Palestina

Resistência exige cessar-fogo permanente e retirada de tropas

Mesmo sob bombardeios incessantes e ataques a centros de ajuda humanitária, a Resistência Palestina mantém suas exigências

As organizações da Resistência Palestina apresentaram neste sábado (31) uma proposta unificada de cessar-fogo permanente na Faixa de Gaza, exigindo a retirada total das tropas sionistas, o fim imediato da agressão militar, a reconstrução do território palestino e o retorno seguro dos deslocados. A proposta foi submetida ao Egito e ao Catar, que atuam como mediadores ao lado dos Estados Unidos, representados pelo enviado especial Steve Witkoff, sob a coordenação direta do presidente Donald Trump.

O documento entregue pelas organizações propõe um cessar-fogo de 60 dias, com cronograma escalonado de troca de prisioneiros e reconstrução da Faixa de Gaza. Durante esse período, o governo dos Estados Unidos atuaria como garantidor da execução do acordo por parte da entidade sionista.

Proposta detalhada da resistência

A proposta entregue pelas forças da resistência inclui os seguintes pontos:

  • Cessar-fogo imediato, com suspensão total das operações militares por parte do Exército sionista;
  • Libertação de dez prisioneiros de guerra israelenses vivos, em três etapas: quatro no primeiro dia, dois no 30º dia e quatro no 60º;
  • Devolução dos corpos de dezoito prisioneiros israelenses, também escalonada: seis corpos no 10º dia, seis no 30º e seis no 50º;
  • Libertação de prisioneiros palestinos, em número a ser acordado com os mediadores internacionais;
  • Entrada irrestrita de ajuda humanitária, conforme protocolo de 19 de janeiro de 2025;
  • Reconstrução das infraestruturas essenciais da Faixa de Gaza, incluindo hospitais, escolas, panificadoras, redes de água e esgoto, eletricidade, telecomunicações e estradas;
  • Retomada das atividades comerciais e reabertura da passagem de Rafá para trânsito de civis;
  • Plano de reconstrução de 3 a 5 anos, supervisionado por Egito, Catar e ONU;
  • Retirada das forças sionistas para as posições anteriores a 2 de março de 2025;
  • Suspensão das operações aéreas sionistas, inclusive de reconhecimento, por 10 horas diárias, ampliadas para 12 horas nos dias de troca de prisioneiros.

A proposta também prevê que a administração de Gaza durante o período de transição fique sob responsabilidade de um comitê tecnocrático. As negociações políticas subsequentes devem tratar da libertação de todos os prisioneiros de guerra restantes, do estabelecimento de uma trégua de 5 a 7 anos e da retirada completa das forças sionistas.

Declaração oficial do Hamas

O Hamas publicou nota oficial sobre a proposta:

“Em nome de Alá, o Clemente, o Misericordioso

Após uma rodada de consultas nacionais, e a partir de nossa profunda responsabilidade com nosso povo e seu sofrimento, o Movimento de Resistência Islâmica “Hamas” entregou hoje sua resposta à mais recente proposta do enviado norte-americano Steve Witkoff aos mediadores.

Essa resposta visa alcançar um cessar-fogo permanente, uma retirada abrangente da Faixa de Gaza e garantir o fluxo de ajuda ao nosso povo e suas famílias no território.

Como parte desse acordo, dez prisioneiros de guerra israelenses vivos mantidos pela resistência serão libertados, juntamente com a entrega dos corpos de dezoito outros, em troca da libertação de um número acordado de prisioneiros palestinos.

O Movimento de Resistência Islâmica – Hamas

Sábado: 4 Dhu al-Hijjah 1446 AH

Correspondente a: 31 de maio de 2025 EC”

Segundo um dirigente do Hamas ouvido pela emissora libanesa Al Mayadeen, a proposta inclui cláusulas específicas sobre os canais de entrada de ajuda humanitária e a administração civil de Gaza. Ele afirmou que a iniciativa conta com o apoio das demais organizações da resistência e reflete uma posição unificada contra a ofensiva sionista.

Rejeição das propostas anteriores

No mesmo dia, os grupos da Resistência Palestina divulgaram uma nota conjunta à população, na qual reafirmam o compromisso com a luta e denunciam que nenhuma das propostas anteriores visava pôr fim à agressão. Segundo o comunicado, todas as tentativas anteriores buscavam legitimar a matança, obrigando o povo palestino a aceitar a ocupação e a renúncia ao seu direito à autodefesa.

“Grupos da Resistência Palestina:

Ao nosso grande povo…

Aos mais honrados, puros e leais da humanidade…

A paz esteja convosco, ó nobres…

Desde o primeiro dia da agressão até este momento, nenhuma proposta nos foi apresentada que colocasse fim ao genocídio cometido contra nosso povo na Faixa de Gaza. Toda proposta apresentada permitiu que a máquina de matar continuasse, exigindo que nosso povo se rendesse, sendo despojado de seu direito básico de se defender e preservar sua dignidade.

Mesmo assim, a liderança da resistência engajou-se com todas as propostas, inclusive o acordo de 19 de janeiro, que foi traído pela ocupação com a retomada do massacre contra nosso povo.

Não fechamos as portas a nenhum esforço que vise cessar a agressão e proteger o sangue de nosso povo. Ao contrário, trabalhamos seriamente por uma fórmula que preserve o direito à vida e à dignidade de nosso povo, permita o fluxo irrestrito de ajuda humanitária, assegure a reconstrução do que a ocupação destruiu e a retirada do exército inimigo da Faixa de Gaza — para que cada deslocado possa retornar à sua casa e terra, e o sofrimento de nosso povo possa enfim cessar.

Trabalhamos numa proposta que detenha a fome, forneça abrigo, ponha fim ao genocídio e prepare o caminho para uma liderança aceitável que administre os assuntos da população e garanta estabilidade — assegurando verdadeira calma no período da trégua e oferecendo ao nosso povo um sopro de esperança.

Continuaremos a nos empenhar, com firmeza inabalável, para alcançar tudo que preserve a dignidade, humanidade e futuro de nosso povo.

Grupos da Resistência Palestina

Sábado, 4 Dhul-Hijjah 1446 AH — Correspondente a 31 de maio de 2025”

Reações

O governo dos Estados Unidos confirmou que a proposta da Resistência foi recebida e afirmou que Trump pretende anunciá-la oficialmente caso haja concordância dos dois lados. A Casa Branca indicou que a proposta teve sinal verde por parte da entidade sionista, mas o Hamas e outras organizações afirmam que nenhuma das propostas anteriores atendeu às exigências mínimas de cessar-fogo e retirada das tropas.

O dirigente do Hamas, Basem Naim, afirmou à agência britânica Reuters que a resposta israelense à proposta norte-americana foi avaliada como insuficiente e não corresponde às “demandas justas e legítimas” do povo palestino.

Enquanto isso, genocídio continua…

Enquanto a resistência palestina entregava aos mediadores uma proposta formal para cessar-fogo permanente, a entidade sionista intensificava os ataques contra a população civil em toda a Faixa de Gaza, sobretudo na região de Khan Younis. Entre a noite de 30 de maio e a noite de 31 de maio, pelo menos 46 palestinos foram assassinados em uma nova série de bombardeios, disparos de artilharia e ataques aéreos, que atingiram bairros residenciais, tendas de deslocados e até pessoas que buscavam ajuda humanitária.

No período entre 20h e meia-noite de 30 de maio, as Forças de Ocupação bombardearam massivamente o norte da Faixa de Gaza com sinalizadores e ataques aéreos. Um míssil atingiu a Torre 8, na Cidade de Gaza, enquanto outras ofensivas atingiram Jabalia e Khan Younis. Em Beit Lahia, foram registrados bombardeios e demolições de residências, com diversos imóveis destruídos. No leste de Khan Younis, tanques sionistas avançaram até a área próxima ao Hospital Europeu.

Nas horas seguintes, entre meia-noite e 6h da manhã, novos bombardeios de artilharia atingiram as regiões de Jabalia, Tuffah e Shuja’iyya, além de Khan Younis. Relatos locais descrevem o bombardeio em Khan Younis como “histérico”, com disparos contínuos na parte leste da cidade, no bairro de Zaytoun, e na Cidade de Gaza. As forças sionistas também atacaram o campo de refugiados de Bureij, com novas explosões registradas no leste de Khan Younis.

Entre 6h e meio-dia do dia 31, o bombardeio não cessou. Houve ataque constante contra o norte e o leste da Faixa de Gaza, resultando na morte de dois palestinos no leste de Khan Younis. Em Rafá, soldados sionistas abriram fogo contra civis que tentavam acessar um centro de distribuição de ajuda humanitária, assassinando quatro pessoas. Em Deir al-Balah, bombardeios foram registrados, enquanto Khan Younis seguia como alvo principal: foram intensificados os disparos contra o sul, o norte e o noroeste da cidade. Um palestino foi morto no centro da cidade, e as forças da ocupação avançaram sobre Al-Zana, no leste, com forte cobertura de fogo. No sudeste de Khan Younis, o avanço foi descrito como “intenso”, com quatro mortos apenas nessa região. Ainda na manhã, um ataque aéreo matou mais um civil em Deir al-Balah.

No período entre meio-dia e 18h, os bombardeios continuaram em várias frentes. Um veículo aéreo não tripulado (VANT) atingiu um veículo no bairro de Al-Daraj, na Cidade de Gaza, matando cinco pessoas. Em Khan Younis, ataques aéreos e bombardeios destruíram dezenas de casas. Um helicóptero disparou contra uma tenda em Mawasi, matando um civil e ferindo outros três. Repetidos ataques aéreos foram registrados na Cidade de Gaza e no leste da Faixa, com destruição total de edifícios residenciais. Em Jabalia, uma casa foi bombardeada, com mais um morto confirmado. Khan Younis voltou a ser atingida por duas investidas de mísseis. No noroeste da Faixa, prédios inteiros foram bombardeados. Outro VANT atacou uma tenda em Mawasi, matando seis civis. Dois corpos também foram recuperados em Khan Younis, somando-se à longa lista de mortos do dia.

Por fim, entre 18h e 19h, novos bombardeios atingiram Jabalia, o noroeste da Faixa e a Cidade de Gaza. Um prédio de cinco andares pertencente à família Abu Muammar foi bombardeado no leste de Khan Younis.

No total, pelo menos 46 palestinos foram mortos em apenas 24 horas, sendo a maioria em Khan Younis, cidade que tem sido o principal alvo da ofensiva sionista desde o início da escalada. As forças de ocupação demonstram, mais uma vez, absoluto desprezo por qualquer proposta de cessar-fogo ou resolução diplomática, insistindo na destruição sistemática da Faixa de Gaza e na perpetuação do genocídio contra o povo palestino.

Paralelamente aos ataques armados, o chamado “mecanismo de distribuição de ajuda” imposto por “Israel” com apoio direto dos Estados Unidos aumentou a contagem de mortos. Segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, 17 palestinos foram assassinados e 86 ficaram feridos nos locais definidos pela entidade sionista e o governo norte-americano como “zonas seguras para distribuição de ajuda”. Outros cinco estão desaparecidos.

A distribuição ocorre por meio de uma entidade chamada Gaza Humanitarian Relief Foundation, criada com apoio direto de “Israel” e dos EUA, rejeitada pela ONU e sem qualquer fiscalização de organismos internacionais. Desde 27 de maio, essa fundação realiza entregas unilaterais de alimentos em áreas desabitadas e isoladas no sul da Faixa, longe das regiões mais atingidas pela fome, como o norte de Gaza. Na prática, o que se apresenta como ajuda humanitária tornou-se mais uma tática de extermínio: os locais de entrega têm sido constantemente alvos de ataques sionistas.

O Ministério informou que uma pessoa foi assassinada na quinta-feira e outras cinco na sexta-feira, nos arredores de centros de distribuição estabelecidos por essa fundação. As cinco pessoas desaparecidas estavam no centro de distribuição de Rafá, ao sul da Faixa.

… mas a resistência também

Apesar da brutalidade da ofensiva sionista, a Resistência Palestina segue firme em sua atuação militar contra a ocupação. No sábado (31), as Brigadas Izz al-Din al-Qassam, braço armado do Hamas, anunciaram que realizaram uma emboscada bem-sucedida contra uma unidade de infantaria sionista na região de Al-Atatra, em Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza. Segundo o comunicado, os combatentes retornaram da linha de frente confirmando que haviam atraído os soldados inimigos para uma armadilha cuidadosamente preparada, atacando-os de curta distância com armamento leve. A operação, ocorrida no dia 27 de maio, resultou em baixas confirmadas entre as forças invasoras.

No mesmo dia, as Brigadas Al-Qassam também informaram que, em coordenação com as Brigadas Al-Quds — braço militar da Jihad Islâmica —, atacaram soldados sionistas que se abrigavam dentro de uma casa na cidade de Khan Younis, no sul da Faixa. O confronto causou mortes e ferimentos nas fileiras da ocupação.

Desde que o exército sionista retomou sua campanha genocida em 18 de março, as forças da resistência têm desferido sucessivas emboscadas contra os invasores, com resultados significativos. Diversos ataques coordenados, especialmente em áreas urbanas e próximas à linha de frente, têm imposto baixas constantes às forças da ocupação.

A própria imprensa sionista confirmou novos feridos entre seus soldados. De acordo com o Jerusalem Post, um soldado foi gravemente ferido em confrontos com a resistência no norte de Gaza. Já o Times of Israel noticiou que outro militar, do 74º Batalhão da 188ª Brigada Blindada, também foi gravemente ferido no sul da Faixa. Segundo uma apuração inicial do próprio exército, o ferimento teria sido causado por “fogo amigo” — termo frequentemente usado para ocultar perdas em combate direto.

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