Na edição de 8 de abril do programa Análise da 3ª, transmitido pela Rádio Causa Operária, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, analisou os principais acontecimentos da conjuntura internacional e nacional. Os alvos centrais de sua crítica foram a política tarifária de Donald Trump — vista com desorientação pela esquerda —, o fracasso do governo Lula e o avanço da ditadura judicial contra o PCO.
Tarifaço de Trump: esquerda abraça o neoliberalismo
Rui Costa Pimenta iniciou o programa criticando a postura da esquerda diante das novas tarifas econômicas anunciadas pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump. “Esse é o programa do Trump desde sempre”, explicou. “Ele se colocou claramente no sentido de retomar a indústria norte-americana, então as tarifas são dirigidas principalmente a esse problema”.
Além disso, apontou para as causas econômicas de fundo que impulsionam essas medidas, como o gigantesco endividamento imperialista:
“A internacionalização levou os EUA ao maior endividamento da história da humanidade até hoje: 36 trilhões de dólares, o que é uma situação insustentável para o próprio imperialismo”.
Apesar de incertas quanto aos resultados, Rui não descartou que as tarifas possam provocar uma nova recessão global:
“É possível — e acho até provável — que não, que isso resulte em uma crise econômica internacional muito grande, sem grandes vantagens para os EUA.”
O ponto central, contudo, é a postura da esquerda diante disso. Rui denunciou o apoio de setores progressistas ao chamado “livre comércio”:
“A esquerda brasileira, e uma boa parte da esquerda mundial, de repente se colocou do lado do neoliberalismo porque o neoliberalismo é o chamado ‘livre comércio’. Vamos esclarecer logo de cara que não tem livre comércio nenhum, isso é uma farsa.”
Ele lembrou que o PT, ainda na década de 1990, realizou uma campanha contra a ALCA — proposta de “livre comércio” liderada pelos EUA —, e criticou o blog O Cafézinho por publicar uma fala elogiosa de Ronald Reagan contra Trump, sugerindo que o ex-presidente republicano seria mais liberal: “O pessoal é muito doido, vamos falar o que é verdade. Eles não sabem o que estão fazendo. Tudo bem, você pode criticar o Trump por conta das tarifas, mas a crítica não pode ser que você defende o neoliberalismo”.
Governo Lula: adaptação ao neoliberalismo e fracasso político
Ao comentar a política econômica brasileira, Rui foi categórico:
“Nesse momento, você precisa de uma política que seja totalmente diferente dessa política de aumentar os juros e pagar a dívida pública. Agora, o governo Lula não tem condições de fazer isso.”
Segundo ele, a gestão atual representa uma adaptação ao regime neoliberal, sem perspectiva de mudança real.
“O Lula entrou em uma política de adaptação ao neoliberalismo, e o Trump está destruindo essa política e vai causar um caos aqui no Brasil”, declarou. Para Rui, a solução exigiria medidas que o governo Lula não está disposto a tomar: “Precisaria não pagar a dívida pública, reverter as privatizações. Só com essa política de reformas ‘água com açúcar’ não vai acontecer.”
O resultado dessa postura é visível:
“O governo Lula, até o momento, é um fracasso. Não conseguiu nenhum resultado. Colocou em marcha uma política que é uma política neoliberal — ainda que seja uma política neoliberal leve —, não fez nenhuma reforma social significativa, não conseguiu grande coisa no que diz respeito à recuperação econômica.”
Rui criticou também a trajetória do PT, que ascendeu como alternativa de esquerda mas hoje governa com o programa do PSDB: “O Lula subiu como sendo um governo de esquerda e acabou fazendo um governo mais para PSDB do que nacionalista, como ele havia proposto fazer no começo”.
A aliança com a chamada “terceira via” é, para Rui, um dos principais entraves ao governo.
“O PT e o governo Lula adotaram uma política de aliança com o que a gente chamou, em uma época, de Terceira Via — quer dizer, os políticos do grande capital nacional e o imperialismo. Em última instância, uma aliança com o imperialismo.”
Essa aliança é sustentada por uma ideologia que Rui desmascara: “O que ele chama de defesa da democracia é, na verdade, uma tomada do Estado por forças autoritárias. O STF é uma ditadura — não é que vai ser ou pode ser uma ameaça à democracia, é uma ditadura. Censura total no Brasil, você não pode falar mais nada. A arbitrariedade judicial é completa”.
Ato bolsonarista revela força da mobilização da direita
Enquanto setores da esquerda minimizam a força da extrema-direita, Rui alertou para a mobilização real do bolsonarismo:
“Há um crescimento da mobilização, isso é inegável. Não adianta falar que foi um fracasso.”
Comparando com a mobilização da esquerda, o dirigente foi contundente: “A esquerda chamou uma manifestação contra a anistia e foram, na melhor das hipóteses, três a quatro mil pessoas”.
Rui denunciou ainda o caráter antidemocrático da perseguição a Bolsonaro:
“Ele está sendo vítima de perseguição — nunca vamos falar uma coisa diferente disso, porque é a realidade”. E fez um paralelo com os tempos de perseguição ao PT: “Quando o Lula estava na cadeia, reunir um número equivalente de deputados do PT era impossível.”
Perseguição ao PCO: o preço por não se dobrar ao regime
Encerrando o programa, Rui denunciou a intensificação da perseguição judicial ao Partido da Causa Operária. “Só não temos processo da esquerda”, afirmou. Entre os casos, citou depoimentos de dirigentes do partido à Polícia Federal, inclusive no Grupo de Combate ao Terrorismo. “Temos companheiros que estão respondendo a processos por racismo — que seria, na verdade, o chamado antissemitismo”, relatou.
Rui lembrou ainda que o partido enfrenta dois processos de cassação de registro: um movido por sionistas e outro pelo procurador Paulo Gonet, indicado por Lula. “Porque o TSE é uma das pernas, também, dessa ditadura judicial que existe no Brasil”, explicou.
“O problema é o PCO — esse que é o problema”, concluiu. “Estamos sendo perseguidos porque nós somos o PCO: partido que não abaixa a cabeça diante do Judiciário; que não vai ficar por aí repetindo aquilo que a Rede Globo fala; […] e não vamos também aceitar o processo contra o Bolsonaro só porque é contra o Bolsonaro. E isso daí tem um custo”.
Para Rui, a perseguição ao partido é a prova da importância de sua atuação.
“Acho importante falar para o pessoal que está assistindo que eles deveriam nos ajudar a denunciar a perseguição contra o PCO. Porque se trata, na verdade, da defesa de uma política que serve aos interesses do povo trabalhador brasileiro. A perseguição é por isso, pura e simplesmente”.