Os regimes políticos do mundo todo vêm se tornando cada vez mais repressivos nos últimos anos. Grupos assumidamente fascistas e até nazistas, como é bem conhecido no caso da Ucrânia, por exemplo, vêm surgindo e se desenvolvendo. Os inimigos fundamentais do fascismo são a classe operária, suas organizações e seus líderes, portanto, a esquerda. No entanto, um dos maiores problemas para o enfrentamento contra os fascistas é uma análise profundamente equivocada do que foi o fascismo antes e do que é agora.
O jornalista Moisés Mendes, colunista do Brasil 247, publicou no último sábado (8) uma coluna intitulada “Trump avança porque o mundo ficou covarde”. No texto, Mendes expõe a ideia de que Trump seria o principal líder mundial do fascismo moderno e argumenta que Hitler só foi derrotado porque as instituições e governos “democráticos” do mundo se opuseram ao nazismo. Nada poderia estar mais longe da verdade.
Em primeiro lugar, o fascismo foi uma política do próprio imperialismo, que hoje são chamados de “democratas” por pessoas como Mendes. A grande burguesia imperialista italiana e alemã foram quem financiaram Mussolini e Hitler. Trump, ao contrário, é um político dissidente desse setor e seus principais opositores são os criminosos mais violentos do mundo. Joe Biden, que seria o equivalente de algum suposto democrata que teria derrotado o nazismo, é responsável pelo assassinato covarde de centenas de milhares de pessoas na Palestina.
Isso não significa que Trump não possa se tornar um verdadeiro líder do fascismo mundial. No entanto, assim como Hitler, ele precisaria do apoio das pessoas que Mendes acredita que derrotaram Hitler a seu tempo.
Os supostos principais inimigos de Hitler a que Mendes se refere, implicitamente, são os presidentes dos EUA, Reino Unido, França e Stálin. Todo mundo sabe que o democratíssimo presidente dos EUA lançou 2 bombas atômicas no Japão, que já estava derrotado, matando várias centenas de milhares de pessoas e destruindo duas cidades japonesas. Essas cidades estavam populadas por idosos, crianças e todo tipo de civil. Foi apenas um ato genocida, sem nenhum sentido militar.
Winston Churchill, do Reino Unido, era um fascista, ele mesmo, ideologicamente e com sua política colonialista, muito conhecida pelos indianos, vítimas de uma repressão brutal. Além disso, o rei da Inglaterra era um apoiador convicto do próprio Hitler. Na França, o governo simplesmente entregou o país para os nazistas.
Sendo assim, é escabroso que a esquerda faça apologia desses criminosos de guerra e genocidas, que seriam hoje representados por pessoas como Joe Biden, Macron, Olaf Scholz, etc, genocidas também eles mesmos.
No entanto, o ponto principal não é esse. O ponto é que essas pessoas e governos seriam os responsáveis pela derrota do nazismo. Isso também não é verdade. E dessa confusão se desenvolve toda uma política ultra reacionária para os dias de hoje.
Quem derrotou o fascismo foi a classe operária organizada, foram os diversos levantes e rebeliões que os povos fizeram nos países ocupados. Diante da total falência dos regimes políticos “democráticos” na Itália, França e Alemanha, os trabalhadores fundaram ou refundaram suas próprias organizações e se estruturaram para derrotar os fascistas.
Um bom exemplo disso é a resistência francesa. Supostamente, o imperialismo francês estava contra o nazismo, mas nada fez. Quem efetivamente lutou, se sacrificou e contribuiu para a derrota e a expulsão dos alemães da França foram os grupos guerrilheiros que se organizaram de forma independente do governo.
Sobre a Itália, é bem conhecida a cena de Benito Mussolini morto, pendurado de cabeça para baixo. Não foram os exércitos dos governos aliados que fizeram isso. O homem que matou Mussolini era um partisan comunista.
E o principal responsável pela derrota definitiva de Hitler foi o Exército Vermelho, da União Soviética. Ainda que Stálin não fosse dirigente de um país imperialista nem fosse considerado um democrata, provavelmente Moisés Mendes, ao escrever sua coluna, também estava pensando nele.
Stálin, no entanto, fez um acordo com Hitler e confiou que ele não invadiria a União Soviética. Portanto, quando Hitler fez o que era óbvio e invadiu, o prejuízo foi muito maior do que o necessário. Ainda assim, apesar das baixas, quem desferiu o golpe mortal no nazismo foi o povo russo. O Exército Vermelho foi construído a partir da Revolução Russa de 1917, era o exército de um Estado Operário. Essa construção e a defesa que o povo russo fez da revolução é o que expulsou os nazistas e levou, inclusive, ao suicídio de Hitler, derrotado.
Dito isso, a maneira de se derrotar o fascismo que se desenvolve hoje é aprender com a história, com o que realmente aconteceu e não confiar nos falsificadores. A experiência da classe operária mostra que não é se aliando aos governos burgueses e imperialistas que o fascismo é derrotado. O fascismo é apenas uma das políticas do imperialismo e não uma política contrária a ele. Para derrotar Trump, primeiro é preciso se desvincular dos Bidens e Macrons, ao invés de contar com eles.