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Brasil

Prisão por ‘contexto’: a nova moda arbitrária

Colunista da Folha reconhece que nem lulistas acreditam que houve tentativa de golpe em 8 de janeiro, mas defende um incremento da campanha de histeria

Doutora em ciência política pela USP e colunista do jornal imperialista Folha de S. Paulo, Camila Rocha publicou no órgão, no último dia 5, um artigo intitulado 8 de janeiro precisa de contexto refletindo sobre o ato bolsonarista, que completa dois anos nesta quarta-feira. “Ainda que a invasão à praça dos Três Poderes tenha se tornado simbólica”, diz a colunista, “suas imagens isoladas não são capazes de evocar a gravidade do ocorrido para parte expressiva da população”, dizendo ainda:

“Para muitos, as fotos e vídeos de milhares de pessoas comuns vestidas com as cores nacionais invadindo a praça dos Três Poderes e quebrando vidros de prédios indicam um ato de vandalismo reprovável, porém sem conexão com uma tentativa de golpe.”

De fato, após tantos meses com a máquina de propaganda da imprensa imperialista se esforçando para tratar a manifestação bolsonarista como “golpe”, ninguém fora um reduzido círculo de esquerdistas pequeno burgueses cai nesse conto do vigário. Nem mesmo, ressalta-se, a esquerda, como destaca a autora:

“Ainda que 55% dos brasileiros afirmassem que Bolsonaro tentou promover um golpe para se manter no poder, 65% compreendiam o 8 de janeiro apenas como um ato de vandalismo. Mesmo entre eleitores de Lula e petistas essa interpretação do 8 de janeiro como mero vandalismo é majoritária.”

Ora, poucos interpretam a manifestação bolsonarista de 8 de janeiro como mais do que um ato mais radicalizado porque, de fato, ele nunca foi mais do que isso. A esquerda já fez manifestações muito mais radicalizadas do que a marcha ocorrida em Brasília, com invasões e confrontos inclusive. Deveriam os camponeses que militam pela reforma agrária serem presos por manifestações dedicadas a pressionar por esse fim? Índios que não faz muito, ocupavam prédios públicos para acelerar a regularização do reconhecimento de suas terras, deveriam ser condenados por isso?

Claro que não. É a isso que se dirige, no entanto, toda a agitação que Rocha defende, ao que acrescenta: “é fundamental fornecer o contexto em que o 8 de janeiro ocorreu, do contrário, sua memória irá permanecer sem o impacto necessário”. Mais concretamente, a palavra “contexto” usada pela autora significa atribuir ao 8 de janeiro, não o significado real dele, mas uma interpretação de que visava um golpe de Estado, o que é um valor subjetivo atribuído ao ato, com base no que se entende que seriam as intenções dos manifestantes e não no que foi concretamente feito durante a manifestação.

Se era uma massa que nada mais queria do que manifestar o desagrado de cidadãos com o retorno de Lula à presidência – algo perfeitamente democrático, diga-se de passagem -, pouco ou nada importa. Se eram pessoas que encontraram caminho para expressar esse desagrado de maneira mais enérgica e assim o fizeram, também não importa, assim como não importa o fato de ela, a manifestação, ter se dispersado tão logo a polícia do DF tenha aparecido. O importante é o valor atribuído ao que mobilizava os participantes, que é a oposição a um governo eleito em defesa de outro governante.

Criminalizar isso, como propõe a direita tradicional e parte da esquerda, é o verdadeiro golpe que está sendo dado no povo. Aproveitando-se de um clima favorável, os setores da direita alinhados com o imperialismo impulsionam uma campanha de histeria, dedicada a fazer o que pede Rocha, “contextualizar o 8 de janeiro”. Com essa “contextualização”, mesmo que a maioria do povo brasileiro não tenha visto nada além de uma manifestação mais radicalizada, quase mil pessoas sofrem ou sofreram perseguição judicial, das quais 223 estão presas em regime fechado, com penas variando de três a 17 anos de prisão.

Expressando o que pensa o imperialismo e um setor aloprado da esquerda, está pouco. A reação adotada até aqui não tem o “o impacto necessário”, razão pela qual a autora defende a “contextualização” do evento, fundamentalmente, para que se prenda mais ativistas políticos. Hoje se pede a prisão de ativistas bolsonaristas, mas as ameaças constantes ao MST, ao FNL e outros movimentos de luta pela terra é um claro indicativo de quem essa campanha realmente visa. O imperialismo quer acabar com qualquer oposição política a seus interesses, jogando seus adversários no cárcere e usando os bolsonaristas como chamarizes para isso. Ao entrar na campanha achando que ela vai parar na extrema direita, a esquerda não faz mais do que cavar a própria cova.

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