O rapper Nego Mancha participou, na noite da última sexta-feira (14/11), do debate 135 mortos no Alemão e na Penha: é fascismo e a volta da ditadura, realizado no Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP), em São Paulo, e denunciou a escalada da repressão policial no País. Em sua intervenção, ele relembrou a morte de seu primo, assassinado pela ROTA em 2023, e criticou as propostas de “segurança pública” apresentadas pelos partidos da esquerda pequeno-burguesa diante do agravamento da crise.
O artista afirmou que mantém o compromisso de expor o caso sempre que possível. “No dia 28 de julho de 2023, meu primo Felipe Vieira Nunes foi torturado e assassinado pela Rota na favela da Vila Baiana, no Guarujá”, declarou.
Mancha destacou que, diante da operação policial de 2023, apenas o Partido da Causa Operária (PCO) se posicionou imediatamente ao lado dos moradores. “A esquerda fala muito, mas quando o chicote estalou, quem esteve com a favela foi o PCO”, disse.
Fotos chocantes comprovam: moradores foram torturados pela ROTA
Ao comentar as declarações recentes de figuras da esquerda que defendem propostas de endurecimento da repressão sob o argumento de atender ao “medo da população”, o rapper afirmou que tais posições ignoram a realidade material da classe trabalhadora. “Falam que precisamos combater o crime porque o povo está com medo. Mas qual é a política de segurança possível no capitalismo? O pobre não tem segurança de nada”, afirmou.
Ele relatou sua própria situação como exemplo da instabilidade enfrentada pelos trabalhadores:
“Se eu perder meu emprego hoje, daqui a nove meses não sei onde vou morar, onde vou colocar meus filhos, se vou ter o que comer na semana seguinte.”
Para Nego Mancha, as declarações da esquerda pequeno-burguesa soam como se o País estivesse em situação de prosperidade. “Falam como se estivesse tudo bem, como se todo mundo viajasse para a Europa duas vezes no ano. Tenho 33 anos e não sei o que é tirar férias”, disse ao público.
“O salário mínimo é de R$1.500,00, quando deveria ser de R$8 mil. Um garoto na biqueira ganha R$1 mil por dia. Como dizer a um menino de 14 ou 15 anos que ele deve se sacrificar 10 anos para ganhar R$3 mil?”, questionou.
De acordo com o rapper, exigir “honestidade” nessas condições é ignorar a sobrevivência imediata da juventude trabalhadora. “Honestidade não enche o carrinho do mercado no fim do mês, não paga as contas”.
Confira a fala de Nego Mancha na íntegra:
“Quero fazer uma intervenção porque tenho um compromisso comigo mesmo: sempre que tiver oportunidade, falarei sobre isso. No dia 28 de julho de 2023, meu primo Felipe Vieira Nunes foi torturado e assassinado pela Rota na favela da Vila Baiana, no Guarujá. Ali começou o massacre do Guarujá, denunciado primeiramente pelo PCO.
A esquerda fala muito e diz o que quiser, mas, quando o chicote estalou, quem esteve ao lado da favela foi o PCO. Agora vejo setores da esquerda desesperados com a eleição, insistindo que é preciso ‘combater o crime’ porque a população estaria com medo, que seria necessário ter uma política de segurança. Fico imaginando qual ‘política de segurança’ pode existir no capitalismo, se o povo pobre não tem segurança alguma.
Se eu perder meu emprego hoje, daqui a nove meses não sei se terei onde morar ou onde colocar meus filhos. Não sei se terei o que comer daqui a uma semana. Quem garante que alguém não colocará um revólver na minha cara para levar meu celular?
A esquerda insiste em discutir o ‘crime’, como se nada estivesse acontecendo, como se tudo estivesse bem, como se o Brasil fosse uma maravilha, todo mundo vivendo confortavelmente e viajando para a Europa duas vezes por ano. Eu tenho 33 anos e não sei o que é tirar férias.
Quando olhamos para o país em que vivemos, vemos um salário mínimo de R$1.500,00, quando deveria ser de R$8 mil. Um jovem na biqueira ganha R$1 mil por dia. Como dizer a ele que precisa trabalhar, estudar, se sacrificar durante dez anos para ganhar R$3 mil ou R$4 mil? Muitas vezes ele tem 14, 15 ou 16 anos e não conhece ninguém que tenha passado dos 20. Como dizer que precisa ser ‘honesto’, se a honestidade não enche o carrinho do mercado no fim do mês e não paga as contas?
Se a esquerda quer realmente ter uma política de combate à violência, tenho duas propostas. A primeira: todas as pessoas desempregadas devem ser contratadas pelo Estado. A segunda: salário mínimo constitucional.
É isso, família.”





