Uma investigação do jornal irlandês The Irish Times expôs como uma teia complexa de programas de financiamento da União Europeia canalizaram recursos significativos para entidades israelenses que desenvolvem tecnologias com potencial militar.
Esse financiamento continuou mesmo após o início da guerra de “Israel” contra Gaza, em outubro de 2023, e dos alertas da Corte Internacional de Justiça sobre um “risco plausível de genocídio”, algo que os Estados-membros da União Europeia são legalmente obrigados a prevenir segundo o direito internacional.
Um dos exemplos mais marcantes envolve a empresa israelense Xtend, que desenvolveu o sistema de veículos aéreos não tripulados (VANTs) Skylord. A empresa recebeu €50.000 do programa de pesquisa Horizon Europe em 2020 para desenvolver tecnologia de “controle intuitivo de VANTs em ambientes internos e sem GPS”.
Em agosto de 2025, o Ministério da Guerra de “Israel” anunciou um contrato multimilionário com a Xtend para fornecer milhares de VANTs FPV (first-person view) às forças terrestres israelenses. O ministério elogiou especificamente a tecnologia Skylord como “uma das mais eficazes para missões de guerra urbana, especialmente em ambientes internos e de combate próximo”.
Esse padrão vai além de uma única empresa. Entidades israelenses receberam €1,3 bilhão através do Horizon Europe entre 2014 e 2020, com outros €1,1 bilhão adicionais desde 2021.
Vários casos preocupantes surgiram em que contratantes militares israelenses receberam financiamento da União Europeia supostamente restrito a aplicações civis. A Rafael Advanced Defense Systems, empresa estatal militar israelense, recebeu €442.750 em julho de 2023 para desenvolver “vigilância de segurança subaquática” para uso civil.
No entanto, a Rafael depois publicou vídeos promocionais mostrando seu VANT Spike FireFly em imagens de vigilância em Gaza. Um vídeo mostrava o VANT rastreando e depois explodindo perto de uma pessoa em uma rua de Gaza, acompanhado do texto: “Spike FireFly identifica o alvo, rastreia e neutraliza a ameaça”.
“Israel” continua a acessar fundos de defesa da UE por canais indiretos. Em 2023, a estatal Israel Aerospace Industries adquiriu a contratante grega Intracom Defense, que permanece elegível para financiamento de projetos militares da União Europeia.
Atualmente, a Intracom lidera um projeto de desenvolvimento de drones financiado pela UE, chamado Actus, no valor de €42 milhões.
A investigação destaca o desafio das tecnologias “de uso dual”, aplicáveis tanto em campos civis quanto militares. Por meio do Conselho Europeu de Inovação (EIC), muitas empresas israelenses garantiram financiamentos substanciais, combinando subsídios e investimentos de capital.
Segundo a Autoridade de Inovação de Israel, o país está entre os cinco maiores beneficiários de subsídios do EIC. Esses pacotes podem incluir até €2,5 milhões em subsídios e €15 milhões em investimentos de capital, significando que a União Europeia possui participação acionária em algumas dessas empresas.
Empresas como a CyberRidge, que comercializa tecnologia de criptografia para fins militares, e a LightSolver, que desenvolve computação de alta velocidade para o setor aeroespacial, receberam milhões em apoio da UE.
Muitas empresas financiadas pela União Europeia têm ligações diretas com o exército israelense. Por exemplo, a CyberRidge é liderada por ex-membros da Unidade Tecnológica de Elite de “Israel”. Outras empresas colaboram diretamente com grandes contratantes militares como Rafael, Israel Aerospace Industries e Elbit, que chama seus VATNs de “a espinha dorsal das Forças de Defesa de Israel”.
A F2 Venture Capital, beneficiária de financiamento da UE via Fundo Europeu de Investimento, investiu na Regulus Cyber, empresa envolvida com todos os principais integradores militares israelenses. Segundo o The Irish Times, a F2 anunciou que os sistemas antidrone da Regulus foram usados “extensivamente” nos ataques não provocados de “Israel” contra alvos militares e nucleares iranianos em junho de 2025.
A investigação também revelou o financiamento europeu a instituições com laços com assentamentos ilegais. O Banco Europeu de Investimento concedeu €846 milhões em empréstimos ao Bank Leumi e à construtora Electra, ambos listados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU por facilitarem assentamentos israelenses.
O Fundo de Pensão do Governo da Noruega já havia excluído ambas as empresas devido ao “risco inaceitável” de que contribuam para “graves violações dos direitos individuais em situações de guerra ou conflito”.
Em junho de 2025, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs alterar as regras para permitir que o EIC financie fins militares, afirmando que “projetos de uso dual muitas vezes não podem ser executados em plataformas civis. Vamos mudar isso.”
Entretanto, em julho de 2025, a Comissão propôs excluir empresas israelenses de futuros financiamentos do EIC devido à falta de acesso suficiente de ajuda humanitária a Gaza. Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia estão atualmente debatendo a proposta.
