“É inacreditável o presidente dos Estados Unidos no papel de gângster que chantageia nosso país com tarifas para obrigar o STF a conceder a criminosos brasileiros o mesmo indulto que ele concedeu à horda fascista que invadiu o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 para impedir a posse do seu adversário eleito presidente”. Começa assim o texto de Jefferson Miola deste sábado (12), no Brasil 247, e intitulado É ingênuo acreditar no profissionalismo e compromisso democrático das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas.
Por que seria “inacreditável”? Cuba, por exemplo, está sancionada há várias décadas. O mesmo para Venezuela, Irã, Rússia, Iraque, Afeganistão, etc. Os criminosos, no caso, são manifestantes que, como os do Capitólio, não estavam armados e não estavam, apesar da histeria que se espalhou pela maior parte da esquerda, tentando dar um golpe de Estado.
Segundo Miola, “o gesto de Trump evidencia a associação orgânica da extrema-direita estadunidense com o bolsonarismo”. Mas Bolsonaro não teria subido ao poder sem o golpe de 2016.
Miola segue dizendo que “considerando-se tal vínculo, o episódio permite inferir que se Trump estivesse no poder em 2022 e não Biden, as Forças Armadas brasileiras teriam recebido apoio estadunidense para avançarem o golpe”. Fica a questão: por que não fizeram isso em 2016?
O autor continua, dizendo que “reportagem do jornal inglês Financial Times de 21/6/2023 revelou que as cúpulas militares só não viraram a mesa para impedir que Lula assumisse por falta de apoio dos EUA”. O imperialismo precisa de golpes militares? Não necessariamente. Faz um bom tempo que se tem recorrido a golpes judiciários, ou revoluções coloridas, como os casos de Manuel Zelaya (Honduras), Fernando Lugo (Paraguai), o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff no Brasil, o Euromaidan na Ucrânia, dentre muitos.
O autor disse ainda que o Financial Times “detalhou ‘uma pressão silenciosa de um ano pelo governo dos EUA para conclamar os líderes políticos e militares do país a respeitarem e protegerem a democracia’”. Desde quando se respeita “democracia”, ainda mais quando se trata dos governos das semi-colônias?
De acordo com o texto, o assessor de segurança nacional do Biden Jake Sullivan, que esteve no Brasil, “se convenceu que ‘Bolsonaro seria totalmente capaz de manipular os resultados da eleição ou negá-los, como Donald Trump havia feito’. Em razão desta percepção, a Administração Biden decidiu aumentar a pressão sobre Bolsonaro e militares”, disse.
Parafraseando o título de Miola, seria muita ingenuidade acreditar que Biden seja contra qualquer tipo de golpe ou manipulação de resultados. Não se deve esquecer que era ele o vice de Obama em 2016; e, não custa nada inferir que foi Biden quem orquestrou o golpe contra a ex-presidenta Dilma.
Joe Biden, quando ainda senador, foi um dos maiores incentivadores da invasão ao Iraque. Ele é co-autor do genocídio em Gaza. Para ficarmos em dois exemplos.
Suposições
Miola, mais para o final do texto, afirma “se Trump estivesse na Casa Branca em 2022, Bolsonaro e as cúpulas militares teriam passe livre para executar o golpe e mergulhar o país numa ditadura cruenta”.
O que Miola está tentado defender em seu texto é que existe uma luta entre democracia x fascismo. Biden é o democrata, ainda que por conveniência, enquanto Donald Trump é a pior coisa que o mundo já presenciou.
Trata-se de uma falsificação da história. Durante os mandatos de Barack Obama ocorrem inúmeros golpes de Estado pelo mundo. Foram os “democratas” que financiaram e treinaram os nazistas na Ucrânia, que financiaram grupos como o Estado Islâmico e colocaram um membro da Al-Qaeda no comando da Síria.
É preciso lembrar que amplos setores da esquerda brasileira declararam sua preferência pela reeleição de Joe Biden, o principal candidato do imperialismo, e essa política de democracia x fascismo é uma capitulação, uma política de colaboração de classes, que pretende jogar a classe trabalhadora no colo das “democracias liberais”, nome pelo qual atende o imperialismo.
O maior fomentador do fascismo é o próprio imperialismo, que não quer Bolsonaro na presidência porque precisa de um presidente sem voto, sem base social, um franco-atirador, como Javier Milei, para implementar no País um ataque brutal à economia e aos direitos da população.
Senhor das guerras
Joe Biden foi o principal fomentador da guerra na Ucrânia, não tem pudores em um usar um país como bucha de canhão para agredir a Rússia. Se é preciso mandar armas para os nazistas, Biden é o homem certo para cumprir essa missão.
Biden também iniciou um assédio enorme contra a China, usando Taiuã para tal finalidade. Uma de suas ambições era a de estender a OTAN do Atlântico para o Pacífico, e já preparava várias coalizões militares na Ásia e Oceania para a agredir os chineses.
Pintando Trump como o grande demônio, Miola coloca uma cortina de fumaça no fato de que os “democratas” estão caminhando a passos largos para um Terceira Guerra Mundial. A democrática Alemanha já se tornou a quarta força militar do planeta.
Enquanto se fala em perigo de hipotética ditadura militar, estamos mergulhados em uma ditadura judiciária de fato, e que se apoia nos setores mais direitistas da esquerda, que dizem combater o racismo e os discursos de ódio.
Se Trump, supostamente, daria um golpe de Estado no Brasil, Biden deu efetivamente o golpe, não ficou apenas nas intenções.




