar o castigo coletivo do povo palestino e a destruição sistemática de Gaza”, disse ele.

Guterres então prosseguiu, pedindo um cessar-fogo imediato, a libertação dos reféns israelenses, acesso total à ajuda humanitária na Faixa de Gaza, enfatizando que “não devemos desistir da única resposta viável para uma paz sustentável no Oriente Médio: a solução de dois Estados”.

Apesar de todo o cinismo de Guterres, uma vez que foi a própria ONU que entregou os territórios palestinos para a formação do Estado de “Israel”, sua fala expressa a preocupação cada vez maior do imperialismo com a crise humanitária na Faixa de Gaza. Esta crise tem causado revoltas no mundo inteiro, a exemplo da greve geral na Itália nesta semana, que contou com episódios de enfrentamento entre a juventude e as forças policiais.

A crítica ao Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), ainda que profundamente reacionária, pois o grupo luta pela libertação de seu povo, também expõe o sucesso da luta armada palestina. Afinal, para o imperialismo, é preciso continuar combatendo o Hamas, uma vez que, durante dois anos de guerra, “Israel” foi incapaz de abalar de maneira significativa a estrutura do partido guerrilheiro.

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, discursou após Guterres, já que o Brasil é tradicionalmente o primeiro Estado a fazer um discurso na Assembleia Geral.

Lula iniciou sua fala com sua já conhecida campanha em defesa da “democracia”:

“Em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades. Cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias físicas e digitais e se opõem à imprensa. Mesmo sob ataques sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há 40 anos por seu povo depois de duas décadas de governos ditatoriais.”

Como já foi revelado em outros momentos, a campanha do governo brasileiro é, na realidade, uma campanha por uma frente com o imperialismo. Afinal, o que há de mais antidemocrático no mundo é o imperialismo e os seus governos criminosos, que realizam assassinatos, como é o caso do Estado de “Israel”, que atropelam o parlamento, como é o caso do governo francês e que reprimem duramente a população, como é o caso do governo britânico. A crítica de Lula serve apenas para uma perseguição despolitizada aos setores de extrema direita que, por não controlarem a grande imprensa, atuam na Internet com sua propaganda.

Ao falar do Brasil, o presidente está, obviamente, defendendo a ditadura do Supremo Tribunal Federal (STF), instituição que melhor representa os interesses do imperialismo no Brasil.

Sem citar o governo norte-americano, Lula disse ainda que “a agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável”, criticando indiretamente o governo de Donald Trump pelas sanções impostas ao Brasil. Ainda que diga ser “inaceitável”, o governo brasileiro segue tentando negociar com o governo norte-americano;

Sobre a condenação recente de Jair Bolsonaro (PL), Lula afirmou que, “há poucos dias e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito”. Sobre o julgamento conduzido pelo STF, que é o principal responsável pela liquidação do Estado de Direito no Brasil, o presidente Lula disse que Bolsonaro “foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas”.

Não é fato. O julgamento teve uma série de irregularidades, como o fato de que o relator do processo, Alexandre de Moraes, era também vítima e acusador. O direito à defesa, por sua vez, não existiu, visto que não houve tempo hábil para a análise dos documentos juntados pelos acusadores.

Ao tratar dos conflitos mundiais, o presidente procurou apresentar uma posição supostamente “neutra”, mas que, na verdade, revela uma capitulação diante do imperialismo.

Diante da ameaça de uma agressão militar dos Estados Unidos contra a Venezuela, Lula se limitou a dizer que:

“É preocupante a equiparação entre a criminalidade e o terrorismo. A forma mais eficaz de combater o tráfico de drogas é a cooperação para reprimir a lavagem de dinheiro e limitar o comércio de armas. Usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento. Outras partes do planeta já testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia evitar, com graves consequências humanitárias.

A via do diálogo não deve estar fechada na Venezuela. O Haiti tem direito a um futuro livre de violência. E é inadmissível que Cuba seja listada como país que patrocina o terrorismo.”

Em nenhum momento, o presidente se preocupou em defender a soberania da Venezuela, nem em reivindicar o retorno dos navios de guerra norte-americanos e o fim do bloqueio a Cuba.

Sobre a Palestina, o presidente fez questão de, uma vez mais, criticar os “atentados terroristas perpetrados pelo Hamas”, dizendo que estes “são indefensáveis sob qualquer ângulo”. Após atacar covardemente a resistência palestina, Lula falou que nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza”. Este é, de forma resumida, o programa do imperialismo para Gaza: fazer cessar a agressão israelense, que está provocando uma crise política enorme, e ao mesmo tempo desmoralizar o Hamas, para que este possa ser destituído.

O presidente dos EUA, Donald Trump, usou seu discurso para falar sobre seu “profundo” engajamento na busca por um cessar-fogo em Gaza, quase dois anos após o início da guerra e depois que mais de 65.000 pessoas foram mortas por “Israel” com total impunidade e apoio dos Estados Unidos.

“Temos que parar a guerra em Gaza imediatamente. Temos que pará-la”, disse Trump, acrescentando: “Temos que fazer isso. Temos que negociar a paz. Temos que trazer os reféns de volta. Queremos todos os 20 de volta”.

Trump também argumentou que o Hamas “repetidamente rejeitou ofertas razoáveis para fazer a paz”, uma alegação que foi rejeitada pelo grupo palestino, que repetidamente acusou “Israel” de bloquear um acordo de cessar-fogo e até mesmo aceitou termos previamente estabelecidos pelo próprio “Israel”.

O presidente dos EUA também reiterou sua alegação de que o reconhecimento de um Estado palestino por vários países imperialistas nos últimos dias foi uma “recompensa” para o Hamas.

“Três meses atrás, na Operação Martelo da Meia-Noite, sete bombardeiros americanos B2 lançaram bombas de 30.000 libras cada sobre a principal instalação nuclear do Irã, obliterando totalmente tudo. Nenhum outro país na Terra poderia ter feito o que fizemos”, afirmou Trump.

Trump repetidamente fez referência à situação na Ucrânia, afirmando que inicialmente acreditava que acabar com a guerra seria mais simples do que se provou ser, porque seu relacionamento com o presidente russo, Vladimir Putin, tinha, em suas palavras, sempre sido bom.

Ele afirmou que a guerra da Rússia na Ucrânia é prejudicial à imagem internacional da Rússia, enquanto também criticou duramente as nações da União Europeia por suas contínuas compras de petróleo e gás russos, apesar da maioria ter feito esforços para reduzir sua dependência.

Em um momento inusitado, o presidente norte-americano se referiu com simpatia ao seu homólogo brasileiro, chegando a dizer que teve “uma química excelente” com Lula. Ambos os presidentes deverão conversar por telefone ou videochamada na semana seguinte.

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