Um relatório divulgado pela rede Naccom, que reúne mais de cem organizações de apoio a refugiados e migrantes no Reino Unido, aponta que o país vive uma crise aguda de falta de moradia entre imigrantes, em particular entre aqueles que acabaram de obter reconhecimento como refugiados ou saíram de centros de acolhimento.
De acordo com os dados, entre 2024 e 2025, 3.450 pessoas buscaram algum tipo de acomodação junto a entidades da rede e não conseguiram abrigo. No mesmo período, 4.434 pessoas foram alojadas, somando 672.807 noites de hospedagem.
No momento em que recorreram às entidades, 829 pessoas se encontravam dormindo nas ruas, cifra superior à registrada no biênio 2022-2023. Destas, 2.008 eram refugiados já reconhecidos, o que representa um aumento de 106% em relação a dois anos antes.
A diretora da Naccom, Bridget Young, afirma que os números são resultado de um “ambiente hostil” criado por mudanças repetidas nas regras de acolhimento, na documentação eletrônicam com o sistema de eVisas, e nos prazos concedidos para que os refugiados encontrem moradia após deixarem os alojamentos oficiais.
Um dos pontos centrais do problema é o chamado período de move-on, prazo que o governo concede para que a pessoa deixe as acomodações financiadas pelo Estado após a concessão do status de refugiado. Um programa iniciado em dezembro de 2024 havia ampliado esse período de 28 para 56 dias para grupos considerados vulneráveis, como famílias, pessoas doentes e idosos. Esse piloto, no entanto, foi encerrado em setembro de 2025, e o prazo voltou a ser de 28 dias para adultos solteiros.
Documentos internos indicam que o governo pretende reduzir novamente o tempo também para grupos vulneráveis, pressionando ainda mais quem depende de apoio para encontrar trabalho e moradia.
Organizações que atuam na rede relatam que 28 dias são insuficientes para que a maioria das pessoas consiga emprego, reúna recursos para depósitos e alugueis e consiga transitar por toda a burocracia local, sobretudo com barreiras de idioma, falta de documentação anterior e discriminação.
O governo britânico afirma que manterá, “até o fim do ano”, o prazo ampliado para famílias e vulneráveis e diz atuar em parceria com autoridades locais e entidades sociais. Na prática, o crescimento rápido do número de pessoas em situação de rua indica que a rede de abrigo e as políticas de assistência não acompanham o volume de refugiados e migrantes que atravessam o sistema.


