A fase atual das negociações de cessar-fogo na Faixa de Gaza demonstra, com clareza, o peso determinante da atuação da resistência palestina. Longe de ser resultado da “boa vontade” de “Israel” ou das manobras diplomáticas das potências imperialistas, a reconfiguração dos termos em discussão se deve exclusivamente à capacidade de combate dos grupos de resistência, com destaque para o Hamas.
Segundo o analista Hani al-Dali, especialista em assuntos da resistência e entrevistado pela rede Al Mayadeen, foi a firmeza e a continuidade das operações militares contra as tropas de ocupação que forçaram “Israel” a rever suas exigências. A proposta inicial israelense previa uma “retirada parcial” da Faixa de Gaza, mantendo tropas em regiões estratégicas e impondo um corredor de segurança militarizado. Esse plano, amplamente rejeitado pela resistência, sofreu abalos diante das derrotas acumuladas pelas forças de ocupação.
Al-Dali aponta como exemplo emblemático a cena amplamente divulgada de um combatente da resistência instalando um explosivo dentro de um tanque israelense. A imagem, mais do que simbólica, teve impacto direto sobre a moral das tropas sionistas e sobre a avaliação da própria cúpula militar de que os objetivos estratégicos de “Israel” não poderão ser alcançados em Gaza. “As operações de alto impacto têm demonstrado a incapacidade do exército de sustentar sua ofensiva, pressionando o comando político a reconsiderar suas metas”, afirma o analista.
O colapso moral das tropas também contribuiu para modificar a postura israelense nas mesas de negociação. Diante da impossibilidade de impor suas condições no terreno, “Israel” passou a aceitar discutir alterações em seus mapas de retirada — mapas esses que previam não só a manutenção da ocupação militar, como também o deslocamento forçado dos moradores de Rafá, seja para o norte da Faixa ou para fora do território palestino. Essas propostas foram duramente rechaçadas pelo Hamas, que declarou de forma categórica que não aceita qualquer acordo que envolva a permanência de tropas sionistas em solo gazaui ou a expulsão da população civil.
Al-Dali ressalta ainda que a resistência palestina fixou três condições inegociáveis para qualquer tratativa envolvendo os prisioneiros de guerra israelenses: retirada completa das forças de ocupação de toda a Faixa de Gaza, entrada irrestrita de ajuda humanitária conforme o protocolo acertado em janeiro de 2025, e garantias concretas de que não haverá retomada dos ataques após um cessar-fogo inicial de sessenta dias. Sem o cumprimento integral desses pontos, a resistência se recusa a discutir qualquer nova fase das negociações.
As informações sobre os mapas vazados nas negociações geraram desconforto em “Israel” e entre seus principais aliados, como os Estados Unidos, ao revelar que Netaniahu pretendia manter o controle territorial mesmo com um cessar-fogo em curso. A tentativa do regime sionista de obter um acordo de troca de prisioneiros sem oferecer concessões reais ficou evidente para os mediadores, enfraquecendo a posição israelense nas tratativas.
Diante disso, o Hamas reafirmou que apenas o plano apresentado em 17 de janeiro serve de base legítima para qualquer acordo futuro. Essa proposta contempla a retirada total das tropas israelenses, o fim definitivo das hostilidades e a garantia da reconstrução de Gaza sem restrições.
Al-Dali conclui que, mais do que nunca, são os êxitos militares e a perseverança da resistência que estão definindo os termos políticos do cessar-fogo. A ocupação, acuada e sem perspectivas de vitória, se vê obrigada a negociar a partir de uma posição enfraquecida — resultado direto da força do povo palestino em armas.





