Em plena onda de frio, com madrugadas que já registraram temperaturas abaixo dos 11°C, a Prefeitura do Rio de Janeiro vem sendo denunciada por promover ações de repressão contra moradores de rua. Uma reportagem do portal G1 revelou que agentes da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) têm retirado cobertores, colchões e até papelões utilizados por moradores de rua para se protegerem das baixas temperaturas.
Vídeos gravados por entidades como a Organização Não Governamental (ONG) É Por Amor mostram cenas impactantes, como a retirada de papelões debaixo de pessoas que dormiam nas calçadas de Copacabana. Enquanto voluntários distribuíam quentinhas, os agentes públicos confiscavam os poucos pertences usados como abrigo contra o frio. “Até quando teremos que ver as pessoas em situação de rua terem o pouco que têm sendo levado por uma política higienista?”, questionou a ONG em uma publicação nas redes sociais.
A reportagem do G1 diz ter ouvido dezenas de pessoas que relataram casos semelhantes. “Eles tiram o pouco que a gente tem. Eu estava com uma colcha grossa e levaram. A gente tenta fugir do sereno, mas quando chove é impossível. Não dorme, só treme”, declarou um morador de rua em Copacabana.
Na Praça da Cruz Vermelha, uma mulher relatou ter quase perdido roupas e documentos levados pelos agentes. “Quando eles veem as sacolas, colchões, cobertores volumosos, eles vêm logo e tomam tudo. Eu tive que explicar que moro na ocupação e que estou aqui porque estou desempregada”, afirmou.
Em frente a uma agência bancária, outro relato denuncia o uso da força por parte dos agentes municipais: “veio a Ordem e me tomou [o cobertor]. E não tem desenrolo. Se eu falar algo, eles vêm com o cassetete e descem a porrada”. Segundo uma catadora de recicláveis, um homem chegou a ser espancado por resistir à retirada de seus pertences, e precisou ser levado ao hospital: “ele já estava com um resfriado forte e apanhou tanto que não conseguia respirar”.
As ações têm sido classificadas por entidades e defensores públicos como violações de direitos humanos.
Questionada pela reportagem, a Secretaria de Ordem Pública não respondeu diretamente sobre as denúncias de apreensões de cobertores, colchões e papelões. Em nota genérica, afirmou que realiza ações de “desobstrução de áreas públicas” e que atua em conjunto com a Secretaria de Assistência Social.
A prefeitura do Rio de Janeiro é chefiada pelo direitista Eduardo Paes (PSD), apresentado como um aliado do governo Lula e até mesmo como um potencial candidato à presidência da República em 2026. O tratamento dispensado aos moradores de rua, no entanto, mostra que a direita “civilizada”, base da frente ampla promovida pelo Partido dos Trabalhadores (PT), é tão ou mais fascista que o bolsonarismo.



