Enquanto o Estado assassina em massa nas favelas, colunistas como Eliana Sousa Silva seguem em sua ladainha pacifista, incapazes de dizer o óbvio: a Polícia está está fazendo exatamente o que foi criada para fazer.
A maior chacina policial da história do Brasil, ocorrida no Complexo do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, com 132 mortos, virou mais uma oportunidade para o cinismo da imprensa capitalista. Em sua coluna na Folha de S. Paulo, intitulada Quanto vale a vida de moradores de favelas?, Eliana Sousa Silva, fundadora da ONG Redes da Maré, oferece seu lamento domesticado, que termina por cumprir um papel vergonhoso: despolitizar o massacre e canalizar a indignação popular para um beco sem saída institucional.
Ela escreve:
“O que estamos vivendo no Rio de Janeiro é uma situação de total desrespeito a todas as leis e garantias de direitos constitucionais.”
O problema, porém, não é esse. O massacre não foi apenas um “desrespeito” à Constituição — foi exatamente a aplicação prática e cotidiana do aparato de repressão Estado capitalista brasileiro, cuja Constituição é letra morta diante da guerra armada contra os pobres.
A autora insiste em uma tese tão comum quanto falsa: a de que o problema das operações policiais nas favelas é a ausência de inteligência, de controle, de políticas públicas.
Ela afirma:
“A inteligência, que deveria ser uma aliada no enfrentamento e na criação de alternativas para garantia do direito à segurança pública dos moradores de favelas, não existe.”
Mas desde quando a polícia — que mata, reprime, invade casas, tortura e executa sumariamente — foi criada para garantir segurança ao povo? A polícia não é despreparada. Ela é treinada para matar. Executa seu papel histórico de classe: proteger os interesses da burguesia contra a massa explorada e oprimida.
A ideia de “corrigir” ou “reformular” essa política é uma completa ilusão. Não há reforma possível para uma instituição que cumpre, com exatidão, sua função genocida.
Em nenhum momento a autora propõe a única medida realmente necessária para proteger a população pobre e negra: o fim da Polícia Militar, o desmantelamento das forças repressivas do Estado, a organização da autodefesa dos trabalhadores e moradores das favelas.
Uma operação “fora da curva”? Não. É a regra.
O artigo dá a entender que o massacre foi algo “fora do normal”, um “excesso”:
Mas não é uma novidade. Toda a história da atuação da polícia nas favelas é marcada por assassinatos em massa, execuções sumárias, invasões, tortura e terror. Este massacre não é uma distorção da regra — é a própria regra funcionando em sua plenitude.
Não há saída dentro da ordem. Não há como “melhorar” a polícia. É preciso dizer claramente: a única segurança possível para o povo é acabar com a polícia, organizar a autodefesa e preparar a população para lutar contra este Estado assassino.





