Piracicaba

Rede Globo ou PCB? Difícil dizer

Partido que se diz "comunista" e "revolucionário" não passa de uma agremiação que defende o chamado senso comum

O núcleo do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na cidade de Piracicaba (SP) publicou em suas redes sociais uma nota de repúdio contra o Partido da Causa Operária (PCO) devido a uma foto publicada por um vereador bolsonarista da mesma cidade.

Antes de examinar o conteúdo da nota, convidamos o leitor a refletir sobre o que foi dito acima. O núcleo municipal de um partido decidiu repudiar o PCO por uma publicação feita não por ele, mas por um vereador de outro partido. Ainda que o próprio PCO tivesse publicado a foto, ainda caberia a pergunta: por que exatamente o PCB estaria interessado em repudiar – e não simplesmente criticar – um partido que não faz parte de governo algum e que agiu representando ninguém a não ser ele próprio?

O debate sobre o conteúdo ajudará a esclarecer os métodos esquisitos do PCB.

O pretexto para a nota de repúdio apresentado pelo PCB é a publicação de uma foto do vereador Renan Paes (PL) ao lado de Lisia Sakai, destacada militante do PCO na cidade de Piracicaba. Na legenda da foto, o vereador escreve:

“Hoje fui visitado por integrantes do PCO. Um partido raiz contra a ditadura do STF, são armamentistas e de verdade! Fiz questão de comprar os informativos deles.”

O PCB procura apresentar a publicação como se fosse uma traição do PCO ao conjunto da esquerda brasileira. O problema é que, se vender um jornal para um vereador for proibido, então, para o PCB, a esquerda ter um jornal seria uma espécie de pecado. Afinal, só é possível haver uma imprensa assim: escreve-se o jornal, publica-se o jornal e vende-se o jornal.

É por ter essa mentalidade, de que o jornal de um partido de esquerda só pode ser compartilhado entre aqueles que têm a mesma opinião que os seus editores, que o PCB não tem um jornal. É uma organização que vive de sua propaganda na Internet e, por isso, não tem influência alguma sobre a situação política nacional.

O chilique do PCB também revela outro dado relevante sobre a própria organização. Para a agremiação, é inconcebível a direita ler um jornal da esquerda porque o PCB acha impossível influenciar alguém do campo político oposto. Como o PCB não tem programa, também não tem uma política capaz de atrair pessoas e organizações para as suas posições. O PCB, como um típico partido da esquerda pequeno-burguesa, é uma biruta: vira sempre para o lado que sopra o senso-comum.

A própria fala do vereador do PL dá conta de expor essa diferença. Renan Paes se interessou pela publicação do PCO porque, ao contrário das demais organizações de esquerda, incluindo o próprio PCB, é contra a ditadura do Supremo Tribunal Federal (STF). Isto é, a foto de Paes com Lisia Sakai só existe porque o vereador é uma pessoa que está interessada no programa do Partido, e não porque o PCO tenha demonstrado qualquer simpatia com o programa da extrema direita, que sequer existe.

Dito isto acerca da publicação de Renan Paes, vejamos agora a tal nota de repúdio.

“O Partido da Causa Operária (PCO) mais uma vez escancara sua verdadeira face: uma organização que se diz de esquerda, mas que não perde a chance de se aliar à extrema direita para ganhar visibilidade”, inicia o texto. O motivo da foto inusitada já foi exposto: o programa do PCO, e não do PL, fez com que o vereador se interessasse. Nada tem a ver com visibilidade.

O recalque do PCB com o fato de que o PCO “viralize” ao assumir posições polêmicas, no entanto, também diz muito sobre a organização. O PCB acha estranho um partido de esquerda ter opiniões polêmicas porque, em sua visão, a esquerda deve ser o partido do senso comum. Isto é, o partido das opiniões da rede Globo, da Folha de S.Paulo e das universidades corrompidas por Organizações Não Governamentais (ONGs) financiadas pelo imperialismo norte-americano.

A nota segue, dizendo:

“Recentemente, postaram uma foto ao lado de um representante da ala fascista da política local, provando de vez sua falta de compromisso com a luta popular.”

Já explicamos por que o PCB acha que vender um jornal é “falta de compromisso”. Afinal, no mundo das maravilhas dos pequeno-burgueses do PCB, um partido se constrói com meia dúzia de sabichões dando palpite na Internet. Aproveitamos a declaração, contudo, para destacar mais uma questão: a “falta de compromisso” a que o PCB se refere é a publicação de um jornal denunciando o mecanismo da dívida pública. Perguntamos: o que o PCB faz para denunciar esse crime contra o povo? O silêncio é a melhor resposta.

O parágrafo seguinte revelará porque o PCB é tão apegado ao senso comum. Diz a nota:

“Esse mesmo PCO, que defende armamento irrestrito nos moldes americanos, faz discursos rasos sobre casos de violência contra mulheres e agora ataca o STF por punir golpistas, não está presente nas favelas, nos sindicatos ou nos movimentos sociais. Aparecem apenas quando as lutas já estão organizadas, tentando tirar proveito de quem realmente constrói resistência.”

O PCB se incomoda com o PCO porque, na medida em que não tem programa, abraça como seu o programa da classe dominante. Se o PCB é contra o armamento irrestrito, é a favor de quê? De, na melhor das hipóteses, um armamento “restrito” – isto é, burocratizado. Isto é, a favor de que as armas sigam sob controle do Estado – e, portanto, da burguesia. O PCB, que se diz comunista e revolucionário, não consegue sustentar sequer uma posição democrática acerca do armamento. Fica a pergunta: que “revolução” os “comunistas” planejam fazer munidos de flores em vez de armas?

Fazer “discursos rasos sobre casos de violência contra mulheres” é uma acusação que é impossível de se compreender o que os autores querem dizer. No entanto, considerando que o PCB é mais um partido que tem como programa o senso comum da esquerda pequeno-burguesa, entendemos que a acusação é uma defesa do identitarismo. Isto é, que a luta da mulher seria não a luta pela destruição do Estado burguês, mas sim conceder a este Estado poderes para reprimir ainda mais a população.

A calúnia em relação ao STF é a mais ridícula de todas. O Partido simplesmente se mantém coerente e sustenta a posição que a esquerda, por covardia, abandonou: a de que o STF é uma burocracia que persegue os inimigos políticos do grande capital. Foi assim em 2018, com Lula, e está sendo agora com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O STF não está punindo os bolsonaristas por causa de uma “tentativa de golpe” – pois não há prova alguma de que ela tenha ocorrido. Ele está, uma vez mais, usando métodos arbitrários para modificar o regime político de acordo com os interesses dos poderosos.

É difícil saber de onde vem a ideia de que o PCO tem como política “tirar proveito de quem realmente constrói resistência”. Afinal, o PCB não constrói nada: é um partido que abomina a ideia de se ter um jornal. Mas não é só isso: as grandes lutas do último período tiveram justamente no PCO o seu grande impulsionador.

De 2014 para cá, houve quatro movimentos no País: a luta contra o golpe de 2016, a luta pela liberdade de Lula, a luta pelo Fora Bolsonaro e a defesa da resistência palestina. Em todas elas, o PCO foi o partido que tomou a iniciativa para que elas acontecessem. O PCB não apenas não participou das duas primeiras lutas, como as boicotou abertamente. Quanto ao Fora Bolsonaro, o mesmo núcleo só aderiu quando a rede Globo chamou a palavra de ordem, quase dois anos depois de o PCO já estar nas ruas defendendo essa política. Por fim, após 15 meses de guerra, o PCB foi incapaz de defender explicitamente a resistência armada palestina e ainda boicotou os dois grandes atos nacionais em defesa do povo palestino, organizados pelo PCO.

A nota segue com uma frase de efeito que não quer dizer absolutamente nada: “enquanto a classe trabalhadora enfrenta fome, desemprego e despejos, o PCO escolhe posar ao lado de inimigos do povo”. Não, PCB. Enquanto os trabalhadores enfrentam a piora nas condições de vida, o PCO está colocando na rua a campanha pelo cancelamento da dívida pública, como nem mesmo o vereador do PL conseguiu esconder. O PCO, da mesma forma, defende a exploração do petróleo da Margem Equatorial, enquanto o PCB é a favor de manter essa riqueza embaixo do solo, condenando milhões de brasileiros à miséria.

E mais frases de efeito que não explicam absolutamente nada:

“Isso não é erro, é projeto. Não compactuamos com essa postura oportunista que flerta com o fascismo.”

Vender um jornal para alguém do campo político oposto não é oportunismo. Oportunismo é a política da esquerda pequeno-burguesa de ficar a reboque da burguesia, como na defesa do desarmamento e na defesa do STF. Defender que a Polícia Militar siga armada até os dentes, mesmo matando milhares de brasileiros por ano, enquanto o povo vive desarmado, e defender que o STF persiga seus adversários políticos é não apenas “flertar com o fascismo”, mas propriamente uma política fascista.

Por falar em fascismo, chegamos à grande conclusão da nota:

“O PCB Piracicaba, talvez tarde demais, não considera mais o PCO bem-vindo nas articulações populares da cidade. Por sua má vontade de construir e total disposição para se aliar àqueles que tentaram um golpe fascista na história recente de nosso país.”

A luta popular não tem dono. E se tivesse, não seria esse dono o PCB. A ideia truculenta de que pode determinar quem é “bem-vindo” ou não, no entanto, chama muito a atenção. O PCB, afinal, acha que pode determinar quem faz parte ou não da luta popular, de acordo com seus próprios critérios do que seria correto ou não.

Essa truculência é apenas mais uma prova de que a política do PCB é baseada não em um programa revolucionário, mas no senso comum impulsionado pela burguesia. Como a burguesia apoia a política oposta ao PCO, o PCB tem a impressão de que o mundo inteiro a rejeita e que, portanto, terá força para isolar o partido.

Para azar do PCB, o mundo vai muito além do que lê na Folha de S.Paulo.

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