Na última sexta-feira (17), a Suprema Corte dos Estados Unidos manteve sua decisão de banir o TikTok, rede social da empresa chinesa Byte Dance. Para saber mais detalhes sobre os motivos que levaram ao banimento, relacionados ao controle imperialista das redes de comunicação, leia esta matéria publicada ontem neste diário. Os mais de 170 milhões de usuários norte-americanos da rede social, em sua maioria jovens, viram-se órfãos de seu passatempo favorito (para muitos um meio de sustento) e buscaram plataforma alternativa apenas para encontrarem outra solução chinesa, o RedNote.
No lugar de dirigirem-se ao X ou ao Facebook e Instagram, todas plataformas de monopólios norte-americanos, os “refugiados do TikTok” (como se autointitularam os antigos usuários da plataforma) buscaram uma rede social que lhes oferecesse a mesma liberdade que a anterior, sem as ferramentas de controle das demais que vão desde o shadow banning ao bloqueio de postagens consideradas impróprias. É curioso que a solução tenha sido encontrada numa plataforma da China, país que a imprensa norte-americana acusa de ditadura autocrática, frequentemente criticando suas supostas políticas de censura e controle social.
Ao contrário do TikTok, que possuía servidores diferentes em regiões do mundo diferentes para atender aos diversos idiomas e também às legislações locais, o RedNote opera apenas da China em inglês e mandarim. Seu aplicativo está disponível ao redor do mundo, inclusive nas lojas brasileiras, mas só funciona nos dois idiomas e todos seus servidores (e respectivas regras de negócio) encontram-se na China.
Para boa parte do público norte-americano, a descoberta de que o aplicativo chinês é menos restritivo que as plataformas de seu próprio país. Segundo a propaganda imperialista, nos Estados Unidos há uma proteção constitucional à liberdade de expressão, a Primeira Emenda constitucional, enquanto a China é uma ditadura brutal que não permite que sua população se manifeste livremente. A violação da Primeira Emenda por parte da corte constitucional e a interação sem precedentes entre norte-americanos e chineses, especialmente jovens, revelou aos primeiros o tamanho e a quantidade de mentiras a que haviam sido expostos.
O RedNote ou Xiaohongshu (pequeno livro vermelho, em português), conforme conhecido em chinês, chegou ao topo da lista de aplicativos gratuitos mais baixados na AppStore, loja de aplicativos da Apple. Em relato ao portal chinês Global Times, uma usuária norte-americana da rede, Amy, disse:
“Nosso governo difama a China, alegando que a China usará o TikTok para voltar os norte-americanos contra os EUA. Todos nós achamos isso ridículo. Então, como um protesto, e com muito humor, decidimos coletivamente nos juntar ao RedNote e voluntariamente dar nossas informações à China para mostrar ao nosso governo que não nos importamos e desafiá-los”
Outra usuária, Nina, relatou estar contente com a similaridade entre o RedNote e o TikTok. “Eu pessoalmente adoraria interagir tanto com usuários chineses como norte-americanos. Espero que a plataforma adicione uma funcionalidade de tradução embutida para os comentários”.
Parte do movimento parece ser uma provocação e uma mensagem direta às autoridades norte-americanas de que a população não está de acordo com o banimento do TikTok e que percebe o que está sendo feito como ato de censura. Optaram por voluntariamente adotar outro aplicativo chinês que estava disponível em seus dispositivos, apesar de boa parte de seus usuários se comunicarem exclusivamente em mandarim e de parte da interface da plataforma também não ter sido totalmente traduzida. É possível encontrar tutoriais em inglês sobre como utilizar o RedNote. Além disso, a migração massiva de usuários norte-americanos do TikTok provocou uma onda de comunicação sem precedentes (e sem filtros) entre pessoas da China e dos Estados Unidos, o que certamente deve preocupar aqueles que tanto trabalharam para banir a plataforma.
“Amigos que estão vindo do TikTok, eu quero dizer que vocês não são refugiados, vocês são corajosos exploradores”, disse um usuário chinês aos recém-chegados. Na era da censura das massas, tudo o que o imperialismo menos quer é que a população de seus próprios países tenha a coragem de explorar o mundo para além da propaganda de seus meios de comunicação e de suas redes sociais censuradas.