Na noite desta segunda-feira (8), um grupo de residentes decidiu fazer uma barricada na entrada da Residência Universitária da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em protesto contra os ataques da Pró-Reitoria de Assistência e Promoção ao Estudante (PRAPE) aos estudantes. No centro das reivindicações, estavam duas questões centrais:
- O aumento de 50% de todas as bolsas
- O cancelamento de uma cláusula que limitava o valor do benefício que seria pago aos residentes durante o período em que o Restaurante Universitário tivesse fechado
A barricada foi uma mobilização espontânea, que ganhou força e foi posta em prática em menos de 24 horas. Na manhã seguinte, na terça-feira (9), a mobilização conseguiu chamar a atenção da grande imprensa, que veio cobrir a manifestação. Representantes da PRAPE e da Reitoria também vieram conversar com os residentes.
Em um primeiro momento, os representantes da instituição buscaram tratar a mobilização com simpatia, chegando até a prometer que a Reitora, a professora Terezinha Domiciano, viria pessoalmente à Residência conversar com os estudantes.
A partir das 14h da terça-feira (9), a relação entre os estudantes e a instituição começou a se deteriorar. Ao contrário do prometido, a Reitoria passou a exigir que uma comissão de apenas três estudantes fossem a seu encontro. O objetivo era fazer uma reunião com poucos discentes, em vez de uma audiência com o conjunto dos moradores da Residência.
Acertadamente, os residentes bateram o pé e se negaram a contribuir com a manobra vil da Reitoria. Os estudantes permaneceram na barricada, exigindo as suas reivindicações.
Um pequeno grupo de alunos, no entanto, se encontrou com a Reitoria, traindo vergonhosamente os estudantes. Estes alunos, ligados à Coordenação da Residência Universitária, sob gestão conhecida como “Metamorfose”, revelariam, horas após, que eram contra a continuidade da barricada. Sua presença na reunião com a Reitoria, portanto, além de ter sido ilegítima, pois não foi autorizada pelos manifestantes, se prestou a um serviço deplorável, de negociar o fim do protesto. O grupo atuou como se fosse representante da Reitoria, e não dos estudantes residentes universitários.
Ao final da tarde, representantes da PRAPE e da Reitoria vieram, sem aviso prévio, à barricada, em um momento em que muitos residentes já haviam deixado o local em virtude do horário do jantar. Na visita, os representantes afirmaram que, devido à mobilização, a Reitoria decidiu conceder um piso de R$540,00 do benefício de recesso aos residentes. Eles afirmaram ainda que seria impossível conceder o valor total a todos os residentes, pois o orçamento já estaria fechado.
Os representantes da Reitoria e da PRAPE ainda prometeram quatro vagas no Conselho da PRAPE para os residentes, e que, no início de 2026, buscariam incluir no orçamento da UFPB o aumento das bolsas.
A concessão do piso foi uma grande vitória dos estudantes. Apesar da falta de vontade da Reitoria em estabelecer o piso, a disposição dos residentes de manter o protesto, inclusive obstruindo uma das entradas do campus, forçou a instituição a adotar a medida.
No mesmo momento em que os representantes da Reitoria e da PRAPE vieram à RUMF, duas situações já demonstraram o interesse da instituição em esmagar o protesto dos estudantes, mesmo sem ter concedido a totalidade das reivindicações.
A primeira situação ocorreu quando uma das representantes ameaçou os residentes, alegando que iria investigá-los. Qual seria o sentido de falar em investigação de estudantes, no momento em que se discute as suas reivindicações, se não intimidar aqueles que estão lutando por direitos fundamentais?
A segunda situação ocorreu quando os representantes da PRAPE e da Reitoria começaram a pressionar os residentes que estavam na barricada a desfazer o protesto. Eles queriam que os estudantes atropelassem a democracia do movimento e, sem fazer qualquer assembleia, retirassem a barricada.
Os manifestantes não reagiram diante das intimidações. Os residentes se recusaram a desfazer a barricada e marcaram uma assembleia para a noite do mesmo dia. Na assembleia, os residentes aprovaram manter a barricada até a Reitoria publicar, em nota oficial, tudo o que havia prometido no dia, bem como a lista dos residentes que receberiam o valor mínimo do benefício. Também foi aprovado manter a barricada até a Reitoria se manifestar sobre o boato de que um funcionário havia sido demitido por supostamente ajudar os estudantes. Apenas a Coordenação da Residência Universitária e outros poucos residentes ficaram contra as propostas.
Na manhã da quarta-feira (10), a senhora Georgia Dantas Macedo, pró-reitora da PRAPE, veio até o local da barricada, tentando convencer os estudantes de remover os entulhos. Durante sua visita, ela mentiu, afirmando que a PRAPE só poderia pagar o benefício após a desobstrução do campus.
No mesmo dia, começou a surgir uma campanha de desinformação entre os residentes, segundo a qual a barricada estaria impedindo que o benefício fosse pago. Qualquer pessoa que tenha participado de uma manifestação como essa será capaz de fazer a ligação entre um acontecimento e o outro. Embora falada pela boca dos estudantes, essa mentira partiu da Reitoria.
O Comando Unificado de Luta Estudantil da UFPB afirmou que irá investigar se há estudantes que receberam algum tipo de benesse para defender publicamente as mentiras difundidas pela Reitoria e se comprometeu de expor publicamente aqueles que, para satisfazer seus próprios interesses, procurou prostituir o movimento mais combativo da UFPB nos últimos anos.
Também surgiu, entre os estudantes, uma campanha de ataques pessoais de baixíssimo nível, revelando a existência de um setor que não buscava a unidade na luta pelos direitos sociais dos residentes. Esse setor, assim como o citado acima, atuou, consciente ou inconscientemente, a serviço da Reitoria para impedir o progresso do movimento.
A “prova dos nove” de que a Reitoria estava tentando se infiltrar no movimento estudantil veio na tarde da mesma quarta-feira (10), quando a senhora Georgia Dantas Macedo, chefe da PRAPE, invadiu uma assembleia dos residentes que ocorria em meio à barricada. Mesmo informada de que sua presença não era bem-vinda, a Pró-Reitora permaneceu na assembleia, chegando a bater boca com os residentes, buscando atrapalhar a assembleia da qual ela não tinha autoridade para decidir nada.
Diante da resistência dos estudantes, Geórgia deixou o local, não sem antes tomar a caixa de som que estava sendo utilizada pelos residentes.
Na quinta-feira (11), a Reitoria emitiu, enfim, a lista de residentes que iriam receber o benefício do período de recesso, bem como os respectivos valores com os quais seriam contemplados. O resultado foi pior do que o pior pesadelo de qualquer residente.
De um total de 594 alunos do campus I contemplados com o benefício, apenas três receberão o valor integral. A grande maioria — 314 — receberão menos de R$6,50 por refeição.
Entre os residentes, apenas 148 foram contemplados com o benefício. A maioria ficou de fora por critérios burocráticos absurdos, como não ter preenchido um formulário cujo prazo era inferior a cinco dias. Desses 148, um total de 128 receberá menos de R$13 por refeição.
Aqueles que tiveram acesso à lista se tornaram ainda mais dispostos. Muitos, no entanto, ainda não foram capazes de compreender exatamente o ataque sem precedentes da PRAPE, devido à enxurrada de mentiras que vêm sendo contadas para desmoralizar o movimento.
A divulgação da lista, assim, criou um cenário complexo. Por um lado, aumentou a revolta dos residentes envolvidos e atraiu outros alunos que ainda não haviam percebido a gravidade da situação. Por outro, confortou alguns alunos que receberam o benefício, mesmo que com valor reduzido.
Diante da revolta causada pela divulgação da lista, os estudantes deverão discutir na manhã desta sexta-feira (13) os próximos passos da luta.





