O presidente nacional do Sebrae, Décio Lima, resolveu se aventurar na história medieval para justificar sua análise sobre a barbárie capitalista moderna. No artigo Os novos senhores feudais, publicado no portal Brasil 247, ele traça um paralelo entre o feudalismo e o suposto novo regime de escravidão imposto pelos monopólios de tecnologia. Seu erro, no entanto, está em superdimensionar o poder da extrema direita e ignorar o verdadeiro problema: a crise do imperialismo, que, longe de ser resultado de uma conspiração reacionária global, é fruto da própria política dos monopólios que ele evita criticar.
Lima abraça a tese de que vivemos um retrocesso histórico rumo a um novo feudalismo, dominado pelos grandes monopólios tecnológicos, sem perceber que esse suposto “passado medieval” foi criado não pelos setores que ele denuncia, mas pela própria ditadura financeira imposta pelos democratas norte-americanos e seus aliados. Para embasar sua tese, ele aponta o crescimento de gigantes como Apple, Microsoft, Google, Amazon e Meta, mas omite o fato de que a maioria dessas empresas está firmemente alinhada ao Partido Democrata, o mesmo que comanda a ofensiva global de censura, repressão política e guerras como a da Palestina.
O autor tenta vender a ideia de que a ascensão da extrema direita representa uma mudança radical na estrutura de domínio da burguesia, sugerindo que estamos à beira de uma nova Idade das Trevas. Mas a realidade é que a extrema direita, longe de ser uma força dominante, é expressão da crise do próprio sistema imperialista. Donald Trump, que Lima e seus pares gostam de apontar como o grande vilão do mundo, é, na verdade, resultado da insatisfação popular contra as mesmas políticas que os monopólios promovem.
A vitória de Trump em 2016 e seu crescimento expressivo nas eleições de 2024 são reflexo da revolta de uma parcela da população norte-americana que, apesar de não ter poder sobre os grandes monopólios, sente na pele os efeitos devastadores da política imperialista. O que Lima chama de novo feudalismo não é nada mais do que a fase decadente do capitalismo monopolista, onde a financeirização extrema destrói a própria economia dos países centrais.
O autor erra ainda mais ao pintar as big techs como um bloco monolítico de opressão global. Das cinco empresas que ele menciona, apenas Amazon e Meta estão parcialmente alinhadas com Trump. As outras três — Apple, Microsoft e Google — continuam a serviço do Partido Democrata e de sua agenda imperialista, garantindo que o regime de censura e controle político permaneça intacto. A hipócrita preocupação com a “erosão da soberania nacional” ignora que são esses monopólios, sob direção democrata, que promovem guerras, sanções econômicas e golpes de Estado ao redor do mundo.
O segundo ponto que desmonta a tese do artigo é justamente a submissão do próprio Lima ao imperialismo. Sua indignação seletiva é a mesma da esquerda domesticada, que aceita passivamente a ditadura dos monopólios, mas entra em desespero quando a extrema direita ganha fôlego. Ele descreve um “novo feudalismo” como se fosse uma criação espontânea de capitalistas malvados e não a consequência direta do imperialismo, que não só permitiu esse avanço, mas o promoveu ativamente.
A histeria contra a extrema direita esconde o verdadeiro problema: o modelo global de domínio político e econômico, que utiliza a repressão, a censura e a destruição da soberania nacional como instrumentos de controle. O terror que Lima teme já foi instaurado, mas não pelos que ele denuncia. A ditadura dos monopólios já destruiu qualquer ilusão de “democracia” ou “soberania”. A diferença é que, enquanto esse terror é exercido por aqueles que ele apoia, tudo parece aceitável.
Se o capitalismo vive “um de seus momentos mais perversos”, como diz o artigo, é justamente porque seu setor mais forte — o imperialismo — entrou em uma fase de autofagia para tentar sobreviver. A crise não foi criada por Trump, pela extrema direita ou por um feudalismo renascido, mas pelos senhores modernos que Lima se recusa a enfrentar. O “passado medieval” que ele denuncia é apenas um espelho da própria decadência do regime que ele defende.