Brasília

Revolta dos índios enfrenta bloqueio da burocracia e repressão

A direção do evento, ligada à esquerda identitária do PSOL, PT e Rede, buscou evitar que o encontro fosse um grande fórum democrático e deliberativo

Terminou na última sexta-feira (11), em Brasília, o 21º Acampamento Terra Livre (ATL), no qual estiveram presentes mais de cinco mil pessoas — em sua maioria índios, mas também estudantes, professores, antropólogos, ativistas da esquerda em geral e políticos dos mais diversos setores.

O fórum, pela sua organização, em muito se assemelhou a um congresso estudantil, desses que, nos últimos anos, vêm sendo (des)organizados pela burocracia da UNE e da UBES, com o claro intuito de impedir um amplo debate sobre os problemas estudantis e evitar a aprovação de uma luta geral da juventude contra os seus algozes.

No caso do ATL, a direção do evento — a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) —, ligada à esquerda identitária do PSOL, PT e Rede (com relações com partidos da direita), buscou evitar que o encontro fosse um grande fórum democrático e deliberativo, uma assembleia geral dos índios que impulsionasse uma luta nacional diante dos gravíssimos problemas que afetam os índios em todo o País.

Duros ataques

O ATL ocorreu num momento de ofensiva contra os índios, em que os ataques contra as demarcações estão a todo vapor com o Marco Temporal e a paralisia do governo. Chama atenção a violência e a perseguição do Estado nos casos contra os Pataxós, na Bahia; os Avá-Guarani, no Oeste do Paraná; e os Guarani-Caiouá, no Mato Grosso do Sul.

Também gera enorme revolta entre os índios as manobras a favor da “conciliação”, com as quais a direita — sob a liderança do ministro Gilmar Mendes, do STF — busca restabelecer o Marco Temporal (considerado inconstitucional pelo próprio STF) e forçar os índios a aceitar negociações que só favorecem os latifundiários. Esses, entre outras coisas, receberiam milhões ou bilhões por uma pequena parcela das terras que roubaram dos índios — terras que seriam “compradas” pelo Estado para dissipar a luta, principalmente das retomadas.

Ao contrário de um ATL combativo e de luta, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), ligada às ONGs e à chamada “Bancada do Cocar”, composta por parlamentares do PSOL, procurou transformar essa mobilização em uma festa e em um centro de pregação da política identitária que, no caso dos índios, prega que eles devam “lutar” principalmente por questões culturais e de interesse do imperialismo, e não por questões decisivas, de vida ou morte, para os índios brasileiros.

Crise e ausência de Lula

Essas direções vinculadas ao governo procuraram também acalmar os setores mais revoltados (muito amplos), apresentando como reivindicações centrais dos índios a “questão do clima”, a preservação abstrata da Amazônia e até mesmo a defesa de setores ultraminoritários dentre os índios, como os “LGBTQIA+”, deixando de lado a luta pela demarcação, pelas retomadas, por água, comida, saúde, educação etc.

A crise dessa política reacionária entre os índios é tamanha que a presença do presidente Lula no ATL, no último dia do evento, foi cancelada. Isso porque o governo nada tem de concreto a apresentar aos índios diante de sua completa capitulação diante do latifúndio.

Esses setores buscam também canalizar toda a revolta dos índios para fazer propaganda eleitoral de políticos que nada contribuem para a sua luta e que estão em busca de cargos e vantagens no aparelho do Estado.

Repressão

A política repressiva contra os índios — que, nas últimas semanas, se expressou em assassinatos, todo tipo de violência e prisões de lideranças — se manifestou em Brasília na brutal repressão da PM do DF, do governo Ibaneis Rocha (MDB), e da Polícia Legislativa contra um protesto realizado por índios em frente ao Congresso Nacional. No ato, dezenas de índios foram agredidos, incluindo a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), em mais uma violenta ação contra a liberdade de manifestação, realizada exatamente na “Casa do Povo”, hoje dominada pela direita golpista.

Os gritos que tinham como principal palavra de ordem “Demarcação já!” foram atacados com o uso de bombas de gás lacrimogêneo lançadas de helicópteros e outras armas, o que evidencia a guerra que é levada adiante contra os índios pelo regime político.

Uma intervenção combativa

O Coletivo Terra Vermelha, formado por índios ligados ao PCO e simpatizantes, participou do ATL denunciando a sabotagem à luta dos índios, que começou ainda na organização das caravanas dos estados — nas quais integrantes do coletivo e de outros setores combativos foram impedidos de embarcar nos ônibus, inviabilizando sua participação. Enquanto isso, milhões eram gastos pela burocracia contra o movimento, com recursos públicos e financiamento de organismos internacionais ligados ao imperialismo (via ONGs).

Os militantes do Coletivo Terra Vermelha intervieram no ATL denunciando que não há o que comemorar, ao mesmo tempo em que defenderam a demarcação contra a “conciliação”; água e infraestrutura nas aldeias; retomadas; saúde e educação; financiamento agrícola e de agroindústria para as terras dos índios; e outras reivindicações fundamentais para o desenvolvimento das terras e a melhoria de vida para todos os índios no Brasil.

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