Polêmica

Quem vive de passado é museu

A coluna de Maria Luiza Falcão Silva, publicada no Brasil 247, é um exemplo acabado do romantismo que domina parte da esquerda: transforma assistencialismo em projeto histórico

lula bahia (1)

A coluna de Maria Luiza Falcão Silva, publicada neste domingo (5) no Brasil 247 sob o título “Lula e os bons momentos das pautas sociais”, é um exemplo acabado do romantismo que hoje domina parte da esquerda pequeno-burguesa. A autora idealiza um passado que não existe mais e transforma a sobrevivência de políticas de assistência em um projeto histórico de “avanços sociais”. Mas o que há de fato é um país devastado pela política neoliberal, com salários rebaixados, trabalho informal e uma população vivendo de bicos e de programas que já não tiram ninguém da miséria.

Maria Luiza fala em “bons momentos que ainda ressoam na memória coletiva”. É verdade: o Brasil viveu um ciclo de crescimento impulsionado pelas commodities e por políticas que amenizaram a pobreza extrema. Mas isso pertence a outro tempo. O país de hoje é o resultado do golpe de 2016, das reformas trabalhista e previdenciária, do teto de gastos e da entrega do Banco Central aos banqueiros — nada disso revertido pelo atual governo. A economia segue atada ao rentismo. E o “pacto democrático” que ela exalta é o mesmo que garante aos especuladores quase metade de toda a arrecadação nacional.

A autora chega a afirmar que “a permanência de Lula é vital para que o país não volte a flertar com golpes de Estado”. A ironia é que o golpe está em curso desde 2016, e o próprio Judiciário — que ela saúda como guardião da democracia — foi um dos protagonistas. A operação Lava Jato destruiu a economia nacional; a farsa do impeachment derrubou Dilma Rousseff; e agora, o mesmo sistema judicial que prendeu Lula é usado contra Bolsonaro para reforçar seu poder político. O problema não é “flertar com golpes”, é viver sob um regime golpista permanente, sustentado pela burguesia financeira e pelo imperialismo.

Falar em “enterrar de vez as forças do ódio” é ignorar a realidade: o bolsonarismo não está morto. Ele é produto direto do golpe, da radicalização da base que esteve sob controle da direita tradicional, aquela que antes se dizia “democrática”. A burguesia não pretende restaurar o lulismo, mas construir sua “terceira via” — um Tarcísio de Freitas, um Milei brasileiro — capaz de impor, com brutalidade, aprofundar o programa fiscal que Haddad aplica hoje com verniz progressista.

A retórica dos “bons momentos” esconde o essencial: não há avanço social possível sob o domínio dos bancos. A miséria cresce, os servidores públicos são atacados pela reforma administrativa, os trabalhadores informais se multiplicam, e a classe média se afunda em dívidas. Dizer que “a memória dos bons momentos serve como guia” é acreditar que o país pode se salvar com lembranças e discursos otimistas.

O que está em jogo não é “consolidar conquistas”, mas impedir a completa destruição do que restou delas. A burguesia tolerou o PT enquanto ele administrava o regime; quando as concessões se esgotaram, deu o golpe “com o Supremo, com tudo”. Hoje, usa a credibilidade de Lula para legitimar suas próprias políticas e preparar uma nova etapa de ataques.

A esquerda precisa abandonar a nostalgia e encarar o fato: o país continua governado pelo capital financeiro. O bolsonarismo é apenas um espantalho. O verdadeiro inimigo não esteve nas ruas de 8 de janeiro, mas onde se decide quanto da riqueza nacional continuará sendo entregue aos bancos.

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