Vinícius Rodrigues

Militante do Partido da Causa Operária no Rio de Janeiro e membro da Direção Nacional da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR).

Coluna

Quem já viu um presídio não defende a repressão

Uma história sobre meu breve encontro com o sistema carcerário brasileiro

Depois de muito discutir com os identitários sobre o absurdo que é a repressão contra comentários racistas, tive a infelicidade de conhecer na prática a infame lei de injúria racial tão defendida pela esquerda. Vou contar então um relato sobre o meu breve encontro com o sistema prisional e a lei da injúria racial.

Recebi uma ligação de um amigo preso em uma delegacia, ele havia participado de uma briga de rua e acusado de ser racista. Foi preso em flagrante e levado pelos PMs. Lá teve direito a uma ligação, não conseguiu falar com a família, então acabou me ligando e eu, por sorte, atendi. Comecei a ligar para todos os advogados que conheço para saber o que fazer, mas dado que era domingo não parecia haver solução.

Só sabia que ele eventualmente seria mandado para o presídio de Benfica para passar por uma audiência. Lá o juiz definiria se ele ficaria preso, antes mesmo de ser julgado! Na manhã seguinte corri para a delegacia, que ficava em uma cidade há 2h de distância do Rio. Quando cheguei ele já não estava lá, havia sido mandado para Benfica. O delegado me deu um total de zero informações. Segundo ele, eu não poderia nem ter o número do inquérito. Eu estava na delegacia que meu amigo foi preso por acusação de racismo e não podia saber nada sobre ele.

Sem saber o que fazer, voltei para casa até receber orientações. No dia seguinte decidi ir para o presídio de Benfica. Na porta finalmente fui bem recebido. Por um dos agentes penitenciários ou policias? Evidente que não. Por um advogado de porta de cadeia. Ao contrário do delegado, o advogado puxou todas as informações sobre o caso em segundos. Teve acesso ao PDF do processo e me disse que com 1.500 reais conseguiria libertar o meu amigo. Esse era o preço da simpatia.

Outro advogado me perguntou qual era a acusação e após minha resposta afirmou: “é, injúria racial dá prisão mesmo”. Ele então me contou sobre uma briga de condomínio em que uma senhora chamou o vizinho de viado, e como o STF definiu que homofobia é racismo, ela foi presa. Certamente os LGBTs se emanciparam um pouco mais após essa prisão.

No fim, a família, que eu mesmo havia contatado, havia conseguido um advogado. O caso não foi tão complicado, pois não havia evidência de fala racista, o juiz também não encrencou com nada. Ainda assim, meu amigo ficou 3 dias preso por acusação de racismo. E caso ele houvesse dito algo que pode ser considerado racista, poderia ficar preso por 6 anos!

Olhando os muros da Penitenciaria de Benfica. Os carros da polícia com sua cor fosca entrando a cada 5 min. Os advogados vampirescos cobrando 1.500 reais de miseráveis do lado de fora. As mulheres chorando na porta. Só consegui pensar: como alguém de esquerda consegue defender essa monstruosidade que é o aparato de repressão do Estado? Uma pessoa que já viu um presídio de perto e mesmo assim defende mais repressão não pode ser de esquerda.

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