O artigo José Dirceu lidera atualização do programa do PT e reafirma identidade socialista do partido, publicado no Brasil247 nesta terça-feira (25) mostra que o Partido dos Trabalhadores está passando por alterações. No olho do texto se lê que “o debate interno aborda os rumos ideológicos que o PT pretende assumir nos próximos anos”.
Os posicionamentos tomados no último período indicam, principalmente, uma mudança de classe na composição da base social do PT, e estas o arrastam para posições da social-democracia, não do socialismo.
Segundo o artigo, “o ex-ministro José Dirceu passou a comandar o grupo responsável por atualizar o programa político do PT, documento que orienta a estratégia e a identidade do partido. A discussão envolve temas como transformações tecnológicas, mudanças geopolíticas e os rumos ideológicos que o PT pretende assumir nos próximos anos”.
Do ponto de visto da política internacional, o ponto positivo é o fato de José Dirceu ser contra a atitude que o governo brasileiro com relação à Venezuela. O veto à entrada do nosso país vizinho no BRICS para ele não faz sentido. A alegação de que o país não tenha transparência nas eleições deveria, então, ser utilizada contra países como o Egito.
A “novidade”
Segundo o texto, “Dirceu afirma que o desafio central é reposicionar o partido diante de um cenário mundial marcado por profundas mudanças econômicas, políticas e tecnológicas. ‘Temos de posicionar o partido para as próximas décadas e decidir como lidar com o novo poder da China, os Brics, a nova maneira de atuação dos EUA no contexto do governo Trump, as novas formas de trabalho, entre outros pontos’, diz o ex-ministro”.
Essa história de “profundas mudanças” se espalhou por praticamente toda a esquerda brasileira. Não deixa de ser estranho, pois o mundo tem mudado constantemente. Esse ar estupefato é ruim, pois se pode ficar com a impressão de que esses partidos foram pegos de surpresa, mas não é isso.
Desde pelo menos a queda do Muro de Berlim, no final de 1989, que se tem falado em “mudanças”. Todo mundo se aproveitou do fato. Desde a direita, que decretou o “fim da história”, até a maioria da esquerda que aproveitou para se desvencilhar de um socialismo ao qual nunca tinha aderido de verdade.
Atualmente, quando se fala em “mudanças”, é quase certeza de este ou aquele partido está dando uma guinada, ou pendendo para a direita.
Se em 1989 foi a queda do Muro, o que se tem agora é a urgência da “luta contra o fascismo”. Bandeira que tem servido para que grupos e partidos de esquerda estejam se unindo à direita do “campo progressista”.
PT Socialista?
Indo para o final, lê-se que “entre os temas centrais do debate estará a definição sobre a identidade ideológica do PT, se continuará como um partido socialista ou se buscará maior aproximação com a social-democracia”.
É estranho imaginar que o PT esteja em um dilema de que se deve, ou não, permanecer socialista. A política do partido é, no máximo, reformista. Não se pode esquecer que o Partido fez uma caça às bruxas e expulsou a Causa Operária de seus quadros em um processo denominado Regulamentação de Tendências.
O que mais se vê no PT atualmente são políticas para agradar uma classe média. Fala-se em “combate ao crime” e isso nunca foi um programa dos socialistas.
A verdade é que essa mudança na base social do Partido dos Trabalhadores o tem levado cada vez mais para perto da social-democracia. Na imprensa independente, na majoritariamente petista, o combate ao crime, a defesa da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal, tudo isso está na ordem do dia.
Para piorar, essa gente que defende as instituições repressivas do Estado se esquece que o próprio José Dirceu foi vítima da Polícia Federal; além de ter sido preso com a ministra do STF, Rosa Weber, confessando que não tinha provas contra ele. Então, como dar crédito a esse tribunal?
Segundo José Dirceu, “Esse é um assunto [do viés socialista] que sempre volta ao debate no PT”. E que ele particularmente não vê “razão para alteração”. É melhor mudar, ou seja, se tornar socialista, pois está longe disso. Quadros importantes do PT, como líder do partido no Senado, Jaques Wagner, que homenageou o Estado genocida de “Israel”.
No texto está escrito que “a construção do novo texto será feita por meio de encontros presenciais, atividades online e seminários temáticos. O objetivo (…) é promover um processo amplamente participativo. ‘Vai ser um documento debatido de baixo para cima’, [afirma Dirceu], indicando que a revisão buscará incorporar contribuições das diversas correntes internas da sigla”.
Isso de que a discussão será feita desde a base, ‘de baixo para cima’, é algo a se conferir, pois no PT as decisões são todas feitas por cima.
O que está dito acima fica fácil de verificar na última eleição. A escolha de Geraldo Alckmin para vice na chapa de Lula jamais teria acontecido se dependesse da aprovação da base. Os acordos com determinados partidos e políticos têm feito a classe trabalhadora se afastar do PT.
Nada indica tem indicado que haverá uma guinada para a esquerda. O Partido dos Trabalhadores precisa prestar atenção, precisa discutir a sua composição social. Se almeja o socialismo, tem de voltar os olhos para a classe trabalhadora. Recuperar aqueles que foram atraídos pelo discuso demagógico da extrema direita.
Ou o PT se volta para os trabalhadores, ou será tragado pelo definitivamente para posições cada vez mais direitistas.




