Quinta-feira, 31 de agosto de 2023. O presidente de Uganda decide aposentar compulsoriamente onze generais das Forças Armadas. O mesmo havia acabado de acontecer em Ruanda e em Camarões. Quarta-feira, 30 de agosto de 2023. Uma junta militar anuncia “à comunidade internacional e à comunidade nacional” que o presidente Ali Bongo foi deposto. Golpe militar no Gabão. Quarta-feira, 26 de julho de 2023. Uma junta militar anuncia a derrubada do presidente Mohamed Bazoum. Golpe militar no Níger.
A sucessão de eventos ocorridos em apenas dois meses de 2023 mostram como a situação política na África se encontra em meio a uma grande efervescência. Como os golpes efetivamente se desenvolverão, ainda é cedo para afirmar. No entanto, uma coisa já é clara e objetiva: eles se dão contra a dominação imperialista francesa nesses países.
Tudo se torna ainda mais bem definido quando levado em conta alguns outros acontecimentos. Por um lado, se levarmos em consideração os golpes militares que ocorreram em 2021 na Guiné e no Máli e o golpe militar que aconteceu em 2022 em Burquina Fasso, os acontecimentos mais recentes na África se revelam como a aceleração de um processo de grande envergadura que já vinha acontecendo há, pelo menos, três anos.
Outros acontecimentos relevantes são os encontros entre representantes dos países oprimidos. Pouco antes do golpe no Níger, ocorreu a cúpula dos países africanos com a Rússia. “Os chefes de Estado africanos devem parar de se comportar como marionetes dos imperialistas”, declarou, no evento, Ibrahim Traoré, presidente de Burquina Fasso, revelando a tendência de enfrentamento com os países ricos por parte dos setores mais nacionalistas dos regimes africanos. Não por acaso, o golpe no Gabão também aconteceu pouco depois de um evento de extrema importância: a 15ª Cúpula dos BRICS, que teve como uma de suas principais consequências a adesão de países africanos como Egito e Etiópia.
O que todos esses acontecimentos revelam é que o movimento em curso é, na verdade, uma espécie de “efeito dominó”. Uma derrocada espetacular da dominação francesa no continente africano. A França é um país imperialista que está muito enfraquecido, ao mesmo tempo em que a Rússia apareceu desafiando abertamente o imperialismo e tem sido extremamente bem sucedida. Com a debilidade cada vez mais evidente dos opressores, a tendência em todo o mundo é de uma rebelião completa contra a ordem mundial.
O enfraquecimento do imperialismo é o fator fundamental para a existência de todos esses golpes. Em todos os países africanos que se rebelaram, havia governos extremamente autoritários e corruptos, mas que conseguiam manter a sua dominação porque eram temidos. Ali Bongo, por exemplo, era tido como “o homem de Obama na África” – isto é. uma pessoa ligada diretamente ao regime mais poderoso do mundo. Desafiar sua autoridade seria o mesmo que comprar uma briga com a OTAN, com a CIA e com o exército norte-americano.
Nos últimos meses, novos acontecimentos mostraram que essa onda se mantém, e com cada vez mais intensidade. No Senegal, a crise do regime era tão grande que ele foi forçado a aceitar a vitória eleitoral da oposição – que, por sua vez, está cancelando todos os contratos com os franceses. No Chade, uma reviravolta levou o governo do país a retirar as tropas francesas de seu território. A mesma medida foi anunciada pela Costa do Marfim.
Com o imperialismo enfraquecido, o poder de seus fantoches na África também fica profundamente debilitado. E na medida em que os governantes vão sendo, um a um, derrubados, os militares nacionalistas vão mostrando aos povos oprimidos que é possível vencer a ditadura dos países imperialistas.
Compreender o processo de rebelião das forças nacionalistas africanas contra o imperialismo francês é uma questão decisiva para se compreender as lutas que estão sendo travadas no dia de hoje. Este será um dos temas da 52ª Universidade de Férias do Partido da Causa Operária (PCO), que se inicia no próximo dia 25, tendo como tema central A crise do imperialismo: elementos fundamentais da crise mundial.
Entre os temas explorados, estarão a derrota dos EUA no Afeganistão, os movimentos de resistência na África, o fortalecimento do bloco anti-imperialista liderado por Rússia, China e Irã, a instrumentalização da COP29 pelo imperialismo sob o pretexto do “desenvolvimento sustentável” e a intensificação da escalada militar da OTAN e as respostas contundentes de potências como Rússia e China.
Para quem deseja compreender os desafios políticos do nosso tempo, o papel do Brasil no cenário internacional e se preparar para atuar de forma decisiva na luta revolucionária, a Universidade de Férias é uma oportunidade única. Inscreva-se agora pelas redes do PCO, junto aos militantes conhecidos ou então nesse link, direto com o sítio da Universidade de Férias e garanta já sua participação.